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Silicon Valley Bank: Os 3 erros fatais do SVB

20min de leitura

Misael Guedes

Misael Guedes

Redação

A Grande Queda

Na última sexta, 10, tivemos a quebra do Silicon Valley Bank (SVB), e Silicon Valley lembra algo, isso mesmo que você tá pensando, aquele Vale do Silício mesmo, onde as maiores e mais promissoras startups de tecnologia estão e se concentram.

Quando quebrou, o SVB tinha consigo o valor de US$175 bilhões em depósitos, mas esse valor já foi mais de US$400 bilhões, o que o tornava um dos maiores bancos dos EUA, não tão grande como os gigantes de ouro ok, mas maior que a grande maioria dos inúmeros bancos americanos.

Entre os efeitos dessa quebra, o mais notado e que causou a maior preocupação, principalmente no Fed, com certeza foi o desespero e a corrida aos bancos, movimento onde os investidores correm aos bancos para sacar seus depósitos, mas como sabemos, os bancos são instituições que podem trabalhar alavancados.

Ou seja, podem emprestar mais dinheiro do que realmente tem, isso é o que chamamos de Sistema de Reservas Fracionárias. Que é diferente da alavancagem tradicional, onde qualquer empresa pode usar um capital que não é seu.

Normalmente isso não é um problema, o banco usa o dinheiro do João e o da Maria para emprestar à startup do Enzo, e paga a João e Maria com o dinheiro do depósito do Léo. Enzo paga os juros do empréstimo e o banco usa o dinheiro para pagar a Léo e mais outras pessoas, esse ciclo vai se retroalimentando, claro que é mais complexo que isso mas quis explicar de uma forma bem simples pra que você entendesse e fixasse bem.

Provavelmente você já deve ter notado onde está o problema e porque o nome “corrida aos bancos” causa sérios calafrios e tremedeira no olho de qualquer instituição financeira.

O risco de todo mundo ir sacar o dinheiro ao mesmo tempo.

Aí quando você pensa que não pode ficar pior descobre que outros bancos americanos também quebraram na mesma semana.

O SVB foi o maior banco a quebrar desde 2008, na crise do subprime. Sua história começa na década de 80 e a ideia inicial era criar um banco voltado especificamente para as startups de tecnologia, os fundadores perceberam que as necessidade financeiras dessas empresas era diferentes das empresas tradicionais.

Mas se esse banco fica (ou ficava) no Vale do Silicio, terra das maiores empresas do mundo, lugar onde trilhões de dólares podem ser encontrados, como pode ter quebrado dessa forma e nessa velocidade? Como isso afeta a gente aqui no Brasil?

Tudo isso é o que você vai descobrir neste artigo, então fica comigo.

Neste artigo você verá:

  • História do Silicon Valley Bank (SVB)
  • A explosão do crescimento no meio da pandemia
  • As três falhas fatais do SVB
  • O fim do melhor pior plano do mundo.
  • O que vai acontecer a seguir?
  • Impactos no Brasil

História do Silicon Valley Bank

O Silicon Valley Bank foi fundado em 1983, em Santa Clara, Califórnia. A ideia dos fundadores de criar um banco como ele, direcionado para as startups de tecnologia, aconteceu após notarem que essas startups tinham necessidades bancárias e de capital diferentes da empresas comuns e tradicionais.

No inicio o banco tinha apenas US$ 2 milhões e pouquíssimos funcionários, mas os fundadores acreditavam que trazendo alguns executivos de bancos tradicionais para o time junto com investidores de tecnologia, poderiam oferecer serviços bancários personalizados para as empresas com rápido crescimento do setor, que caracteristicamente tem alguns obstáculos únicos na operação.

O plano deu certo e o banco conquistou muitos clientes se tornando presença marcante e quase sempre garantida no ecossistema de startups do Vale do Silício.

Após isso expandiu seus serviços para outras regiões e posteriormente para outros setores, incluindo biotecnologia, tecnologia verde (ou limpa) e mais recentemente as fintechs.

Embora pouco conhecido aqui no Brasil, o SVB foi um dos maiores bancos no setor de tecnologia e inovação, era super respeitado e conceituado. Tinha mais de 30 escritórios espalhados pelo mundo.

A explosão do crescimento no meio da pandemia

Com a pandemia o setor tech simplesmente explodiu, diversas startups surgiram no Silício, com todo esse movimento no Vale e com a enxurrada de liquidez no mercado proporcionada pelo Fed, o SVB viu aí a oportunidade perfeita.

Como já era um banco com mais de 35 anos atuado no setor de startups e apoiado por diversos fundos de Venture Capital(fundos que investem em startups), o banco viu os depósitos aumentarem bizarramente entre o fim de 2019 e 2022.

O Silicon Valley Bank emprestaria o capital à startups e fundadores de startups, e essas startups deixariam seu dinheiro na SVB. Lembra que a partir de 2020 as empresas de tecnologia estavam crescendo assustadoramente? Mais capital de risco estava se espalhando pelo mundo. Imagina a quantidade de dinheiro que estava sendo depositada no banco.

O SVB precisa saber o que faria com todo esse dinheiro já que na época a taxa de juros nos EUA era próxima a 0, como todo bom banco precisavam rentabilizar o capital que possuíam.

Um ex-colaborador que trabalhou no SVB lembra que houve algumas conversas internas sobre esse crescimento nos depósitos, na verdade, ser um cavalo de Tróia, um risco aumentado para o banco, o que é meio cômico, porque você e eu podemos pensar que se um banco ganha dinheiro emprestando o dinheiro que deixam com ele pode ser uma ótima ideia ter todo esse dinheiro entrando nas contas.

E sendo objetivo, ter dinheiro em si é bom, mas então você tem que fazer algo com ele, ganhar algum juro enquanto o cliente que depositou não pega de volta. E é aí que mora o perigo, se você erra aqui, toda essa quantidade de dinheiro se torna uma bela enxaqueca.

As três falhas fatais do SVB

Quando você quer segurança o que você faz? Investe em títulos do governo, certo? Certo!

E foi isso o que o SVB fez, investiu boa parte desse dinheiro em títulos públicos e aí você fica mais confuso ainda, porque até aqui não tem nada errado. Só que o SVB cometeu três erros fatais que se retroalimentavam e causou o seu próprio colapso. O famoso tiro no pé, ou tiros, no caso.

Investimentos em Títulos Públicos de longa duração

O SVB, bancando o espertão, resolveu colocar a maior parte do dinheiro emtítulos de longa duração, 10 anos, pra ganhar um pouquinho a mais, ao invés dos títulos de curta duração, já que com juros próximo a 0, qualquer centavo é lucro.

E no balanço informavam que esses títulos eram “mantidos até o vencimento”, ou Held to Maturity. E com isso não precisavam informar o valor real, ou do momento, e sim o valor no vencimento.

Os títulos de curta duração, que são os disponíveis pra venda rápida caso necessário, e que garantiriam a liquidez do banco, passaram de pouco mais de US$ 10 bilhões para quase US$ 30 bi, já os de longa duração passaram dos mesmos pouco mais de US$ 10 bilhões para quase US$ 100 bi.

Dá pra ter uma noção da enrascada que entraram né? Quanto maior o vencimento, maior a sensibilidade do título as mudanças nas taxas de juros.

Pra combater a inflação o Fed começou a aumentar seguidamente a taxa de juros e com isso os valor dos títulos simplesmente começaram a cair na marcação a mercado.

Um exemplo simples pra você entender:

Você tem um título que te prometia uma taxa de 2% no vencimento, como a taxa de juros hoje é de 4% (exemplo), o seu título vale menosporque eu consigo uma taxa maior no mercado.

Ou seja, os valores dos títulos sãoinversamente proporcionaisao movimento das taxas de juros. Se os juros sobem, os valores dos títulos caem, o inverso também é real.

O problema aqui foi o excesso, o SVB botou quase todo o dinheiro que possuía nas Reservas Financeiras nesses títulos longos. Fora que o SVB não tinha hedge (mecanismo de proteção contra a volatilidade) pra aumento da taxa de juros.

Concentração em Tecnologia

O SVB, como sabemos, é um banco focado para startup de tecnologia, então as suas operações estavam extremamente concentradas no setor, que também é extremamente sensível às taxas de juros.

Fazendo um paralelo com os títulos longos da falha 1, as startups são muito parecidas nesse sentido, os grandes lucros estão no futuro.

Quando as taxas de juros estão muito baixas, todos esses grandes lucros no futuro valem muito mais. A gente consegue ver isso com a alta nos preços das ações de tecnologia no período de juros 0 nos EUA (Tesla e Slack são bons exemplos).

Mas quando astaxas de juros sobem, os investidores ficam menos propensos a esperar pelo futuro, não querem ter que esperar 10 ou 15 anos pra ter algum retorno.

E aí, o que aconteceu?

O Vale do Silício se transformou no Vale da sombra da morte. Milhares de demissões, ou layoffs, como preferir, a gigante maioria no setor de tecnologia, margens apertadas e falta de investimentos.

Com demissões e sem dinheiro novo o SVB se tornou duplamente mais exposto aos juros, pouco dinheiro entrando e com as margens apertadas e sem a paciência do juro 0, os clientes e investidores foram lá pegar o dinheiro que haviam depositado para se manterem sem queimar tanto caixa (característica normal de startups e empresas de tecnologia no início de sua jornada)

As receitas do banco diminuíram drasticamente e a queimação de caixa começou. Situação ficou mais evidente ainda após a divulgação dos resultados do banco. Isso nos leva ao terceiro erro fatal do SVB.

Corrida aos Bancos, ou ao Silicon Valley Bank

Com todo esse cenário caótico, o banco precisou vender aqueles títulos longos pra ter como honrar os saques dos clientes. Aí que a casa terminou de cair. Na semana passada o SVB vendeu US$21 bilhões desses títulos, o que gerou umaperda de US$1,8 bilhão, esse acontecimento acabou expondo o banco.

Pra terminar de botar a pá de cal, o SVB tentou levantar capital no mercado mas acabou que gerou o efeito contrário,uma crise de confiança se instaurou e rapidamente os fundos e clientes correram pra sacar seu dinheiro.

Lá eles possuem o FIDC, que é o “FGC norte americano”, que garante US$ 250 mil em reembolsos por conta.

Pra mim não seria problema, não tenho os US$ 250 mil, mas pra Startup do Howard Lerman, a Roam, você não tem US$ 250 mil, você tem no mínimo uns US$ 4 milhões, e isso é um valor médio.

Então foi todo mundo pras ruas e não foi pelos R$0,30. O fim é o que a gente viu. O SVB quebrou.

O fim do melhor pior plano do mundo

Uma semana atrás, a agência de rating (classificação dos riscos das empresas) Moody’s informou ao SVB que eles seriam rebaixadosporque estavam segurando a tonelada de títulos longos que estavam perdendo valor por conta dos aumentos consecutivos da taxa de juros.

Pra evitar esse rebaixamento, o SVB montou um plano pra continuar de pé. Basicamente iriam vender os títulos, assumir as perdas, e pra compensar, iriam aumentar o capital via captação externa. Simples assim.

Então o SVB botou o plano em ação, na quarta passada, como vimos e vendeu parte dos ativos, mas na hora de se recapitalizar, o mercado olho e falou: opa, opa, tem caroço nesse angu.

Aí já sabe né, aquela suspeita de que vai dar ruim toma conta de todo mundo e não teve jeito. As ações do SVB entraram em queda livre na quinta, um dia depois. A empresa de capital de risco orientou a todas as startups a retirarem o dinheiro do SVB. Mas já era tarde demais pra maioria.

O SBV viu US$42 bilhões serem sacados num único dia. Em termos representativos a quantia equivale a mais de 20% de todos os depósitos que o SVB tinha. E nenhum banco consegue suportar essa corrida.

Na sexta, o FIDC assumiu o SVB e os US$175 bilhões que possuíam. No domingo, pra evitar mais corrida ainda, o governo através do presidente Biden, anunciou que vai honrar todos os depósitos no banco, incluindo os maiores que US$250 mil.

Detalhe, geralmente é aguardado o fim do pregão para que um agente regulador tome o controle de uma instituição em casos assim, no caso do SVB o FIDC assumiu o controle do banco no meio da manhã de sexta, porque da forma como estava, o banco não suportaria mais 5 horas sem ficar 100% insolvente.

O que acontece a seguir?

O CEO do SVB e o CFO, Greg Becker e Daniel Beck, foram processados por acionistas da empresa, além deles o SVB Financial Group (a holding) também levou um processinho pra casa. Todos acusados de ocultar a real situação financeira do banco.

Como mencionamos acima, o FIDC vai atuar no controle do banco para realizar os pagamentos aos clientes e o Fed anunciou no domingo, 12, a criação de umnovo programa de financiamento a longo prazo para bancos a fim de assegurar a capacidade de pagamento das instituições financeiras aos seus depositantes.

O Tesouro norte-americano disponibilizará até US$ 25 bilhões do Fundo de Estabilização Cambial para esta finalidade.

O presidente Biden afirmou que fará todo o possível e tudo o que for necessário para enfrentar uma possível crise sistêmica.

No Reino Unido, o HSBC anunciou a compra do braço britânico do SVB pelo valor simbólico de uma libra. O acordo foi intermediado pelo governo do Reino Unido e pelo Banco da Inglaterra.

Na China, as empresas correram para tranquilizar seus cliente informando que não possuem ou possuem uma exposição insignificante no SVB.

Impactos no Brasil

Com esse caso surge a preocupação acerca do Sistema Bancário Brasileiro, principalmente com a quantidade de fintechs e startups que surgiram nos últimos anos.

Mas nosso sistema bancário é bem mais rígido que o norte americano nesse ponto. Nossos níveis de capital regulatório são maiores, os níveis aceitos de alavancagem são menores e os empréstimos são bem mais regulados, não é à prova de falências mas é bem mais seguro que o de lá.

O que pode acontecer de diferente é o Copom assumir uma postura de alívio na pressão econômica, podendo até indicar um inicio no corte de juros.

Isso porque, com o a pressão adicional no crédito, que já é observada no nosso mercado, o caso dos bancos americanos podem gerar uma maior queda na atividade econômica, acelerando o processo de queda da inflação.

Esse comportamento pode ser embasado no que o Fed indicará, com a crise bancária por lá,o Fed pode se ver forçado a abrandar a posturaem relação aos juros.

O mercado já está precificando isso, e quando olhamos a curva de juros podemos ver esse efeito, o espaço pro Copom cortar a taxa de juros no segundo semestre.

Impacto nos Investimentos

Esse caso evidencia algo muito importante e pouco mencionado pela maioria. A necessidade de se entender e analisar os balanços das empresas.

DRE, Balanço Patrimonial, Demonstrativo de Fluxo de Caixa, ITR, DFP, Notas Explicativas.

Analisar uma empresa apenas por múltiplos ou porque está na boca do povo quase nunca é uma boa ideia. É preciso entender como a empresa funciona, como ela faz dinheiro, como ela gasta, onde ela guarda e o mais importante, ver o que podefazer com que ela decole, ou o que pode levá-la ao vale da sombra da morte.

Pensando nisso é que o VBOX existe, analisar todos esses demonstrativos pode levar um tempão, e pra ser sincero, leva mesmo, até meses quando a empresa é antiga o suficiente. Pintar um quadro da empresa, com todos os detalhes, aqueles pequenos detalhes que só são notados quando se olha de perto. E alguns desses detalhes, mesmo de perto, só são vistos por especialistas.

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E caso você acredite que isso tudo vem num relatório cheio de economês pra tudo que é lado, não estaria mais enganado. Nossa missão é levar a informação até você de forma descomplicada, mas com e valor e verdade.

Todas as analises também são disponibilizadas no modo série e documentário, isso mesmo, tipo aquele seu streaming preferido. Isso é algo que não encontrará em lugar algum.

E se você acha que isso tudo deve custar o olho da cara vale lembrar que o prejuízo da galera que investiu no SVB é bem maior que os menos de R$ 2,00 por dia que o VBOX custa.

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Espero que tenham gostado desse artigo, e se conhece alguém que queira entender melhor o que aconteceu com o SVB compartilhe esse artigo nas suas redes.

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