A Oi, uma das maiores operadoras de telecomunicações do Brasil, passou por uma série de desafios financeiros e operacionais que culminaram em uma crise sem precedentes.
A empresa, que foi criada em 1998 a partir da privatização do Sistema Telebrás, passou por uma série de aquisições e fusões que, em vez de fortalecê-la, acabaram por comprometer sua saúde financeira.
Após divulgar o resultado de 2022 com prejuízo bilionário, o CEO da empresa, Rodrigo Abreu, afirmou esta semana que defende a ideia de fazer um novo pedido de recuperação judicial pra Oi, seria o segundo pedido na história da empresa que não tem nem 25 anos de existência.
Mas antes de contar como a Oi entrou nesse espiral negativo que pode levá-la “à falência”, é preciso contar como surgiu a telefonia no Brasil e como as coisas aconteceram para que a Oi surgisse e a daí pra frente foi só pra trás.
História da Telefonia no Brasil
A história da telefonia no Brasil é marcada por uma série de inovações e mudanças, muitas das quais ocorreram durante a época da Telebrás.
O telefone foi introduzido no Brasil pouco tempo após sua invenção por Alexander Graham Bell em 1875. O imperador D. Pedro II, um entusiasta das ciências, foi fundamental para a popularização do telefone no Brasil. Ele chamou a atenção para o invento na Exposição da Filadélfia, tornando Graham Bell uma super estrela. Em 1877, D. Pedro II recebeu seu próprio aparelho produzido pela Bell Telephone Company.
A partir daí, o telefone se tornou uma febre no Brasil. O governo e as companhias de trem começaram a usar essa tecnologia para comunicação rápida e eficaz. Durante o Império, as principais cidades do país já dispunham de linhas telefônicas, uma vanguarda invejável para qualquer um.
Várias empresas surgiram nesse período, como a Brazilian Telephone Company (1879), a Companhia União Telefônica do Brasil (1885), a Empresa de Obras Públicas do Brasil (1889), a Companhia Telefônica Industrial (1890), a Siemens & Halsk (1897) e a Brasilianische Elektrizitäts Gesellschaft (1899).
A primeira linha interurbana foi criada em 1883, ligando o Rio de Janeiro à cidade de Petrópolis. A primeira concessão para outros estados foi realizada em 1882, para atender às cidades de São Paulo, Campinas, Florianópolis, Ouro Preto, Curitiba e Fortaleza.
Em 1923, foi criada a Companhia Telefônica Brasileira, a maior empresa de telefonia do Brasil na época. A empresa incorporou várias outras empresas e expandiu seus serviços para os principais centros urbanos do país.
No entanto, apesar desses avanços, a telefonia no Brasil ainda caminhava a passos lentos. Com o advento da ditadura militar e sua mentalidade nacional-desenvolvimentista, foi criada a Embratel, responsável por fazer as ligações entre todas as cidades.
Em 1972, o governo Emílio Garrastazu Médici criou a Telebras, com o objetivo de centralizar, padronizar e modernizar as diversas concessionárias de serviços públicos que existiam no Brasil.
No entanto, após quase 30 anos, a Telebras mostrou-se um fracasso, principalmente na competência de inovação da área. Em 1998, época da sua privatização, o país tinha pouco mais de 17 milhões de linhas fixas e apenas 4,6 milhões de aparelhos celulares. A internet era praticamente inacessível para a maioria da população.
Hoje, a situação é muito diferente. Temos 40,8 milhões de linhas fixas, 235 milhões de linhas de celular e milhões de acessos à internet. A telefonia no Brasil evoluiu muito desde a época da Telebras, mas ainda há desafios a serem superados.
A criação da Oi
A história da Oi, uma das maiores empresas de telecomunicações do Brasil, está intrinsecamente ligada à história do sistema Telebrás e à atuação do governo brasileiro.
Antes da criação da Oi, o sistema de telecomunicações brasileiro era gerido pela Telebrás, uma empresa estatal fundada em 1972. A Telebrás foi responsável por um grande avanço na infraestrutura de telecomunicações do país, expandindo a rede de telefonia fixa e móvel.
No entanto, com o passar do tempo, a empresa enfrentou dificuldades financeiras e operacionais, o que levou o governo a decidir pela sua privatização em 1998.
A privatização da Telebrás foi um processo complexo e controverso. O governo dividiu a empresa em várias companhias regionais, que foram leiloadas para diferentes consórcios privados. Um desses consórcios, liderado pela construtora Andrade Gutierrez e pelo grupo La Fonte, adquiriu a Telemar, que mais tarde se tornaria a Oi.
Dívidas e mais dívidas
A expansão agressiva da Oi, financiada em grande parte por fundos de pensão e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES), envolveu a aquisição de várias empresas, muitas das quais estavam endividadas e apresentavam resultados fracos.
Entre essas aquisições estava a Brasil Telecom, que a Oi comprou por R$ 5,8 bilhões em 2009, apesar de a empresa já estar endividada na época.
Outro marco importante na história da Oi foi a fusão com a Portugal Telecom em 2013. No entanto, a fusão acabou sendo desastrosa para a Oi, pois a empresa não recebeu os R$ 3,2 bilhões previstos na fusão, já que os recursos estavam aplicados em títulos podres em uma subsidiária do banco português Espírito Santo, que quebrou pouco tempo depois da fusão.
Além disso, a Oi investiu em empresas que não faziam sentido para a operação, como a Africatel, que foi vendida para uma petroleira angolana por US$ 1 bilhão. Esse episódio na Angola ficou muito conhecido pelo Luanda Leaks, Luanda Leaks é realizado pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), que investigou como a filha do ex-presidente de Angola aproveitou o poder político do pai para, com empresas de fachada e informações privilegiadas, se tornar a mulher mais rica da África
Em 2016, com uma dívida de R$ 65 bilhões, a Oi entrou com o maior pedido de recuperação judicial da história do Brasil na época (depois disso a Odebrecht tomou o posto em 2019, mas a Oi ainda ocupa a segunda posição, e se entrar mesmo com o pedido vai ocupar também a quarta posição).
A empresa foi dividida em quatro partes: torres, ativos móveis, data center e fibra óptica. No entanto, a saída (controversa) da recuperação judicial só ocorreu em dezembro de 2022, após a venda de vários ativos e a renegociação de dívidas.
Apesar de ter saído da recuperação judicial, a Oi ainda enfrenta desafios significativos. A empresa deixou a recuperação judicial com mais de R$ 20 bilhões em dívidas e o desafio de crescer no negócio em que resolveu apostar: a fibra óptica.
Ações da Oi em queda livre
O gráfico não mente, as ações da Oi tão se segurando por um bom tempo mas se alguém ainda está aguardando um recuperação, sinto informar, muito provavelmente não vai acontecer.
As ações da Oi já chegaram a valer mais de R$ 1000,00 e hoje são negociadas por R$1,00, uma queda de mais de 99,9%.
Além das quedas bruscas, as ações da Oi passaram por diversos agrupamentos para tentar parar a queda, mas dá pra ver que a cotação tá seguindo as expectativas do mercado para a Oi, o cenário é extremante difícil e um conjunto de fatores e mudanças são necessários pra mudar o panorama da empresa.
Um novo pedido de Recuperação Judicial está dando um pouco de esperanças pros investidores da empresa.
Nova Recuperação Judicial?
A Oi divulgou recentemente os resultados do quarto trimestre de 2022, revelando um prejuízo líquido de R$ 17,6 bilhões. Este resultado representa um aumento significativo em relação ao prejuízo de R$ 3,5 bilhões registrado no mesmo período do ano anterior.
A empresa atribuiu esse resultado à redução das receitas de operações descontinuadas, após a conclusão das alienações total da UPI Ativos Móveis e parcial da UPI InfraCo, conforme previsto no Plano Estratégico de Transformação da companhia.
A dívida líquida da Oi fechou o terceiro trimestre em R$ 19,079 bilhões, um recuo de 41,4% na comparação com igual período de 2021, quando a companhia registrou o indicador em R$ 32,573 bilhões.
Em relação aos próximos passos da empresa, o CEO da Oi, Rodrigo Abreu, defendeu a decisão da companhia de entrar com um segundo pedido de recuperação judicial, considerando este o caminho mais adequado para a sustentabilidade da empresa no médio prazo.
Ele destacou que todas as etapas da primeira recuperação judicial da Oi foram executadas com sucesso, incluindo separação estrutural, redução de custos e ampliação da base de usuários de fibra óptica.
No entanto, Abreu também ressaltou que a empresa ainda enfrenta desafios significativos, incluindo a reestruturação da dívida bilionária da companhia, a necessidade de migrar a concessão de telefonia fixa de operadora para autorizada e o desenvolvimento do negócio da nova Oi, focada em fibra óptica.
A Oi também planeja se desfazer de mais uma parte da V.tal, antiga InfraCo, rede neutra de da qual a empresa detém, hoje, fatia de pouco mais de 34%. No novo plano de recuperação judicial, a companhia prevê a venda de 14,6% dessa participação remanescente por R$ 14,4 bilhões em 2026 e 2027.
Em resumo, a Oi está em um momento crítico de sua história. A empresa enfrenta desafios financeiros significativos, mas está tomando (tentando, pelo menos) medidas para reestruturar suas operações e dívidas. O sucesso dessas iniciativas será crucial para determinar o futuro da Oi, que no momento é bem complicado.