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Natura em Crise: O que está acontecendo com a gigante da beleza?

15min de leitura

Misael Guedes

Misael Guedes

Redação

Você já deve ter ouvido falar da Natura, uma das maiores empresas de cosméticos do Brasil, que se orgulha de ser sustentável e ética. Mas você sabe que nos últimos anos, essa gigante enfrenta uma série de desafios e crises? O que será que está acontecendo com a Natura?

Neste artigo, vamos explorar em detalhes o que está acontecendo com a Natura e o que levou a essa situação. Fique conosco pra descobrir!

  • História da Natura
  • Plano de expansão
  • Fusão com a rival Avon
  • Crise à vista: O que deu errado com o plano?
  • Estratégias de reestruturação

Nos próximos tópicos, vamos abordar cada um desses aspectos pra te ajudar a compreender o que está acontecendo com a Natura. Acompanhe!

História da Natura

A história da Natura começou com dois amigos: Antônio Luiz Seabra e Jean-Pierre Berjeaut.

Luiz era gerente de um pequeno laboratório de cosméticos da família Berjeaut e foi convidado a compor a sociedade alguns anos depois.

Em 1970, a produtora de cosméticos passou a se chamar ‘Natura’ e iniciou efetivamente suas atividades com só 6 funcionários.

O novo nome da companhia remetia ao pioneirismo da marca em selecionar ingredientes naturais para seus cosméticos.

A empresa sempre se demonstrou preocupada em abraçar as causas ambientais. E também disposta a tirar o máximo de proveito disso.

O objetivo dos sócios não era só produzir os cosméticos, mas também atuar no comércio varejista.

Crescimento e sucesso

O modelo de vendas usado foi o de ‘porta em porta’. Inclusive, o próprio Luiz Seabra fazia as vendas no início.

O fato de atuar diretamente na venda trouxe à Natura a possibilidade de fidelizar seus clientes. O atendimento era praticamente personalizado e, com o tempo, o relacionamento entre cliente e vendedor ficava cada vez mais íntimo.

Isso despertou o interesse das pessoas e foi uma das principais razões de crescimento da Natura nos anos seguintes - principalmente com o surgimento das revendedoras, que passaram a prestar um atendimento personalizado, igual ao que Luiz fazia.

Anos depois, em 1979, Guilherme Leal entra na empresa e contribui ainda mais para a aceleração do negócio.

O modelo de venda - através da rede de revendedores - começava a crescer e ganhar corpo. Cada vez surgiam mais consultores e consultoras interessados em revender os produtos da marca.

Inovação e sustentabilidade

A empresa também se destacou por sua preocupação com o meio ambiente e a sustentabilidade.

A Natura investiu em embalagens recicláveis, refis e projetos de reflorestamento.

Além disso, a empresa sempre se preocupou em desenvolver produtos inovadores e de qualidade, posicionando-se como uma marca de referência no mercado.

Em 2004, mais uma vez ela foi pioneira.

Dessa vez, sendo a primeira empresa brasileira de cosméticos a estrear na bolsa de valores - num momento em que o mercado acionário já chegava a dois anos sem IPO.

E ainda tinha muito espaço para crescer

Plano de expansão

A Natura sempre teve ambições de crescer e se tornar uma empresa global. Competir de igual pra igual com a L’Oreal. A empresa que já era gigante aqui no Brasil, ousava ser gigante no mundo.

Ao longo dos anos, a empresa traçou um plano de expansão agressivo, buscando aumentar sua presença no mercado internacional.

Vamos analisar algumas das estratégias adotadas pela Natura pra atingir seus objetivos.

Aquisições e crescimento orgânico

Em uma janela de apenas sete anos, a empresa concluiu as compras das multinacionais Aesop, The Body Shop e Avon, nesta ordem, e se transformou na holding Natura &Co.

As aquisições também foram uma ponte da Natura à rede física de vendas no início dos anos 2000.

Nesse período o modelo de vendas diretas - aquele com os consultores indo de porta em porta - começava a enfraquecer, conforme o e-commerce ganhava tração.

A rede australiana Aesop - uma marca de cosméticos “fina” e “luxuosa”, que está sempre presente nos catálogos de decoração - foi adquirida, em 2013, por cerca de 100 milhões de dólares e contava com 61 lojas em 11 países na época.

Já em 2017, a Natura concluiu a compra da marca britânica The Body Shop.

A empresa brasileira pagou aproximadamente 1 bilhão de euros para a L’Oreal pela rede e ganhou dimensões internacionais ainda maiores.

Na época, a Natura divulgou que ia levar quatro anos para recuperar o seu nível de endividamento pré-aquisição - o que assustou um pouco os investidores.

Nessa altura, o grupo Natura já começava a se aproximar das gigantes do setor.

Com as duas aquisições, ela já estava presente em 70 países, com mais de 1,8 milhão de consultores independentes e 3.200 lojas espalhadas pelo mundo.

Mas esses números não pareciam ser suficientes para a ambição empresa.

Fusão com a rival Avon

Em 2019, a Natura anunciou a aquisição da rival Avon, uma das maiores empresas de venda direta de cosméticos do mundo, com mais de 137 anos.

A fusão criou a Natura &Co, que se tornou um dos maiores grupos de beleza do planeta.

A transação de aproximadamente 2 bilhões de dólares, colocou a Natura no posto de 4ª maior empresa de beleza do mundo - mas também trouxe um fardo enorme.

Vamos analisar os motivos por trás dessa fusão e os desafios enfrentados.

Naquele momento, a Avon passava por uma grave crise e já enfrentava problemas há pelo menos 10 anos.

Além de revitalizar a marca, a Natura tinha o desafio de integrar as operações e eliminar o que não era eficiente. Só a operação da Avon no Brasil, por exemplo, contava com cerca de 4.000 funcionários na época.

Apesar dos desafios, em julho de 2021, a empresa chegou ao patamar de 80 bilhões de reais em valor de mercado.

Mas nesse mesmo ano, os efeitos desse rápido crescimento - e um cenário externo nada favorável - começaram a surgir..

Crise à vista: O que deu errado com o plano?

O plano de expansão ambicioso da Natura enfrentou problemas e acabou contribuindo pra uma crise na empresa.

Você já deve tá cansado de escutar que a pandemia causou impactos econômicos para todo mundo.

Pois é, com a Natura não seria diferente.

O problema é que além de ter se endividado pra comprar todas aquelas empresas, a Natura tinha um ‘problemão’ pra gerenciar as novas operações.

Logo após a integração da Avon, as despesas operacionais do grupo saltaram 150%, saindo de 9 bilhões de reais em 2019 para quase 23 bilhões de reais em 2020. Em dois anos, o pulo foi de 170%.

Com o impacto nas vendas por causa do cenário da época, formou-se a tempestade perfeita.

Em novembro de 2021, a Natura chegou a perder 20% do seu valor de mercado em apenas um dia, depois de apresentar um resultado no terceiro trimestre simplesmente horrível.

Logo no início do ano seguinte, mais um agravante externo.

Dessa vez o conflito Rússia-Ucrânia fez despencar ainda mais o desempenho da Avon Internacional - que respondia por 22% de todas as vendas do grupo na época e tinha 20% das suas operações na região.

Além disso, a tomada de decisão da companhia estava sendo muito questionada.

Centralizada na holding, as ações eram lentas e não davam às empresas do grupo a independência necessária para corrigir erros com rapidez.

Só em 2021, a operação da holding custou 550 milhões de reais ao grupo ou 1,4% da receita líquida.

A empresa precisava, de uma vez por todas, rever sua rota e mudar toda a estratégia do negócio.

Estratégias de reestruturação

O sonho de crescer e se tornar uma das maiores empresas de cosméticos do mundo foi ficando de lado. A Natura precisava se tornar eficiente, caso contrário tudo poderia virar um grande pesadelo.

Em junho de 2022, Fabio Barbosa assumiu o posto de novo CEO, no lugar de Roberto Marques.

A nova estrutura do grupo agora passa principalmente pela fusão das operações da Natura e da Avon na América Latina - para finalmente virarem uma única empresa.

A ideia, como em toda reestruturação, é enxugar a estrutura que cresceu demais e eliminar os mercados que não são lucrativos.

Aproveitando a tempestade, alguns concorrentes vieram forte para tomar mercado da Natura no Brasil. O Grupo Boticário, por exemplo, cresceu suas vendas em 31% em 2022 e alcançou o maior faturamento da sua história.

Outras novas marcas também surgiram - investindo forte no marketing de influência - como a WePink, que chegou a faturar 15 milhões de reais em uma live de 12h.

Com uma dívida bruta que chegou aos 7 bilhões de reais no final do ano passado, a Natura anunciou há poucos dias a venda da Aesop para a L’Oréal, numa transação de 2,5 bilhões de dólares.

A venda vai praticamente zerar a dívida bruta da empresa finalmente e faze-la passar a ter mais dinheiro em caixa do que dívida.

A expectativa é que a empresa use boa parte desse dinheiro para pré-pagar as dívidas mais caras do seu balanço. Ao pré-pagar essas dívidas, ela vai reduzir os juros que ela precisaria pagar e vai voltar a respirar um pouco mais aliviada.

Mas esse movimento não agradou todo mundo.

Alguns falam que a Natura se desfez do seu melhor ativo. Ou seja, vendeu o que estava dando certo para apostar no que está dando errado.

O fato é que ela precisou dar um passo atrás no sonho de ser gigante.

A questão agora é se ela vai conseguir dar dois passos pra frente de novo.

Mas e você, qual a sua opinião sobre o futuro da Natura? Será que a empresa vai conseguir se recuperar?

Muito obrigado pela sua presença ao longo deste artigo!

Esperamos que tenha sido uma leitura esclarecedora e interessante.

Nos vemos no próximo artigo, tchau!

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