Diário de Omaha

A Mansão das Marcas - Diário de Omaha 83

12min de leitura

Gabriel Lacombe

Gabriel Lacombe

Analista de Varejo

Mansion of Brands

Por Gabriel Lacombe

A Arezzo&Co está entrando de cabeça no mundo do M&A e não aparenta que vai sair tão cedo. Desde a Vans, a empresa não para de adquirir outras marcas, como Reserva, Troc, Baw, Carol Bassi, Vicenza, Paris Texas, e por aí vai. A lista só aumenta.

Quando fazemos o Valuation de uma empresa, não projetamos a aquisição de novas marcas, mas uma coisa é certa: aquisições bem feitas vão trazer um bom incremento na Receita e, se a empresa conseguir manter as Margens, o Fluxo de Caixa Livre também aumentará.

Porém, dá pra garantir que a empresa vai fazer boas aquisições? Podemos considerar uma boa aquisição aquela que não teve um preço exorbitante e que tenha uma operação promissora. Até agora, nenhuma operação de M&A aparenta ter sido prejudicial à empresa. Muito pelo contrário. Basta olhar para a AR&CO, que não para de crescer.

receita bruta da empresa

Nessa onda, a empresa ainda criou o a ZZ Ventures, braço de venture capital, para adquirir o controle ou participação em start-ups promissoras. A Troc foi o primeiro investimento por meio desse braço.

Mas a empresa também olha para fora do Brasil. A Arezzo&Co vê muito potencial no mercado americano e europeu. Para aquisições fora do país, ela já tem uma série de critérios para definir marcas potenciais para aquisição. Basicamente, o primeiro critério é que a marca precisa ser "well established". Ou seja, tem que ser marcas sustentáveis, que não precisam passar por um turn-around. A ideia é acelerar o crescimento por meio do know-how e da escala da Arezzo&CO.

Só que não basta serem marcas "well established". A empresa busca por marcas "frescas", com 6 a 8 anos de idade. Fazendo isso, a Arezzo consegue adquirir marcas que ainda têm muito espaço para crescer.

Além disso, as marcas têm que ter produtos marcantes que desempenhem bem nas vendas, como a bota tratorada da Schutz, por exemplo.

No papel parece lindo. Mas e na prática? O que garante que, quando a Arezzo&CO encontrar uma marca que atenda aos requisitos, vai pagar um bom preço?

Garantia não temos, mas podemos olhar para trás. Um caso que chamou muita atenção do mercado foi a aquisição da Hering. Lá em abril de 2021, o mercado foi surpreendido com uma oferta de aquisição da Hering feita pela Arezzo&Co no valor de R$ 3,8 bilhões. Acontece que, naquela época, já acompanhávamos a Hering no VBOX e estimávamos o Preço Justo da ação em R$ 10,74, o que dava um valor total de pouco menos que R$ 1,7 bilhão para a empresa.

Pode ser que a empresa visse um grande potencial na Hering e que esse prêmio fosse justo pelo retorno potencial. Porém, logo depois o Grupo Soma surgiu oferecendo R$ 5,1 bilhões. A Arezzo&Co pulou fora e quem ficou com a Hering foi o Soma. Isso mostra que a Arezzo&Co teve um mínimo de sensatez na negociação e sabia até onde ir por uma marca como a Hering, que precisava de um turn-around.

Agora, pelos requisitos que a própria empresa deu para as aquisições, parece que ela não quer mais se envolver em negociações desse tamanho. Mas ela não está procurando por marcas sem direção. Ela está olhando principalmente para empresas com potencial e mal estruturadas no exterior.

O primeiro passo foi a aquisição da Paris Texas, marca italiana de calçados femininos. A Arezzo&Co desembolsou € 25 milhões por 65% do capital da empresa, dos quais foram destinados € 10 milhões para o caixa da empresa e € 15 milhões para os fundadores da marca, Annamaria Brivio e Massimo Baltimora, que permanecerão à frente do negócio.

Agora temos que esperar para ver os próximos passos da Arezzo&Co, que não deve demorar para anunciar novas aquisições. Mas até lá, temos que ter em mente que a empresa não está expandindo apenas o seu portfólio de marcas. Ela também está expandindo o seu mercado de atuação.

Podemos ver isso com a criação de novas linhas, como a Brizza (calçados injetáveis, como Havaianas e Ipanema), Bambini (vestuário infantil) e Schutz vestuário. Todas essas aquisições podem contribuir com o seu know-how para o crescimento dessas novas linhas que estão surgindo dentro da Arezzo&Co.

O sucesso dessas novas empreitadas e de novas aquisições vai, sem dúvidas, causar um incremento nas Receitas futuras.

Mas será que as ações da Arezzo são realmente um bom investimento no patamar de preço atual?

Pra responder à essa pergunta, publicamos recentemente na nossa plataforma, um relatório completo sobre a empresa. Saca só:

imagem divulgação vbox

Pra conferir, é só clicar aqui!

O jogo da imitação

Por Saulo Pereira

imagem ilustrativa gerada por inteligencia artificial do Joe Biden e Xi Jinping jogando xadrez

Os jogos de estratégia são talvez um dos principais estilos que nos lembram como funciona a geopolítica atualmente. Afinal, quem nunca teve que esconder bem o objetivo no jogo de tabuleiro "War", para que os seus amigos não descobrissem?

No cenário geopolítico atual, esconder esse objetivo está se tornando uma tarefa bem desafiadora. Desde o fim da União Soviética e o desenvolvimento tecnológico, os países vêm se modernizando e criando estratégias de espionagem.

O problema é que alguns países não adotam limites de até onde podem ir para descobrir um segredo de Estado do seu inimigo. Para entender o que acontece hoje precisamos voltar algumas décadas.

Com o fim da URSS, em 1991, um dos serviços de espionagem mais conhecidos da época, a KGB, também foi desmantelado para dar lugar a duas novas instituições: FSB (Serviço Federal de Segurança) e SVR (Serviço de Inteligência Estrangeiro).

Enquanto o primeiro é focado em serviços de inteligência dentro do país (buscando combater ameaças constitucionais, por exemplo), o segundo visa obter informações fora da Rússia, e que sejam de interesse do Estado russo.

Na teoria, o fim do socialismo e a abertura para o capitalismo poderia representar uma época de grande amizade entre EUA e Rússia, mas não foi isso o que aconteceu. Se a KGB já era agressiva contra os americanos antes, com o fim da URSS os novos serviços de inteligência se tornaram ainda mais agressivos.

No final dos anos de 1990 a SVR aproveitou o avanço da internet pelo mundo para propagar informações que descredibilizavam os EUA. Além disso, hackers conseguiram informações sensíveis da NASA e do Pentágono.

O serviço de inteligência americano, CIA, não deixou barato e atraiu membros do governo russo dispostos a trair — por dinheiro — seus chefes de espionagem. A situação ficou bem acirrada entre os dois países, mas aí aconteceu o atentado de 11 de setembro de 2001.

A partir desse dia parecia que os dois países poderiam fazer as pazes e os seus serviços de inteligência poderiam cooperar entre si na guerra contra o terrorismo. Tem até uma declaração do ex-presidente americano George W. Bush afirmando ter visto a "alma" do Putin e que ele era uma pessoa "confiável".

Acontece que, de fato, os dois serviços cooperaram durante um tempo, mas foi um namoro bem curto. Enquanto os EUA e seus aliados torravam recursos em operações contra o terrorismo, a Rússia, China e seus parceiros criavam suas estratégias de espionagem.

Por muito tempo, Putin conseguiu passar para o ocidente a visão de alguém que não traria grandes ameaças. Enquanto isso, dentro da Rússia ele buscava se perpetuar no poder, controlando a imprensa e silenciando opositores. Aquela típica coisa de ditador. Além disso, ele também tentou (e ainda tenta) prevenir o avanço da OTAN no leste europeu, invadindo a Geórgia em 2008, a Crimeia em 2014 e mais recentemente a Ucrânia.

Os EUA apenas voltaram a atenção para a Rússia e a China após diversas acusações de interferência russa nas eleições presidenciais de 2016. Nesse momento, Putin já tinha construído uma verdadeira máfia dentro do Estado russo e moldado todo sistema de espionagem. Praticamente todo o país é controlado por um pequeno grupo, e quem ousa se contrapor às grandes decisões tem o mesmo destino do chefe do Grupo Wagner.

O sistema de espionagem russo nos países ocidentais funciona de forma parecida com o da antiga URSS, onde eles enviam para esses países pessoas disfarçadas de cidadãos comuns. Um caso curioso foi o de um homem que fingia ser brasileiro, para se candidatar a uma vaga de estágio no Tribunal Penal Internacional. É bom o Dudu de Niterói ficar esperto na hora de contratar um estagiário. Vai que ele é um espião russo?

Apesar de Putin e todo o Kremlin passarem a impressão de que são os gênios da estratégia, diversas falhas já foram cometidas. Em 2010, por exemplo, uma rede de espionagem russa foi descoberta pelo FBI e pela CIA. Talvez a maior falha de inteligência da Rússia tenha acontecido ao superestimar seu exército, pensando ser capaz de dominar toda a Ucrânia em pouco tempo.

Mas onde entra a China nesse xadrez geopolítico?

Até 2010, a CIA mantinha uma rede de espionagem em território chinês. Mas após uma série de erros, toda a operação foi revelada e diversas pessoas foram presas e/ou executadas. Desde a chegada de Xi Jinping ao poder, todo o sistema de espionagem chinês nos EUA e nos seus principais aliados se intensificou. Sabemos que o sonho da China é se transformar na maior potência econômica do mundo. Para isso eles estão dispostos a fazer qualquer coisa.

Diversas formas de espionagem foram adotadas por eles nos últimos anos. Uma das mais conhecidas é através de balões. Outra estratégia bem comum utilizada pelo governo chinês é chantagear comunidades chinesas em outros países, ameaçando os seus familiares que ainda vivem na China.

A China se tornou o principal ladrão de dados, roubando mais dados pessoais e empresariais dos EUA do que qualquer outro país. Nos últimos 2 anos, tanto o FBI quanto a inteligência britânica buscam formas de contornar esta situação, mas não é tão simples quanto parece.

Apesar de todos os países espionarem seus rivais, as estratégias para isso são bem diferentes. Não se pode esperar que uma agência de inteligência em países quase que ditatoriais tenham os mesmos princípios morais que em países teoricamente "livres".

Para conseguir contornar essa escalada de espionagem russa e chinesa, tanto os EUA quanto seus aliados precisarão definir novas estratégias. Apesar de não ser fácil, não é impossível. Uma alternativa que os EUA estão buscando é a parceria com o setor privado.

Nessa nova Guerra Fria, a tecnologia é a principal arma dos países. De todo modo, resta saber o que os governos serão capazes de fazer para mostrar ao mundo quem será a superpotência do século XXI.

😎Fala Dudu!

Sua carta sátira semanal do gestor do primeiro hedge fund de Niterói

Por @dudufromniteroi

Bom dia, meus sobrinhos!

Final de semana bem agitado, com várias desgraças pelo mundo. Aliás, por eu ter perdido meu jaleco de especialista em conflitos no Oriente Médio, não vou comentar o conflito em Israel. Além disso, eu posso opinar apenas sobre a única minoria a qual eu tenho lugar de fala: a pessoa natural de Niterói (que sofre contra cariocas).

Bora pras notícias de ontem?

AGORA PRONTO - Na semana passada, o Wall Street Journal soltou uma notícia de que a Rússia estaria planejando uma reeleição para o órgão de Direitos Humanos da ONU. Lembrando que eles foram kickados no início do ano por conta da invasão à Ucrânia.

Eu não sei dizer se esse plano é absurdo ou cínico, mas aparentemente é real. Se eles voltarem ao órgão após uma invasão sem sentido, vai ser como se a Bélgica fosse eleita para debater a pobreza no Congo ou se Portugal processasse o Brasil por Dom Pedro II ter ficado aqui.

ADIVINHA DA ONDE - No sábado, a gloriosa ginasta Rebeca Andrade bateu a Simone Biles (que é o Messi da ginástica feminina) na prova do salto no Campeonato Mundial de Ginástica Artística. Com isso, a nossa brazuca, que é o Pelé de Guarulhos da ginástica, papou o ouro.

Lembrando que é a primeira vez que a Rebeca ganha de Biles na final, mostrando que o BR agora é quem manda no esporte. A gente manda tanto que agora é o Messi quem é a Rebeca do fut.

GÊNERO, NÚMERO E GRAU - Ontem, foi anunciado que o Nobel de Economia de 2023 foi para a professora Claudia Goldin, da Universidade de Harvard (que é tipo a USP dos EUA).

As pesquisas delas são sobre as desigualdades salariais entre homens e mulheres no mundo. A grande ironia é que ela é apenas a terceira mulher a receber o Nobel desde 1969.

A professora vai levar pra casa o prêmio de 11 milhões de coroas suecas, o equivalente a cerca de US$ 999 mil. E se der a lógica, ano que vem um homem ganha de novo e ainda aumentam o prêmio. Parabéns à Doutora Cláudia.

🍷 Sommelier

Consumimos de tudo. Trazemos o que importa

📺 Vídeos

Por Thiago Duarte

Cansado de cair em clickbait no Youtube? Exausto dos vídeos que prometem ganhar dinheiro sem fazer nada ou dos vídeos que prometem acumular R$ 1 milhão começando com R$ 10?

Seus problemas acabaram!

Brincadeiras à parte, seus problemas acabaram de começar. E no vídeo de hoje eu te falo porque R$ 300 investidos todo mês não vão te deixar milionário em 30 anos. Pelo menos não do jeito que você está pensando. De quebra, ainda te mostro que quando o assunto é investir pouco dinheiro, pagar o INSS pode ser um melhor negócio.

E não é só o youtuber brasileiro que não sabe fazer conta. Tem banqueiro que está nesse balaio também. Por isso vale ver esse vídeo sobre o Credit Suisse e o que acontece quando quem não sabe fazer conta é o banqueiro:

⏳ Atemporalidades

Leia agora, leve pra vida.

“Não te deixes ensimesmar ao analisar o que poderá ser a sua vida inteira. Não te aflijas pensando em quais e quantas lutas terás ainda certamente que sustentar. A cada acaso, todavia, indaga a ti mesmo: ‘Há neste acidente algo de insuportável, de intolerável?’ e te envergonharás de ver resposta afirmativa. Não obstante, lembra-te de que não tens que cogitar nem do futuro nem do passado, mas apenas do presente. A tão pouco se reduz o presente quando posto dentro de seus limites, que deves repreender teu espírito por não ser capaz de resistir a essa insignificância.” — Marcus Aurelius, Meditações

“Não se esqueça de que toda mente é moldada pelas experiências mais banais. Dizer que um fato é banal é dizer que é um daqueles que mais concorreram para formação das tuas ideias essenciais. Ele entra na composição da tua substância mental mais do que 99% das imagens e das impressões sem valor. E acrescenta que as vistas estranhas, os pensamentos novos e singulares tiram todo seu valor desse fundo vulgar que os ressalta.” — Paul Valéry, Maus Pensamentos & Outros

Por hoje é só pessoal 🤙

Bebam café, se hidratem e tomem cuidado com clickbait.

Boa semana e bons negócios!

Tem alguma dúvida, crítica ou sugestão pro Diário? É só responder esse e-mail ou mandar uma mensagem no Twitter pros nossos editores @guilhermevcz@thiagomd_1 e @gabeboente.

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