Diário de Omaha

A estratégia da Raia Drogasil pra bater de frente com grandes empresas - Diário de Omaha 42

15min de leitura

Guilherme Cruz

Guilherme Cruz

Analista de Indústria

A estratégia da Raia Drogasil pra bater de frente com o Google, o Facebook e até com a Globo!

Por Rafael Monnerat

A Raia Drogasil fez seu Investor Day na quinta-feira (03/11) e teve um ponto que chamou a atenção no evento.

A rede de farmácias divulgou sua ambição de ser forte em Retail Media por meio da RD Ads. Se você não sabe, Retail Media é a venda de espaços publicitários dentro do site e de aplicativos de varejistas. Aqui no Brasil o Retail Media ainda está ganhando tração, mas lá nos Estados Unidos já é gigantesco. Só a Amazon gerou uma Receita de US$ 31 bilhões no ano passado com a venda de publicidade.

imagem drogaria raia

A ideia da RD é vender publicidade no seu site, apps e loja para os seus fornecedores, como as gigantes da indústria farmacêutica (Sanofi, Hypera) e as fabricantes de produtos de beleza (L’Óreal, P&G), e também para os sellers do seu marketplace.

Os dois principais trunfos da rede paulista pra agregar valor aos seus anunciantes são a grande base de clientes (atualmente são 46 milhões de clientes ativos, contando físicos e digitais) e também o alto nível de direcionamento que os anúncios poderão ter.

A parte dos clientes é fácil de entender, mas deixa eu te explicar sobre o direcionamento. O ponto aqui é que 97% das vendas feitas pela RD são identificadas, ou seja, a empresa tem os dados do cliente e, por isso, consegue saber quais são os seus hábitos de consumo.

Pra ilustrar, imagine o seguinte exemplo. Um cliente que costuma comprar sempre os mesmos produtos abre o app da Raia. Como a RD sabe o perfil do cliente, ela já vai anunciar de cara esses produtos que ele costuma comprar ou até os concorrentes das marcas que ele geralmente compra.

Outra coisa que a RD também pode fazer é, sabendo o que o cliente buscou, mas acabou não comprando no aplicativo, mostrar ofertas e oferecer cupons de desconto personalizados, incentivando a compra que não foi finalizada anteriormente.

Essa publicidade direcionada vale muito para o anunciante, que personaliza toda a comunicação para o perfil do consumidor correto e evita anunciar pra alguém que não tem nenhum interesse em comprar o seu produto.

Também fica bem claro o quanto é bom para a RD ter um braço forte de Retail Media. Além de vender o anúncio, ela também vai ganhar dinheiro quando vender o produto anunciado para o cliente.

A beleza da coisa é que a Margem do negócio de anúncios é muito maior do que a Margem do varejo da RD, além de alavancar as vendas nas farmácias e no marketplace, o que aumentaria também as Margens do varejo pela diluição dos custos fixos.

E dinheiro pra gastar com propaganda é algo que não falta para os fornecedores da RD. Dos 15 maiores anunciantes do Brasil em 2020, 5 vendem seus produtos nas gôndolas da Raia e da Drogasil, incluindo os dois maiores.

Nos últimos anos já vem acontecendo uma mudança nos investimentos comerciais e de marketing feitos pela indústria, que passou a investir mais em visibilidade no ponto de venda, reduzindo em proporção os investimentos na publicidade de massa, principalmente na TV.

Para as redes de farmácias essa mudança tem sido excelente, já que elas "vendem" a visibilidade no ponto de venda via desconto no valor das mercadorias. Essa venda de visibilidade se dá por exposição em áreas nobres da loja, como no caixa, nas pontas das gôndolas e nos armários de dermocosméticos.

Com o RD Ads a empresa quer abocanhar também uma parte da verba de marketing dos seus fornecedores, que hoje vai para a TV (Globo, Band) e Digital (Google, Facebook), além da verba comercial que já é usada pra "comprar" a exposição em áreas nobres da loja.

Dado o alto nível de investimentos em visibilidade nas lojas, nos últimos anos, já se brincava na indústria que um dia as farmácias ganhariam tanto dinheiro com a venda de visibilidade quanto com a de produtos. Parece que com o RD Ads, a maior rede de farmácias do Brasil vai abraçar de vez isso, criando mais um belo gatilho pra empresa.

Além desse ponto importantíssimo, tiveram outros dois pontos não menos relevantes que foram levantados durante o Investor Day da maior rede de farmácias do país. Mas isso a gente deixou pra contar no relatório que fizemos sobre o evento que tá lá na plataforma do VBOX.

Lá os nossos assinantes encontram todos os conteúdos que fizemos sobre a RD e várias outras empresas, incluindo vídeos destrinchando tudo sobre a rede de farmácias paulista, um relatório completo, relatórios de atualização trimestral, incluindo o do último trimestre e nossos modelos de Valuation em formato de planilha, atualizados também trimestralmente.

Como criar Crescimento de lucros a partir do mais completo NADA?

Por Thiago Duarte

foto de um mágico

Hoje em dia é natural a gente ver por aí umas reestruturações societárias que fazem o spin-off de controladas ou de negócios, que antes estavam "escondidas" dentro de um conglomerado. O exemplo brasileiro mais recente é a JSL (JSLG3), que virou Simpar (SIMH3), e separou os três principais negócios em empresas autônomas, com negociação na B3: Movida (MOVI3), Vamos (VAMO3) e JSL (JSLG3), todas elas com relatórios no VBOX.

Por mais que hoje isso seja uma regra, já que é bem mais fácil avaliar empresas separadamente do que dentro de um conglomerado, nem sempre foi assim.

Em meados da década de 60, nos EUA, a regra era diferente. Empreendedores criativos sugeriram que o crescimento poderia ser criado pela sinergia. E na cabeça deles, a sinergia era fazer com que 2 mais 2 fosse igual a 5 através de um "truque" de finanças.

Por isso duas empresas distintas, com lucros de US$ 2 milhões por ano, poderiam, quando combinadas, lucrar US$ 5 milhões. Por mais que isso desafie a lógica, foi aí que começaram a surgir os conglomerados.

Eu sei que você deve estar pensando aí que isso pode até ser possível. E de fato é. Quando duas empresas com negócios complementares se juntam é possível economizar custos e despesas, ganhar escala e com isso lucrar mais. Mas o que estava acontecendo não era exatamente isso.

Em vez de gestores com habilidades operacionais para aumentar a rentabilidade das empresas adquiridas, o que se via eram gestores com habilidades financeiras e intenções duvidosas.

No livro, Um Passeio Aleatório por Wall Street, Burton Malkiel dá um exemplo excelente:

"Suponhamos que temos duas empresas: a Able Circuit Smasher Company, de eletrônica, e a Baker Candy Company, que produz barras de chocolates. Cada uma possui 200 mil ações em circulação. Estamos em 1965 e ambas têm lucro de 1 milhão de dólares ao ano, ou 5 dólares por ação. Suponhamos que nenhuma das empresas esteja crescendo e que, com ou sem a fusão, os lucros continuariam no mesmo nível."

Essa é uma situação hipotética. Agora imagine que cada empresa tenha suas ações vendidas a preços diferentes. A primeira, uma empresa de eletrônica, está sendo negociada a um índice preço/lucro de 20. Logo, US$ 5 x 20 = US$ 100. A segunda, uma empresa sem graça de doces, está sendo negociada a um índice preço/lucro de 10. Logo, suas ações custam US$ 50. Acredite ou não, ações de tecnologia "tem essa mania" de negociar mais caras que as demais há décadas. Mas é justamente por essa razão e em uma situação dessas que a mágica acontece.

Basta que a Able Circuit se ofereça para incorporar a Baker Candy, uma empresa nada a ver com o seu negócio. Aos acionistas da Baker é feita uma proposta irrecusável: 2 ações da Able para cada 3 ações da Baker que possuírem. Em outras palavras, trocar US$ 150 por US$ 200: no brainer. E aí está o pulo do gato!

Antes, cada empresa estava dividida em 200 mil ações. Agora, juntas, o conglomerado Synergon foi criado e por causa da razão da troca das ações ele possui 333.333 ações e não as 400 mil anteriores. Assim, no ano seguinte, com a operação completada, o lucro de US$ 2 milhões das duas empresas vai ser dividido pelas 333.333 ações. Logo, quando a Synergon reportar os seus resultados, o lucro por ação da empresa vai ter saltado 20%, de US$ 5 para US$ 6.

foto de um mágico

Depois da primeira incorporação é só repetir a dose e no ano seguinte crescer lucros de novo. Apresentando crescimento de lucros ano a ano, a Synergon passou de uma empresa de tecnologia estagnada (Abe), para uma empresa de tecnologia E DE CRESCIMENTO. E o jogo continua enquanto a Synergon for capaz de permutar suas ações caras por ações com preço/lucro menor. Não importando a complementaridade entre os negócios.

Com esse crescimento de lucro, em se tratando de um conglomerado de tecnologia, o mais provável é que o múltiplo preço/lucro continue sendo 20. As ações da antiga Abe, que eram negociadas a US$ 100, agora são negociadas a US$ 120.

Acredite ou não, isso aconteceu de verdade. E não foram só investidores incautos, pessoas físicas sem conhecimento, que caíram no conto do vigário. Até porque o mercado de ações americano na década de 60 era predominantemente composto por fundos profissionais.

A Automatic Sprinkler Corporation (mais tarde chamada de A-T-O Inc e depois de Figgie International), fez isso de 1963 a 1968. O volume de vendas da empresa cresceu 1.400% por causa das aquisições. Só em 1967, quatro fusões foram completadas em menos de 25 dias.

As empresas adquiridas ajudaram a produzir um crescimento de lucros por ação bem forte. O mercado reagiu precificando o conglomerado com um índice P/L de 50 e o preço da ação foi de US$ 8 em 1963, para US$ 73 em 1967.

foto de um mágico

Mas o show de mágica durou até 1968. Foi quando a Litton Industries, o maior dos conglomerados, anunciou que o lucro do segundo trimestre daquele ano seria substancialmente menor do que o previsto. Para uma empresa que havia crescido lucros a 20% ao ano por quase uma década, a notícia foi recebida com choque. As ações caíram 40%. No entanto, o pior ainda estava por vir.

Em julho, a SEC (CVM americana) anunciou que abriu uma investigação para esclarecer as técnicas de fusões utilizadas e as informações passadas ao investidor. Além disso, juntamente com o subprocurador geral, ela manifestou preocupação com o cumprimento das leis antitruste do país, por causa da febre de fusões e aquisições que estava rolando.

Aí a barata começou a voar na sala! E a galera desesperou.

De tão grandes, os conglomerados nem sempre conseguiam controlar todas as empresas adquiridas. Justificar que 2 mais 2 eram 5 estava cada vez mais difícil e os preços despencaram. Em 1969, as ações da A-T-O caíram de US$ 73 para US$ 10. Da Litton, de US$ 120 para US$ 55.

Só essa queda do preço das ações já inviabilizou todo o processo e a mágica de criar crescimento tinha acabado. Afinal, era necessário que o P/L da adquirente fosse maior que o da adquirida, pra coisa toda funcionar.

No início do século XXI, o que entrou em moda foi a "desconglomeração", da qual a gente falou no início deste texto. E isso, também pode gerar algumas anomalias. Mas este assunto vai ficar para outra edição do Diário.

Até lá, caso você não queira ser enganado com índices duvidosos, a única maneira é analisar a fundo o negócio das empresas listadas. Se você não tem tempo pra fazer isso, a gente faz pra você no VBOX e te entrega tudo mastigado e fácil de entender.

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E se quiser saber mais sobre conglomerados, dá uma olhada nesse texto do Guilherme Cruz:

divulgação de outro texto

😎Fala Dudu!

Sua carta sátira semanal do gestor do primeiro hedge fund de Niterói

Por @dudufromniteroi

Fala, minha tropa! Duduzinho de Nikiti mais uma vez na voz.

Semana começando agitada por aqui, com um dos momentos mais aguardados do ano: a abertura da venda de ingressos pro show do passarinho brasileiro, o Thiaguinho. Solicitei ao estagiário Leozin que entrasse na pré-venda e comprasse 10 ingressos para os sócios. Abriu ontem e ele comprou os 10, mas acabou revendendo todos aos seus colegas, com um spread. Como foi um spread abaixo do CDI acumulado, ele foi liberado para curtir qualquer show em qualquer dia. Vaga reaberta!

Bora pras notícias de ontem?

O SILÊNCIO NÃO COMETE ERROS? - Tradicionalmente, após as eleições, todos os políticos relevantes se pronunciam e parabenizam o vencedor. Não é obrigatório, mas é uma demonstração de espírito esportivo e amor ao jogo democrático.

De forma completamente surpreendente, Bolsonaro até hoje não reconheceu sua derrota, se limitando a ficar em silêncio. Vários dos seus apoiadores foram às ruas e bloquearam importantes estradas (que deixou um dos meus analistas presos no Graal da Dutra, o que gerou um dano considerável ao cartão corporativo, pois ele teve que comprar 1 pão de queijo). O presidente ficou sem falar nada por 3 dias: nem condenou, nem apoiou.

No dia 03/11, ele fez um pronunciamento. Mas assim como um filme cult, foi preciso ver o discurso e depois ver a opinião de um analista pra saber se você teve que gostar ou não, de tão complexo que foi.

Dizem que o silêncio não comete erros… porém, já diriam os sábios do século XXI, "o silêncio de Anitta sobre isso é ensurdecedor".

DIGA-ME COM QUEM ANDAS, PARA QUE EU DIGA SE VOU ATRÁS - Se tem uma coisa que rola nesse país tupiniquim, é o jogo de interesse. A gente adora estar do lado certo da história (que é um círculo).

Após as eleições já tivemos vários personagens do país metendo o CLÁSSICO "nunca critiquei" pro Lula. Um dos mais intrigantes foi o Bispo Macedo, o dono da Record, que gravou um vídeo dizendo que Lula "ganhou supostamente segundo a vontade de Deus". Ou seja, papai do céu fez o L, tá?

Outra maravilhosa é a Folha de São Paulo, que já estava com saudade de ser chamada de foice. O jornal editou "Orçamento Secreto" para "Emendas do Relator", mas esqueceu de mudar a URL (o link), que ficou como antes. Não se mudam mais narrativas como antigamente.

NÃO VAI TER PAPAI NOEL? - Reclamaram comigo que eu só falo de política e nunca falo de bolsa. Agora que a mamãe CVM deixou a gente esconder a carteira, aí mesmo que eu não falo kkkk

Mas vamos lá. Finais de ano são uma época mágica, onde os homens vêem bondade nos corações uns dos outros, inclusive no mercado financeiro, que não tem coração pois também o alugou por IPCA+7% (péssimo deal). Tradicionalmente, fim de ano é um momento onde a bolsa fica em alta e chamamos isso de "rally de Natal"

Porém, segundo uma galera quant do Citi, esse ano não devemos ter jingo bells Eles sustentaram esse BO com o Fed não afrouxando a postura (e subindo menos os juros), além da instabilidade dos mercados globais (sem novidades).

Porém, a equipe quant da NAM fez um estudo importante e concluiu que, CASO o Brasil pape o hexa agora em dezembro, a chance de ocorrer um rally é de 99,17% (confiança de 95%). Os 0,83% vêm para caso um certo ex-atleta em atividade, que joga na lateral, faça um gol contra na estreia. Aí teríamos uma jihad em solo nacional.

Inclusive, a NAM anuncia aqui o investimento no nosso próprio time de futebol: Italiano de Niterói. Expectativa de jogar o próximo cariocão (e eu fazendo uma lateral direita melhor que o convocado)

E FOI ISSO FAMÍLIA! Se cuidem! E não viajem pro Sul de noite, pois tá cheio de OVNI. Se você morrer por ver um ET, provavelmente o seguro não vai te indenizar.

⏳ Atemporalidades

Leia agora, leve pra vida.

“*Outubro. Este é um dos meses peculiarmente perigosos para se especular com ações. Os outros são julho, janeiro, setembro, abril, novembro, maio, março, junho, dezembro, agosto e fevereiro.” — Mark Twain, *Pudd’nhead Wilson

“*Ao investir dinheiro, a quantia de juros que você deseja deveria depender de se você quer comer bem ou dormir bem.” — J. Kenfiled Morley, *Some Things I Believe

Por hoje é só pessoal 🤙

Bebam café, se hidratem e não fiquem limitados à análise de múltiplos.

Boa semana e bons negócios!

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