Qual a diferença entre Resultado IFRS e Regulatório?
Para entender a diferença entre esses dois tipos de resultados precisamos primeiro entender o que é o IFRS, e se você ainda não conferiu o nosso artigo sobre o tema lhe convido a acessá-lo clicando aqui.
IFRS
Temos empresas por todos os lugares do mundo, cada uma dessas empresas reporta seus resultados e demonstrativos respeitando as legislações locais, porém ao olhar globalmente isso poderia causar confusão e inelegibilidade para realizar comparações, por conta disso o IFRS foi criado.
A sigla significa International Financial Reporting Standards. O IFRS nada mais é que um conjunto de normas internacionais para a elaboração e apresentação de demonstrações financeiras, a língua padrão é o inglês.
Essas normas são desenvolvidas pelo International Accounting Standards Board (IASB), um órgão independente que tem como objetivo promover o uso de boas práticas contábeis em todo o mundo, fundado em 2001, sucedendo ao IASC – International Accounting Standards Committee.
Então como o IFRS define suas normas para os demonstrativos das empresas em alguns modelos de negócios os resultados são fortemente impactados e podem gerar uma opinião divergente do que realmente ocorre com ele.
Resultado IFRS
Nas companhias de energia, principalmente as transmissoras, o modelo de negócio dessas empresas consiste em arrematar concessões para construir linhas de transmissão de determinadas áreas e receber os pagamentos da energia disponibilizada ao público através de suas linhas.
E nesse pacote temos dois momentos que dividem esse período de concessão: O tempo de construção e o tempo de prestação do serviço propriamente dito.
A mudança está exatamente nesse ponto, no momento em que ela inicia suas construções ela já está cumprindo com parte do contrato.
Então é gerada uma receita associada à construção, essa receita sofre o impacto da variação nas taxas de inflação(IPCA e IGP-M) já que o cálculo dela é feito através de uma fórmula que utiliza esses índices de inflação para realizar a projeção.
O fluxo de caixa do projeto com o cálculo dessas receitas pode ser melhor visualizado na imagem abaixo:
Após a entrada em operação, o valor passa a ser corrigido mensalmente pela inflação(definido se IGP-M ou IPCA no momento da concessão), o cálculo é feito através da correção monetária dos recebimentos futuros trazidos a valor presente pela Taxa do Projeto.
Por fim, podemos mostrar como fica uma DRE de um resultado IFRS para mostrar os efeitos do IFRS nas receitas.
| Receita Operacional Liquida - IFRS |
| R$ MM | 3T22 | 3T21 | Var.% |
|---|---|---|---|
| Operação e Manutenção | 266,0 | 235,4 | 13,0% |
| Remuneração do ativo contratual de concessão | 269,4 | 199,0 | 35,4% |
| Correção monetária do ativo contratual de concessão | (81,3) | 176,7 | n/a |
| Implementação de infraestrutura | 51,5 | 408,4 | -87,4% |
| Total Receitas IFRS | 505,7 | 1.019,6 | -50,4% |
| Parcela Variável | (2,6) | (14,7) | -82,1% |
| Outras receitas operacionais | 7,3 | 25,5 | -71,2% |
| Receita operacional bruta | 510,4 | 1.030,4 | -50,5% |
| PIS e COFINS | (21,9) | (69,7) | -68,6% |
| ISS | (0,1) | (0,1) | -4,9% |
| ICMS | - | (0,1) | -4,9% |
| Quota para RGR, P&D, TFSEE, CDE e PROINFA | (24,6) | (18,1) | 35,7% |
| Deduções da receita operacional bruta | (46,6) | (88,0) | -47,1% |
| Receita Operacional Líquida | 463,8 | 942,3 | -50,3% |
Resultado Regulatório
O resultado regulatório nada mais é do que o resultado da empresa desconsiderando os impactos da inflação, por conta do IRFS, na receita.
Ele é regulamentado pela ANEEL todos os anos, então é uma forma válida de apresentar os resultados aos acionistas e interessados.
No resultado regulatório, a receita de construção sai de cena, os custos de construção entram como o que eles realmente são, CAPEX (Capital Expenditures). No Resultado regulatório, a receita geralmente é menor que no resultado IFRS.
Para nós, no fim, o mais importante é analisar bem os resultados das empresas que passam por essas intervenções, mas sempre atentos ao resultado regulatório.
Para fins de Valuation, é importante saber como a empresa realmente recebe o dinheiro, então a receita e os custos de construção não deveriam entrar no DRE (Demonstração do Resultado do Exercício).
Vamos deixar um resultado regulatório da mesma empresa para que seja possível identificar as diferenças.
| Receita Operacional Líquida - Regulatório |
| R$ MM | 3T22 | 3T21 | Var.% |
|---|---|---|---|
| RAP Concessionárias | 645,1 | 559,9 | 15,2 |
| Parcela Variável | (2,6) | (14,7) | -82,1% |
| Receita do Serviço | 642,5 | 545,2 | 17,8% |
| Outras receitas operacionais | 0,5 | 0,4 | 21,7% |
| Receita Operacional Bruta | 642,9 | 545,9 | 17,8% |
| PIS e COFINS | (34,4) | (29,8) | 15,5% |
| ISS | (0,1) | (0,1) | -4,9 |
| ICMS | - | (0,1) | -100,0% |
| Quota para RGR, P&D, TFSEE, CDE e PROINFA | (24,6) | (18,1) | 35,7% |
| Total Deduções | (59,1) | (48,1) | 22,9% |
| Receita Operacional Líquida | 583,9 | 497,5 | 17,4% |
Como é possível observar, o IFRS afeta muito o resultado da empresa. Por isso, é importante entender a diferença entre esses dois tipo de divulgação de resultados, mas como pudemos ver o resultado que mais vai nos interessar por representar o resultado real da empresa é o Resultado Regulatório.
