Saúde

Do Cardiolab ao Maior Grupo Hospitalar do Brasil: A História da Rede D'Or

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Saulo Pereira

Saulo Pereira

Redator

A história da Rede D’Or começa quando o médico Jorge Moll Filho decidiu empreender após voltar da sua especialização em cardiologia na Universidade de São Francisco (EUA).

Em 1977, ele e a sua esposa Alice criaram a Cardiolab, empresa que fornecia exames cardiológicos para outros médicos. Em 1994, com 49 anos, Jorge decidiu arriscar um pouco mais.

O imigrante português Gaspar D’Orey, dono de um hotel no bairro carioca de Copacabana (o Copa D’Or), estava doente e queria voltar para Portugal.

Imagem do Copa Dor

Mas antes precisava saldar uma dívida com Jacob Barata, um dos principais investidores e empresários do Rio de Janeiro. Para quitar a dívida, o português entregou o hotel como parte do pagamento.

Outra parte da dívida foi assumida por Jorge, a quem D’Orey tinha emprestado dinheiro para a expansão da Cardiolab. Nisso, um dos filhos de Barata, Daniel, passou a se encontrar mensalmente com Jorge para receber o pagamento da dívida.

Nesses encontros, o cardiologista convenceu Daniel de que transformar o hotel Copa D’Or em hospital seria o “negócio da vida deles”. Daniel se entusiasmou, mas seu pai, Jacob, não.

Em dezembro de 1994, Daniel Barata foi sequestrado e assassinado, uma tragédia que abalou profundamente sua família. Com a morte de Daniel, Jacob decidiu realizar o desejo de seu filho e levou à frente a sociedade com Moll.

Imagem da Notícia do Assassinato

Ao mesmo tempo que buscava licenças para o Copa D’Or, o que levou quatro anos, Moll foi convidado por outros médicos a se tornar cotista de um hospital em construção na Barra da Tijuca, o futuro Barra D’Or.

Nessa brincadeira, ele acabou comprando a participação dos outros médicos com empréstimos de Jacob Barata. Dessa forma, em 2001, Moll já tinha 10% dos 8.200 leitos da cidade. O momento também ajudou: era o início de um ciclo de expansão inédito para o mercado de saúde.

Com o aumento do número de pessoas com empregos formais, aumentaram número de usuários de planos de saúde no Brasil: de 35 milhões, em 2004, para 44 milhões em 2010, segundo a ANS (Agência Nacional de Saúde suplementar). Milhões de brasileiros abandonaram os sucateados hospitais públicos e passaram a usar hospitais privados.

Beneficiários de PLanos privados no Brasil

Em 2010, a Rede D’Or já era o maior grupo hospitalar independente do país, com 13 unidades.

Nesse mesmo ano, Moll vendeu a subsidiária de Laboratórios e Exames (Cardiolab) para o grupo Fleury, por mais de US$ 750 milhões. Com a grana no bolso, passou a adquirir mais unidades hospitalares e dar ainda mais tração no plano de expansão.

Nessa época, o governo mantinha o mercado de hospitais privados fechado para investidores estrangeiros. Dependendo do momento de cada empresa, podia ser bom ou ruim.

Quem queria vender o negócio para um gringo ou abrir o capital na bolsa estava de mãos atadas.

No entanto, para quem queria crescer — como a empresa de Jorge Moll — era ótimo. Foi aí que o BTG Pactual entrou no jogo e comprou 25% da Rede D’Or.

O que ninguém esperava era que esse esquema da concorrência dos gringos acabaria em 2015. O fim se deu através de uma delação premiada do doleiro Lúcio Funaro, aquele mesmo envolvido no Escândalo do Banestado, no Mensalão, na Operação Satiagraha e, claro, na Lava Jato.

Foto do Lucio Funaro

Funaro falou na sua delação premiada que o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (o famoso príncipe suíço), recebeu uma “grana por fora” da Amil e da Rede D'Or para aprovar uma MP que permitia a participação de capital estrangeiro nos hospitais.

Ainda segundo o doleiro, a negociação teria se dado em 2014 entre Cunha, Edson Bueno, representante da Amil, e André Esteves, dono do Banco BTG, que ainda era sócio da Rede D'Or. Todas as partes negaram as acusações e a história acabou por aí.

Acontece que no mesmo ano a presidente Dilma Rousseff aprovou essa MP e a Rede D'Or recebeu R$ 5 bilhões em aportes de dois fundos estrangeiros, o Carlyle e GIC.

O BTG vendeu a sua participação para os dois fundos gringos, saindo totalmente da sociedade.

Apesar da forte expansão que a Rede D'Or vinha alcançando, as operadoras verticalizadas, como Hapvida e Intermédica estavam ganhando bastante tração e holofote, acirrando cada vez mais a concorrência.

A verticalização na saúde ocorre quando um plano de saúde contratado oferece uma rede própria de serviços, tais como:

  • Hospitais;
  • Clínicas;
  • Laboratórios;
  • Ambulatórios.

Ou seja, toda esteira de serviços não dependem necessariamente de outros operadores.

Foi aí que, em 2019, a Rede D'Or deu a sua primeira grande tacada no segmento de planos de saúde, comprando 10% da Qualicorp. Ao representar entidades de classe nas negociações com as seguradoras, a Qualicorp consegue tornar os planos coletivos mais acessíveis.

Podemos dizer que o timing desse investimento foi bem errado. Em 2019, a ação da Qualicorp estava cotada em cerca de R$ 30,00 e hoje o preço da ação é de R$ 2,20. Em outras palavras, a Rede D'Or tomou um prejuízo de 90%.

Mas você acha que a família Moll parou por aí?

A maior tacada da Rede D'Or ocorreu em 2022, com a fusão com a SulAmérica, a segunda maior seguradora de planos de saúde do país, segundo a ANS.

Basicamente, a SulAmérica ganha dinheiro vendendo planos de saúde, que no 3T2023 totalizavam cerca de 5 milhões de vidas. O negócio se deu por meio da emissão de 308 milhões de ações de RDOR3, que foram distribuídas para os acionistas da SulAmérica.

O fechamento da operação avaliou a SulAmérica em R$ 15 bilhões, um prêmio de 49% em relação à cotação da época.

Com todas as aquisições feitas pelo caminho, a Rede D’Or fechou o ano passado com uma Receita Líquida de R$ 23 bilhões, tendo apresentado um impressionante crescimento de 21% ao ano desde 2013.

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