Bancos

Análise de Bancos: Como analisar os bancos?

20min de leitura

Misael Guedes

Misael Guedes

Redação

Para entendermos como analisar os bancos é importante voltar um pouco até a origem dessas instituições, vamos apresentar alguns conceitos de base para que entendamos o contexto da análise dos bancos.

Sistema Financeiro Nacional(SFN)

O Sistema Financeiro Nacional é composto por um conjunto de instituições que trabalham para manter o fluxo de recursos entre os poupadores e os que buscam capital. Isso falando de forma mais geral.

O SFN é constituído pelo Conselho Monetário Nacional(CMN), o Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional(CRSFN), o Banco Central do Brasil(Bacen), a Comissão de Valores Mobiliários(CVM), as instituições financeiras bancárias e as instituições não-bancárias, os bancos múltiplos, as corretoras distribuidoras de títulos e valores mobiliários e os agentes especiais.

O Conselho Monetário, o Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional, o Banco Central e a Comissão de Valores Mobiliários são órgãos normativos desse setor.

As instituições financeiras bancárias são o que conhecemos como bancos comerciais além das cooperativas de crédito.

Os bancos comerciais são especialistas em crédito de curto e médio prazo, fazendo o giro da economia e comércio acontecerem através da indústria, das empresas que nos prestam serviços ou vendem seus produtos e nós pessoas físicas(ou jurídicas), além disso também participam do crédito rural.

As cooperativas por sua vez são semelhantes porém com um detalhe bem específico, os serviços são oferecidos e prestados apenas para seus associados.

O órgão que é responsável pelas regras e normas contábeis dos bancos é o Conselho Monetário Nacional. Já o Banco Central é responsável pelas normas específicas.

Além disso, essas normas e regras, tanto específicas quanto contábeis devem estar alinhadas com a Lei das SA e devem ser divulgadas através do Plano Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional, o Cosif.

Balanço Patrimonial dos Bancos

O balanço dos bancos se inicia como qualquer outro, possui Ativos, Passivos e Patrimônio Líquido. Porém já podemos notar algumas diferenças ao abrir essas contas. De forma breve resumimos as principais linhas de cada uma delas.

No Ativo temos tanto o Circulante como o Não Circulante, que podemos chamar também de Realizável de Longo Prazo. Dentro dessas linhas temos: Disponibilidades, Aplicações Interfinanceiras de Liquidez, Títulos e Valores Mobiliários, Relações Interfinanceiras, Relações Interdependências, Operações de Crédito, Operações de Arrendamento Mercantil, Outros Créditos, Outros Valores e Bens.

Já no Permanente do Ativo temos: Investimentos, Imobilizado de Uso, Imobilizado de Arrendamento, Diferido e o mais conhecido Intangível.

No Passivo, de forma semelhante temos: Depósitos, Captações no Mercado Aberto, Recursos de Emissão de Títulos, Relações Interfinanceiras, Relações Interdependências, Obrigações por Empréstimos, Obrigações por Repasses do País, Obrigações por repasses do Exterior e Outras Obrigações.

No Patrimônio Líquido temos as seguintes contas: Capital Social, Reservas de Capital, Reservas de Lucro, Ajuste ao Valor de Mercado e Ações em Tesouraria.

Como os bancos podem abrir agências no exterior, dentro do Capital Social temos Domiciliados no País e Domiciliados no Exterior.

Demonstrações de Resultado do Exercício

As DREs dos bancos são da mesma forma particulares dessas instituições. Vamos descrever as linhas que o compõem.

Receitas de Intermediação Financeira, Despesas de Intermediação Financeira, Resultado Bruto de Intermediação Financeira, Outras Despesas/Receitas Operacionais, Resultado Operacional, Resultado Não Operacional, Resultado Antes da Tributação, Provisão para Imposto de Renda, Imposto de Renda Diferido, Participações/Contribuições Estatutárias, Reversão dos Juros sobre Capital Próprio, Participações Minoritárias e Lucro/Prejuízo do Exercício.

Como funcionam os Bancos?

Como sabemos, os bancos são instituições que trabalham tomando dinheiro emprestado e emprestando dinheiro.

Ao colocar seu dinheiro na poupança ou em qualquer investimento direto do banco você está emprestando dinheiro para o banco.

E o banco, como intermediador, tem permissão para emprestar esse dinheiro para outras pessoas, cobrando juro, sendo que esses juros é maior que o juros que ele prometeu pagar para você e para quem o emprestou através dos depósitos. Esse é o chamado e conhecido Spread Bancário.

Além disso, os bancos têm permissão para trabalhar alavancados, usando o dinheiro que as pessoas depositaram nele para emprestar para outras pessoas. E quando um banco chega ao ponto de insolvência ou falência é basicamente por isso, pela alavancagem atrelada à inadimplência.

Ao emprestar dinheiro o banco analisa cada pessoa ou empresa que ele libera crédito e os dispõe cada um numa faixa de risco, que vai do bom pagador ao potencial devedor com base na quantidade de dias que esses tomadores ficaram sem pagar suas dívidas, os níveis são separados de 15 em 15 dias, e vai até 180 dias, o banco através dessa análise sabe que em muitos casos, o tomador do crédito não vai pagar sua dívida.

Para isso ele faz provisões justamente para cobrir esses possíveis devedores, essa linha se chama Provisões para Devedores Duvidosos, ou PDD como é mais conhecido.

Todos esses empréstimos são reunidos no que é chamado de carteira de crédito. E esse é um dos pontos mais importante na análise de um banco, avaliar a qualidade de crédito, pois se a carteira de um banco qualquer possui uma qualidade muito boa tendo a grande maioria de seus créditos vinculados à bons pagadores garante que possivelmente terá seus lucros de forma constante e sadia, sem grandes riscos.

Ao contrário do banco que tem em sua carteira de crédito muitos tomadores com risco alto de não pagamento de suas dívidas, esse banco corre um grande risco de ter problemas de solvência caso a inadimplência seja muito alta.

Porque os bancos não têm EBITDA?

Como falamos acima, o lucro dos bancos vem de suas operações financeiras através dos empréstimos que realiza para os tomadores com o dinheiro emprestado pelos poupadores, diferentemente das empresas comuns que obtêm lucro através da venda de seus serviços e produtos.

Nos bancos o lucro vem do spread bancário, que é basicamente a diferença entre o juros que ele paga pelo dinheiro emprestado e o juros cobrado para quem ele empresta.

Então podemos ver que não faz muito sentido um banco ter o EBITDA que é justamente o lucro antes dos juros e taxas, já que essa é a forma que ele obtém seu lucro.

Como analisar os Bancos?

Como vimos, existem muitas peculiaridades nos Balanços e DREs dos Bancos, o que dificulta um pouco a análise, na sua operação tem podemos notar alguns fatores que tornam a análise dos bancos única.

Podemos citar aqui que o ativo e passivo dos bancos não são bem definidos, e para explicar isso citamos acima que os bancos podem usar parte de seu passivo para realizar empréstimos, o que gera uma renda que vai pra receita financeira.

Ou seja, o endividamento de um banco é diferente do endividamento de uma empresa comum porque a principal atividade do banco é pegar dinheiro emprestado para o emprestar novamente.

Mencionamos acima que um dos principais pontos que deve ser analisado nos bancos é sua carteira de crédito, não a carteira em si, mas a sua qualidade.

Essa análise pode ser realizada através do Índice de Basiléia, do PDD, do PDD/LL e análise dos atrasos na carteira de crédito através da razão entre os créditos em atraso e o total da carteira.

É importante também analisar a rentabilidade do banco, pode ser observado através do ROE, ou como alguns bancos utilizam, ROAE.

Aqui vai uma dica, ao invés de usar o Patrimônio Líquido, é preferível usar o patrimônio de referência, o motivo é simples, é através dele que a alavancagem e a carteira de crédito tem seu tamanho definido.

A estrutura de um banco influencia e reflete na sua rentabilidade, porém é importante salientar que um banco mais enxuto em sua estrutura tem mais facilidade de passar por grandes crises, a complexidade na sua estrutura pode causar alguns problemas e aumentar o risco.

Um conceito que pode ser utilizado na análise de bancos é o Índice de Eficiência, mas atenção, cada banco utiliza uma forma de cálculo diferente. Por isso é importante definir seu índice próprio para usar em todos os bancos que for analisar.

Os bancos também passam por análises, podendo ser mais confiáveis ou menos confiáveis. Quanto mais confiável mais barato ele consegue captar dinheiro. Porém se cobrar uma taxa muito alta para emprestar, pode ser que não tenha empréstimos suficientes para rentabilizar sua carteira.

Da mesma forma que se ele tem muitos(muitos mesmo) empréstimos, pode ser que o crédito seja de má qualidade(tomadores mau pagadores), por isso é importante verificar essa relação entre a captação do banco e os empréstimos que ele concede.

O custo de captação menos a receita de empréstimos é o spread bancário que falamos lá em cima, o que não falamos lá mas falamos aqui é que o spread bancário é também conhecido como NIM, que significa Net Interest Margin, ou em bom portguês, Margem Líquida de Juros.

E ao analisar o NIM de um banco é importante observar os indicadores de qualidade do crédito. É interessante ter um NIM alto mas mais importante ainda é garantir que esse valor será recebido.

Podemos citar aqui o exemplo das instituições financeiras que oferecem crédito para negativados, ou pessoas com baixo score de crédito. Os juros cobrados por essas instituições é bem alto, já prevendo o risco e a chance de não receber.

Por último mas não menos importante, pelo contrário até, é fundamental ler os relatórios de auditoria, esses relatórios indicam quando algo não está certo.

Como um banco quebra?

A maior parte, quase todos na verdade, dos bancos que quebraram foi pelo mesmo motivo: crise de liquidez, ou seja, os bancos não tinham recursos para pagar seus compromissos de curto prazo. Isso é possível conferir no balanço, porém antes mesmo da divulgação, o banco já pode dar sinais de que as coisas não vão bem. Caso aconteça, o banco já dará esses indícios ao pagar caro para captar recursos.

Com isso a NIM é reduzida. Caso um banco dê prejuízo em algum trimestre, o patrimônio líquido baixa, o que faz o Índice de Basiléia cair. Esse tipo de situação acontece mais com bancos menores, que para competir com os grandes bancos usam estratégias mais arriscadas e enérgicas para captar recursos e aumentar sua carteira de crédito.

Artigos que podem te interessar

VAROS 2024

Todos os direitos reservados