Diário de Omaha

Kasparov, Guardiola e, voilá, Temos uma Carteira - Diário de Omaha 54

16min de leitura

Pedro Ávila

Pedro Ávila

Analista de Fundos Imobiliários

Kasparov, Guardiola e, voilá, Temos uma Carteira

Por Pedro Ávila

O Enigma

Nova York, outubro de 2012

"É impossível", repetia Kasparov enquanto terminava seu prato de salada.

Não satisfeito, Guardiola insistia em perguntar o que o impedia de vencer a jovem estrela em ascensão e futuro campeão mundial de xadrez, Magnus Carlsen.

"Mas, Garry, se você sente que tem capacidade, por que não conseguiria vencê-lo?", insistia Guardiola.

Naquele momento, o futebolista já havia entendido que o "impossível" não era uma resposta, mas sim, um enigma.

A chave para desvendá-lo veio de sua esposa, Cristina Serra: "Talvez seja um problema de concentração".

Finalmente, Daria Tarasova, esposa de Kasparov completou:

"Se fosse só uma partida e durasse apenas duas horas, Garry poderia vencer Carlsen. Mas não é assim: a partida se prolongaria por cinco ou seis horas, e ele não quer viver outra vez o sofrimento de passar tantas horas com o cérebro funcionando a todo vapor, calculando possibilidades sem descanso. Carlsen é jovem e não tem consciência do desgaste que isso provocaria. Garry tem, e não gostaria de voltar a passar por isso durantes dias a fio. Um conseguiria se manter concentrado por duas horas, o outro, por cinco. Por isso seria impossível ganhar".

O relato, presente no capítulo inicial do livro "Guardiola Confidencial", conta que naquela noite, Guardiola pensou muito e dormiu pouco.

Esse, que provavelmente foi um dos maiores jantares da última década, combina elementos, narrativas e personagens perfeitos para explicarmos a motivação e a metodologia da nossa carteira.

A propósito, é com muito prazer que anunciamos a Carteira Recomendada de Fundos Imobiliários, nossa primeira carteira recomendada na história.

Com a sua licença, gostaríamos de continuar esse relatório usando e abusando das analogias.

Xadrez, futebol, mercado e nada mais, seja bem vindo à carteira de FIIs da VAROS!

Tempo, a Explicação para Quase Tudo

O encontro entre um dos maiores enxadristas de todos os tempos e um dos maiores treinadores de futebol da história não foi por acaso. Na verdade, Kasparov tinha todas as características que Guardiola admirava: rebeldia, esforço, inteligência, dedicação e persistência.

Só que para vencer Carlsen, Kasparov precisava de um elemento extra o qual não estava sob seu controle: o tempo. Os 27 anos de idade que os separavam, pesavam.

Não dava para retroceder no tempo, ter de volta seus 20 e poucos anos e, consequentemente, conseguir manter a concentração absoluta por 5 horas seguidas.

Nos investimentos, o fator tempo também é imprescindível a um investidor, mas não por ser "velho" demais. Aqui, a razão é um pouco diferente.

Primeiro, é porque ninguém fica rico investindo. Investir é só uma forma de manter a riqueza. Para começar a ganhar dinheiro, não existe outro caminho a não ser o trabalho.

E trabalhar exige tempo. Seja o tempo gasto realizando as tarefas, seja o tempo gasto se especializando na profissão.

O problema aqui é que ninguém consegue fazer o dia ter mais de 24 horas e, mesmo se fosse possível aumentar o número de horas do dia, ninguém conseguiria manter a concentração no trabalho e no mercado.

É um trade-off!

A indústria de Fundos Imobiliários no Brasil traz centenas de opções. É impossível trabalhar para construir riqueza e ao mesmo tempo se manter antenado em pelo menos 10% dos FIIs disponíveis.

Só que aqui, a chave para a solução do enigma é mais óbvia do que a versão original proposta por Kasparov.

A resposta se resume a "nós".

Afinal, estamos mais para Magnus Carlsen do que para Garry Kasparov. Não pelo fato de sermos os atuais melhores do mundo, mas sim por sermos jovens, obstinados e capazes de passar, todos os dias, 12 horas concentrados no mercado, calculando centenas de possibilidades.

Se para a imensa maioria de vocês existe o trade-off, para nós a situação é bem diferente. Acompanhar o mercado já é o nosso trabalho, podemos gastar todo o tempo e esforço mental nisso.

Seguir uma carteira recomendada feita por nós é como um amador participar de um jogo do campeonato mundial de xadrez tendo um Grande Mestre soprando o próximo movimento através de um ponto eletrônico em seu ouvido.

Só que nesse caso, ninguém vai ser acusado por trapaça. E o melhor, enquanto o adversário estiver queimando neurônios pensando 5 jogadas à frente, você vai estar planejando mentalmente a ordem das tarefas que serão realizadas no seu próximo dia de trabalho.

Voltando ao jantar e degustada a entrada, vamos ao prato principal.

Nova York não é exatamente onde alguém da elite do futebol europeu estaria em outubro. Acontece que poucos meses antes, Guardiola havia se afastado do futebol para viver um ano sabático em Nova York.

Nos anos anteriores, Guardiola era o treinador do Barcelona. Ele foi o responsável pelo período mais vitorioso da história do clube, provavelmente inigualável. Logo na primeira temporada conquistou 6 títulos. Nos 4 anos que dirigiu a equipe conquistou 14 dos 19 títulos possíveis.

Ninguém conseguia entender a decisão de deixar o clube, mas verdade é que ele estava esgotado devido aos 4 intensos anos à frente do clube. O ano em Nova York era para renovar as energias e, principalmente, conhecer novas ideias.

O último relatório completo que subimos no VBOX foi há aproximadamente 2 meses. E isso não é por acaso. Durante esse tempo, já com o objetivo de montar a carteira, também nos concentramos em conhecer novas ideias.

Entre ler um relatório gerencial, checar as demonstrações financeiras e contactar a área de Relações com Investidores de um Fundo Imobiliário para sanar algumas dúvidas, leva tempo. E nos últimos meses foram dezenas de Fundos analisados.

Na dúvida, somos apaixonados pela dúvida. Nós acreditamos que só conseguimos encontrar a melhor solução depois de analisar todas as opções. É quase como um Grande Mestre faria, analisamos todas as jogadas possíveis antes de realizar o próximo movimento. Digamos que a obsessão por esclarecer as dúvidas faz parte da nossa essência.

Só após todo esse processo de conhecer novas ideias é que nos sentimos confortáveis para fazer o que estamos fazendo agora, recomendar a carteira. Mas, antes de apresentá-la, precisamos explicar um pouco da metodologia empenhada na sua montagem.

Torres, Peões, Laterais e Atacantes

Niterói, março de 2023

Um portfólio é como um tabuleiro de xadrez ou um campo de futebol. Cada peça possui sua própria habilidade e limitação. É importante saber como posicioná-las para maximizar a eficiência.

Não se vence sabendo jogar apenas com as torres, é preciso saber utilizar os peões. Não se escala um time com o goleiro e 11 atacantes, a defesa é importante, seja para proteger o rei ou o gol. Um atacante, por mais que seja um exímio cabeceador, não vai conseguir marcar nenhum gol se o lateral não souber cruzar a bola. No fim, as peças precisam se complementar.

Quando montamos o esqueleto da carteira, nos preocupamos em escolher peças que juntas maximizem suas qualidades e minimizem suas fraquezas.

Primeiro, definimos que a carteira terá 10 Fundos Imobiliários.

Não escolhemos a quantidade de Fundos na carteira através de um número cabalístico, pelo contrário. Uma série de artigos sobre diversificação do mercado brasileiro mostram que para uma carteira de pesos iguais, o ponto de inflexão da diversificação está entre 8 e 12 ativos. A partir daí, o ganho marginal da adição de um novo ativo é ínfimo, o que não justifica o custo e o tempo gastos em sua adição e monitoramento.

Em outras palavras, acabamos de dizer que todos os ativos da carteira terão o mesmo peso investido. No caso inicial, com 10 Fundos, cada um receberá um investimento de 10%. Também dissemos que o limite para o crescimento da carteira é de 12 Fundos.

Depois, definimos critérios que tornam um Fundo indesejável.

Para fazer parte da carteira o Fundo precisa ser aberto para todos os investidores, ou seja, excluímos todos os fundos exclusivos para investidores qualificados. Também excluímos todos os fundos com volume médio de negociações diárias inferior a R$ 100 mil nos últimos 3 meses. Afinal, liquidez faz bem e todo mundo gosta.

A partir daí, dividimos nossa carteira em duas partes, cada uma com 5 Fundos.

Vamos à distribuição das peças…

As Brancas: FIIs de Papel

A primeira parte da carteira é exclusiva para investimento em Fundos de papel, tanto Fundos que invistam majoritariamente em CRIs, quanto Fundos focados em CRAs. O objetivo aqui é gerar renda através de dividendos.

Para isso, escolhemos os Fundos de tal forma que cerca 50% da receita dessa primeira parte da Carteira esteja atrelada ao CDI, e 50% esteja atrelada ao IPCA. Vivemos tempos de incerteza e não queremos ser surpreendidos por mudanças bruscas, na base da canetada, em alguma dessas taxas.

Acredite, aqui no Brasil isso é mais comum do que você pensa.

Também nos preocupamos em balancear o risco dos CRIs e CRAs. Nessa primeira parte da carteira, 50% dela está alocada em títulos High Grades, aqueles com o menor risco de crédito, e 50% está alocada em títulos High Yields ou Middle Risk, aqueles de maior risco e, consequentemente, maior rentabilidade.

O mais importante que você precisa saber é que selecionamos os Fundos que apresentam a maior rentabilidade esperada para determinado nível de risco. Ou seja, buscamos o maior indexador e taxa de emissões possíveis para determinado nível de risco.

Outros filtros que utilizamos para mitigar o risco dos Fundos de CRA foi a de não inclusão daqueles em que exista devedor que representa 15% ou mais do portfólio ou que apresenta menos de 60% da carteira investida em CRIs Sênior.

Para os fundos de CRI, excluímos aqueles que apresentam mais de 7,5% da carteira alocada em um mesmo devedor ou que invistam menos de 60% da carteira em CRIs Sênior.

As Pretas: FIIs de Tijolo

Enquanto a primeira parte da carteira era focada no recebimento dos dividendos, essa segunda parte tem o foco um pouco diferente, embora os dividendos continuem no centro da meta.

Dos 5 Fundos que compõem essa segunda parte, 4 são de Tijolos e 1 é Fundo de Outros Fundos (FoF).

O objetivo ao investir no FoF é o ganho de capital. Buscamos por um Fundo que invista majoritariamente em Fundos de Tijolos, com uma carteira com bons ativos, que cobre taxas justas e que, principalmente, esteja descontado. Os duplos descontos presentes atualmente no mercado são bons demais para a gente deixar passar sem tirar proveito.

Dos 4 Fundos de Tijolos, buscamos alocar a metade em Escritórios Corporativos e a metade em Galpões Logísticos. Perceba que não necessariamente são 2 FIIs de Logística e 2 FIIs de Escritório. Não nos importa a classificação, mas sim os ativos que compõem a carteira.

Poderia ser, por exemplo, 4 FIIs híbridos que no total, metade do portfólio esteja em Escritórios e metade em Galpões.

Para escolher esses Fundos, primeiro, eliminamos aqueles com forte dependência de um imóvel ou inquilino.

Foram excluídos todos os Fundos em que um único inquilino representa mais de 25% da receita ou que um imóvel representa mais de 50% da receita. Também foram excluídos todos os Fundos com 3 ou menos ativos na carteira.

Exemplos recentes de calotes de inquilinos, como o da Lojas Americanas, deixaram uma lição.

Por fim, selecionamos aqueles Fundos que acreditamos ter potencial de gatilho no curto prazo. Por exemplo, Fundos que estejam na iminência de anunciar novos inquilinos para áreas vagas ou Fundos que, na nossa visão, estão próximos a realizar venda de algum imóvel com bastante potencial de lucro.

O objetivo é surfar no aumento da renda, seja de dividendos recorrentes ou extraordinários.

A Carteira

Mais uma vez, lembramos que o ideal é o investimento nos ativos escolhidos de forma conjunta. Assim como em um time de futebol, cada Fundo está na carteira por um motivo diferente e todos se complementam.

Tanto no mercado financeiro quanto no xadrez, a experiência é fundamental. Os anos de análise nos trouxe uma compreensão mais profunda desse jogo e das suas nuances. Ao indicar uma carteira, nos certificamos que em diferentes cenários, a queda de um dos Fundos pode ser compensada pela subida de outra.

Sim, estamos quase implorando para que você entenda a importância da diversificação.

Tendo dito tudo isso, a composição da carteira é a seguinte…

...

É, acho melhor esperarmos o lançamento oficial pra não estragar a surpresa!

Então marque a data: Dia 15/03, nossa carteira de FIIs vai ao ar. TODOS que possuem ou comprarem o VBOX de FIIs terão direito à nossa carteira recomendada e aos dois relatórios mensais.

Nesses relatórios estarão comentários sobre a performance da carteira, eventuais inclusões e retiradas de Fundos dela e, principalmente, o racional por trás das teses. Estamos sempre em alerta para as manobras do mercado e prontos para mudar as teses de investimento, aproveitando as oportunidades.

E vocês já nos conhecem! Se nossos textos e análises de ações já são as mais completas do mercado, imagina dos Fundos Imobiliários que muita gente se limita ao básico? Vamos até o fundo da tese.

Se eu fosse você, não ficaria de fora mesmo! Aproveite o VBOX aqui nesse link!

Onde estão os fossos do castelo?

Por Guilherme Cruz

Warren Buffett, maior investidor de todos os tempos, é tão bom em investir quanto em criar analogias pra explicar os seus métodos de investimento. Uma de suas citações conhecidas é: "uma boa empresa é como um castelo forte com um fosso profundo em volta. Quero tubarões no fosso. Quero que ela seja intocável".

O "fosso" (moat em inglês) nada mais é do que uma metáfora para as vantagens competitivas de uma empresa. As vantagens competitivas, por sua vez, são o que diferencia uma companhia e a protege de perder market share para os seus concorrentes no longo prazo.

Mas, pra falarmos de vantagens competitivas a fundo, vamos deixar o Buffett de lado e ir para Bruce Greenwald, professor da Columbia University e conhecido como "o guru dos gurus de Wall Street". Para Greenwald um negócio com verdadeiras vantagens competitivas deve apresentar 3 fatores distintos: clientes cativos, tecnologia proprietária e economia de escala.

Vamos analisar esses 3 fatores na operação da WDC Networks (LVTC3).

Abrindo um parêntesis aqui, pra quem não conhece, a WDC Networks é uma empresa que atua oferecendo equipamentos e serviços para setores como o de telecomunicações, soluções corporativas, áudio e vídeo profissional e energia solar. Ela se destaca por trabalhar com o modelo de negócio "TaaS – Tecnologia as a Service", que consiste em fornecer "produtos como serviço". Na prática, ela faz uma assinatura recorrente, locando o equipamento.

Fechado o parêntesis, voltemos aos 3 fatores:

Começando pelos clientes cativos: se você olhar no dicionário, vai ver que "cativar" tem relação tanto com "perder a liberdade" quanto com "atrair". Por incrível que pareça, ambos fazem sentido aqui. Clientes podem ser cativados pelos custos de troca (switching costs) do produto ou serviço. Ninguém vai querer trocar um data center, um conjunto de placas solares ou um sistema de monitoramento de segurança do dia pra noite. Em outras palavras: se custa dinheiro, tempo e esforço para um cliente mudar de um fornecedor para outro, os "operadores históricos" têm uma vantagem sobre os concorrentes. Como vimos, a WDC vem alongando os prazos de seus contratos no TaaS e conta com um baixo nível de cancelamento. Aqui, a WDC parece ir bem. Pelo menos durante o prazo de duração de seus contratos ela não costuma perder clientes.

O segundo fator é tecnologia proprietária: esse conceito diz respeito não só a um avanço tecnológico criado pela companhia e indisponível às outras, mas também a sua capacidade de renovar essa tecnologia investindo em P&D (pesquisa e desenvolvimento).

Embora a WDC forneça tecnologia, ela não desenvolve tecnologia. No final do dia, ela apenas faz o meio de campo entre os fornecedores (Nokia, Huawei e Samsung, por exemplo) e clientes. Quem desenvolve a tecnologia são os fornecedores.

O máximo que a WDC faz aqui é especificar alguns requisitos e mandar uma fábrica chinesa white-label fabricar os produtos de uma marca própria da empresa, a Easy4Link.

imagem do fone de ouvido

Ou seja, ela continua dependente dos seus fornecedores. A ideia do D2C (Direct to Consumer), onde as indústrias vendem direto para o cliente, anda meio fora dos holofotes, mas é uma ameaça: se as fabricantes de eletroeletrônicos decidem vender por conta própria ou fazer acordos de exclusividade com outras distribuidoras (caso da Nike com o Grupo SBF (SBFG3) , por exemplo), a WDC fica mal na fita.

Por último temos a economia de escala: ela trata das situações onde um aumento de quantidade de produção de uma empresa é acompanhado da redução do seu custo médio de produção. Quanto mais a empresa produz, mais ela dilui os seus custos, ficando mais eficiente e apresentando margens maiores. No final, quanto maior a escala que uma empresa atinge, mais difícil é para as concorrentes brigarem com ela.

E a WDC? Bom, com certeza a companhia ainda não atingiu o tamanho necessário pra intimidar totalmente as outras. Pra você ter ideia, a empresa conta com apenas 118 empregados (sendo 15 terceirizados) atuando no que ela chama de "produção" (a montagem dos equipamentos) e que ela própria atribui como um de seus diferenciais, já que a maioria das outras empresas fazem apenas a distribuição.

Pra exemplificar, Multilaser (MLAS3), Intelbras (INTB3), e Positivo (POSI3), que também fazem a montagem de alguns dos seus produtos, possuem, respectivamente, 2.693, 1.866 e 901 funcionários trabalhando em suas áreas operacionais. Ou seja, o mais provável é que qualquer uma dessas 3 empresas intimide a WDC do que a própria WDC intimidar alguma delas.

Outro ponto é que, antes do IPO, a empresa tinha um Patrimônio Líquido (dinheiro que os sócios têm efetivamente na companhia) de apenas R$ 130 milhões. Esses fatores, inevitavelmente, levantam dúvidas quanto à replicabilidade do negócio e suas barreiras de entrada.

Das duas, uma: ou a WDC está nadando sozinha no oceano azul, mas apenas momentaneamente, enquanto não aparece um concorrente pra lhe fazer frente, ou esse oceano azul na verdade é meio poluído e ninguém acha que vale a pena entrar ali.

Nenhuma das duas perspectivas parece boa pra companhia. Mas, será que ela tem mais a oferecer e ainda sim é uma boa oportunidade de investimento?

Pra descobrir, confira nosso relatório sobre a empresa no VBOX!

Nikola sem Tesla

Por Saulo Pereira

A Nikola Motors foi fundada em 2015 com um objetivo bem ousado: criar caminhões elétricos. O objetivo da startup era revolucionar o mercado de transporte de cargas, criando caminhões elétricos que, ao invés de usar baterias, usassem hidrogênio.

Na época, isso seria uma grande revolução, porque esse mercado é fundamental para a economia dos EUA, já que a maior parte das mercadorias de lá são transportadas por caminhões. Ter veículos movidos por fonte de energia renovável é muito atrativo.

A ideia da Nikola, embora muito promissora, ainda era bastante complexa. Grandes montadoras já tinham investido bilhões de dólares na construção de caminhões nesse estilo e tiveram retornos muito abaixo do esperado. Com a Nikola Motors não seria diferente. Ainda assim, eles conseguiram arrecadar bilhões de dólares e enganar muitos investidores, sem nem ao menos possuir um único veículo. Mas como?

Geralmente grandes ideias precisam de grandes pessoas por trás, mas com a Nikola não foi bem assim. Trevor Milton era a imagem da empresa. Ele sempre mirou grandes ideias, porém sem muito sucesso. Seu primeiro grande empreendimento foi um site de comércio eletrônico chamado "Upillar". De acordo com o próprio Trevor, em seu LinkedIn, seu site competia com a Amazon.

Seu primeiro contato com caminhões foi em 2009, quando fundou uma empresa chamada dHybrid Inc. Seu trabalho era conseguir construir um modelo de caminhão híbrido, que funcionasse tanto com diesel quanto com gás natural. Trevor era daqueles espertinhos enganadores e sabia que o caminho das pedras era buscar financiamento com investidores com pouca experiência. Assim, ele conseguiu a bagatela de $16 milhões da Swift Transportation para esse híbrido.

Nessa parceria, a dHybrid construiria 800 caminhões para a Swift. A ideia não deu certo e depois de uns anos a Swift processou a empresa do Trevor. Os produtos entregues eram simplesmente muito abaixo do que estava descrito no contrato e uma série de irregularidades foram encontradas.

O que fazer quando sua empresa está recheada de processos e com um nome bem manchado no mercado? Isso mesmo, muda o nome da firma. O nome da empresa deixou de ser apenas dHybrid e virou dHybrid Systems. Depois que a poeira abaixou, Trevor conheceu um sujeito chamado Mark Russel.

Mark foi fundamental pra convencer a empresa petroleira Worthington a comprar 80% da dHybrid por mais de $15 milhões em 2014. Essa petroleira não fazia ideia do abacaxi que a dHybrid tinha. Pra você ter ideia, nenhum motor híbrido funcionava e os motoristas corriam sérios riscos de vida ao dirigir os caminhões.

Agora que a maioria da empresa era da petroleira, Trevor deixou seus antigos problemas de lado pra se aventurar com seu negócio mais famoso: a Nikola Motors.

Em 2016, a Nikola anunciou seu primeiro caminhão elétrico. Esse veículo era revolucionário a ponto de supostamente conseguir percorrer mais de mil quilômetros sem precisar reabastecer. O que pouca gente sabia é que Trevor queria usar a mesma tecnologia da dHybrid, que todo mundo sabia não funcionar.

imagem modelo de caminhao nikola one

Em dezembro de 2016, o Nikola One foi apresentado ao público. O caminhão realmente era muito bonito e tinha tudo pra dar certo se não fosse um problema muito importante: o caminhão não funcionava. O problema era tão grande que, meses antes dessa apresentação, o caminhão não tinha nem os componentes mais básicos, como eixo ou sistema de gás natural. A única coisa que funcionava era a tela touchscreen dentro da cabine.

A Nikola anunciou aos investidores que o projeto do Nikola One estaria disponível "em breve" no mercado. Isso era uma outra mentira, porque alguns funcionários da empresa alegaram que o desenvolvimento do que seria o primeiro caminhão movido a hidrogênio foi abandonado pela Nikola.

Trevor não se importava em ter ou não um produto funcional, porque após essa primeira apresentação de 2016, a Nikola recebeu uma série de investimentos. Alguns anos se passaram e algumas suspeitas começaram a aparecer. O Nikola One ainda estava pronto? Para abafar qualquer informação que comprometesse a empresa, a Nikola Motors publicou no twitter um vídeo do caminhão em movimento.

Não preciso nem dizer que esse vídeo também foi manipulado pra dar uma impressão positiva, né?

A rodovia na qual o vídeo foi feito tinha uma leve inclinação, o que era suficiente para o caminhão pegar velocidade mesmo sem motor. Fato admitido pela própria Nikola, em 2020. Mas nesse meio tempo, entre o vídeo e a confirmação da mentira, a empresa continuou prometendo novos produtos, como um carro com design futurístico, o Nikola NZT.

De novo, Trevor apresentou o protótipo do veículo ao público, mas pouco tempo depois desistiu de concluir o projeto, porque era impossível fazer um veículo exatamente do tamanho que eles queriam. A única coisa que ia pra frente na Nikola Motors eram suas finanças, porque em 2020 suas ações estavam chegando perto do seu pico histórico e a empresa passou a valer mais que a Ford e a Fiat.

A empresa chegou a fechar contrato com a Budweiser e a US Xpress. A coisa ia muito bem para a Nikola e para o Trevor, até que uma casa de análise acabou com a Festa. Em 2020, a Hindenburg Research publicou um artigo detalhando todas as mentiras da Nikola Motors. O mais curioso sobre isso é que esse relatório foi publicado 2 dias depois da GM fechar uma parceria com a Nikola.

Após a publicação desse relatório, suas ações despencaram mais de 30% e até o Departamento de Justiça dos EUA entrou na brincadeira pra investigar essas acusações de fraudes. Trevor deixou o comando da empresa e negou todas as acusações (como um bom político acusado de corrupção faria).

A situação da empresa era tão estranha, que um dos diretores nomeados por Trevor era seu irmão, Travis. Travis era diretor de hidrogênio e infraestrutura, mas não possuía experiência alguma na área. Sua única experiência na área era na construção de estradas de concreto e reformas de casa. Outro diretor sem experiência alguma no ramo era o diretor de desenvolvimento e infraestrutura, Dale Prows, que era gerente de um campo de golfe residencial.

Depois disso, uma chuva de processos caiu em cima de Trevor e ele teve que pagar uma fiança de $100 milhões, apesar disso ser troco de bala perto do seu patrimônio, avaliado, desde 2014, de $2 bilhões. A Nikola Motors teve que pagar mais de $100 milhões pra encerrar as investigações de acusação. O objetivo era tentar reerguer a startup. Depois que Trevor deixou o cargo de diretor executivo da empresa, Mark Russel assumiu o comando e finalmente a produção dos caminhões prometidos foi iniciada.

A história da Nikola Motors e Trevor Milton nos mostra que o mercado de tecnologia e inovação pode ser um ótimo lugar para alguém que saiba vender um produto ou uma ideia, ainda mais em um mercado com baixas taxas de juros. Esse ramo requer anos de pesquisa e desenvolvimento pra que algo revolucionário possa aparecer. Grandes ideias que prometem mudar o mundo do dia pra noite são, muitas vezes, apenas grandes ideias.

Trevor Milton era um cara bastante eficiente pra enganar as pessoas. Não é todo mundo que consegue fazer uma empresa bilionária sem nem sequer possuir um produto funcional. O que fica de aprendizado dessa história é uma das frases mais antigas e mais verdadeiras em tempos de dinheiro barato: nem tudo que reluz é ouro. Às vezes é só a notificação do zap do criador recebendo mais um aporte.

😎Fala Dudu!

Sua carta sátira semanal do gestor do primeiro hedge fund de Niterói

Por @dudufromniteroi

Alô, meus sobrinhos! Dudu de Niterói, seu amigo da cidade sorriso, chegando e pedindo licença para entrar na sua caixa de entrada.

Semaninha bem agitada na política e economia, com uma das maiores personalidades jovens do Brasil usando uma peruca em rede nacional. Isso mesmo! Falo de César Black do BBB 23!

Bora pras notícias de ontem?

Mais e mais - Aparentemente, um monte de gestores lá nos EUA estão chorando, pois existem muitas opções de fundos de investimento. Isso é pelo fato de que, na última década, mais de 4 mil fundos foram abertos e muitos estão disponíveis para o investidor comum.

É aquele problema da escolha. Se tem muitas opções, você não consegue decidir. Exceto pela Nikiti Asset Management. Essa você precisa escolher sempre. Aliás, nossos fundos são APENAS para atender às demandas dos clientes mais exigentes, como fundos de: criptomoedas de joguinho, de influenciador digital de uma palavra só, de coworking colorido, de figurinha de macaco e até um fundo pra entrar vendido contra os jogadores do Palmeiras (esse depois de muita oração, voltou a ficar positivo ontem).

Falta inovação na indústria. Mas só por parte deles. Aqui seguimos inovando e fazendo dindin.

Mother Moscóvia - A população da Ucrânia levou uma inusitada petição, com mais de 25 mil assinaturas, ao presidente Zelensky: trocar o nome "Rússia" por "Moscóvia" no idioma ucraniano. E o presidente disse que vai avaliar pra ver se rola mesmo.

Como toda guerra é sempre mais demorada do que todo mundo espera, até hoje a Ucrânia segue tomando ataques do lado russo. Mudar o nome do país atacante para um nome antigo é uma provocação muito válida (e engraçada, pois é pique 5ª série).

Aliás, nós aqui da NAM já havíamos levantado essa hipótese quando sofremos algum revés de nossos vizinhos: Uruguai voltaria a ser a Cisplatina, as Ilhas Malvinas seriam Ilhas Marinalvas ou Noronha do Sul, o Paraguai seria Mato Grosso do Oeste e a Argentina seria Rio Grande do Sul do Sul.

Não tem piada - Existem fatos tão absurdos e surreais no Brasil´, que às vezes não tem como fazer piada. Simplesmente o título da matéria é "(Sérgio) Cabral começa a vida de influencer".

Pelo seu histórico confesso, muito provavelmente ele vai anunciar uma maquiagem nacional por 200 reais. Link do perfil do kingo aqui.

Exceção - Na semana passada, a ministra Sonia Guajajara recebeu do ator Leonardo DiCaprio, em Los Angeles (Estados Unidos), um prêmio de iniciativas sustentáveis. .

Parece pouca coisa, mas nos faz perceber que DiCaprio topou aparecer ao lado de uma mulher mais velha que as de 24 anos. por uma causa nobre: tirar foto com uma índia. Meus amigos de Paris adoraram as fotos.

SVB: Startups Vão de Base - O Silicon Valley Bank (SVB), que era o 16º maior banco dos EUA, faliu na última sexta-feira e o titio Dudu vai resumir pra você.

Quando você bota seu dinheiro em um banco, ele pega esse dinheiro e investe em algo pra ir rendendo. Geralmente, os bancos emprestam pra outros clientes, mas também podem investir. Por conta da pandemia, os bancos dos EUA foram liberados de investir/gastar até 100% do que recebiam dos depósitos. Como pouca gente pegava empréstimo (já que ninguém saía de casa), os bancos começaram a investir.

Até aí tudo bem. Só que, na quarta passada, o SVB anunciou que vendeu US$ 21 bilhões em títulos e isso deu US$ 1,8 bilhão em prejuízo, já que esses títulos se desvalorizaram desde então. Pra compensar, o banco disse que queria vender US$ 1,7 bilhão em ações.

Bem, se seu banco (e o da sua empresa) fala que tá com menos dinheiro disponível e isso inclui o dinheiro da sua conta, o que você faz? Isso mesmo, a boa e velha corrida bancária! Quem saca primeiro, tá safe. Quem fica por último… Sacaram cerca de US$ 42 bilhões do SVB.

Mas aí veio outro BO: parte do valor investido estava exposto a ativos de menor liquidez. Ou seja, o banco não estava conseguindo pagar os clientes na velocidade em que eles queriam. Então, o FGC lá dos EUA (se chama FDIC) interveio, assumiu a bronca de devolver o dinheiro e as autoridades do país fecharam o SVB.

Pelas informações que consegui, o tesoureiro do SVB era nosso ex-estagiário Flavin, aquele que apostou a favor do Catar na Copa. Boatos de que ele pode assumir um cargo na equipe econômica do governo em breve. Cria de Nikiti, ok?

E foi isso, meus amores! Novamente, um beijo de verão e até semana que vem!

⏳ Atemporalidades

Leia agora, leve pra vida.

  • “Há muitas más notícias para justificar a complacência. Há boas notícias demais para justificar o desespero”
    • Dana Meadows, uma das maiores acadêmicas ambientalistas da história, que completaria 82 anos na última semana.
  • “Educar é crescer. E crescer é viver. Educação é, assim, vida no sentido mais autêntico da palavra”
    • Anísio Teixeira, um dos principais nomes da educação brasileira, que se foi há 52 anos.
  • “As grandes conquistas da humanidade foram obtidas conversando, e as grandes falhas pela falta de diálogo”
    • Stephen Hawking, o brilhante cientista que nos deixou há exatos 5 anos.
  • “Mas que inferno! Parem de citar frases que eu não disse!”
    • Albert Einstein, que chegava neste mundo há exatos 144 anos atrás e trouxe enormes contribuições para a ciência e física moderna.

Por hoje é só pessoal 🤙

Bebam café, se hidratem e considerem guardar dinheiro debaixo do colchão!

Boa semana e bons negócios!

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