Varejo

José Galló: O Arquiteto do Império de Moda da Renner (LREN3)

8min de leitura

Leandro Siqueira

Leandro Siqueira

Estrategista de Investimentos, Co-fundador da Varos

Se você é entusiasta sobre o mercado financeiro, mais precisamente do setor de varejo, provavelmente sabe quem é José Galló. Acontece que em março as Lojas Renner informou que ele não estará mais na empresa a partir da próxima eleição do conselho.

Esta é a história do CEO que "adotou" uma empresa quando ela valia R$ 1 milhão e entregou um colosso avaliado em incríveis 15 BILHÕES de reais. 🧵

Foto do Jose Galló com a logo da RENNER ao fundo

José Galló tem 72 anos e é neto de Hércules Galló, um proeminente empresário e tecelão italiano. Hércules foi primeiro membro da família a botar os pés no Brasil, chegando ao Rio de Janeiro por volta de 1900.

foto do avô de Jose Galló

Hércules foi responsável pela criação do Lanifício São Pedro. A fábrica de lã teve um papel fundamental na economia gaúcha durante a 1ª Guerra Mundial, uma vez que, nesse período, as importações foram cessadas.

Imagem mostrando o Lanifício São Pedro

Além do lanifício, o avô de Galló também montou a Usina Hidrelétrica de Noiva, criou uma cooperativa de consumo e chegou a ser vice intendente de Caxias do Sul. Hércules faleceu repentinamente em 1921, mas deixou um grande legado.

Sua participação no crescimento da região foi tão marcante que o Vale del Profondo mudou de nome para Galópolis. Além disso, suas duas casas foram tombadas e agora abrigam o Instituto Hércules Galló, que tem como objetivo fomentar atividades culturais e turismo na região.

Foto do instituto hercules galló

Inclusive, foi na maior das duas casas que nasceu José Galló, no ano de 1951.Como em Galópolis não havia escolas de ensino primário, quando o menino Galló tinha apenas 9 anos, ele e sua família se mudaram para Caxias do Sul.

Desde aquela época, a mãe de Galló já o incentivava a dar continuidade ao legado da família. Ouvindo suas palavras, o ponta pé inicial foi dado ainda cedo. Lá pros 12 ou 13 anos, Galló tornou-se presidente de classe. No ano seguinte, foi presidente do grêmio estudantil.

Mais velho, já no Científico (equivalente a Ensino Médio) e se preparando para o vestibular, ele decidiu cursar Engenharia Química na USP. A faculdade politécnica, na época, possuía o melhor curso do país.

Pela sua qualidade, a vaga na faculdade era extremamente disputada e, infelizmente — ou felizmente, já que talvez eu não estivesse contando essa história agora — ele não passou. Assim, ele acabou caindo pro curso de Administração da FGV em São Paulo.

Foto de uma unidade da FGV

Durante o curso, ele estagiou na Copersucar, uma das maiores cooperativas de açúcar e etanol do Brasil. Lá ele começou a se aproximar do varejo, já que sua função era acompanhar de perto a reposição de produtos em supermercados.

Imagem da copersucar

Com o fim do estágio, ele foi indicado por um de seus professores para o Grupo J.Alves Veríssimo que era dono da rede de hipermercados Eldorado (vendida para o Carrefour no final dos anos 90).

Galló rapidamente se destacou, implantando um novo sistema de estoques para organizar o que que antes era uma gestão caótica de produtos.

Imagem da J alves verissimo SA

Depois do segundo estágio, já formado, o mesmo professor que havia indicado Galló para o Grupo J.Alves Veríssimo fez uma nova indicação. Ele foi, então, indicado pra Imcosul, uma loja de departamento de móveis e eletrodomésticos, pertencente ao Grupo Maisonnave (👀).

Dentro da Imcosul, Galló percebeu que as coisas não iam nada bem. A culpa disso era de uma campanha do tipo: “Faça a prova do preço: tudo custa menos na Imcosul”. Por conta dela, todas as lojas baixaram os preços para vencer a concorrência.

A Imcosul fazia isso sem pensar duas vezes e rapidinho as margens foram pro saco. Além disso, não havia um controle de estoques eficiente. A combinação desses dois fatores deixava a situação insustentável.

Vendo isso, Galló fez um relatório para sinalizar seus superiores, mas ninguém queria dar bola pra um recém-formado de apenas 26 anos. Só que aí, uma jogada fez o resultado derrapar ainda mais: a compra da Ibraco, concorrente cuja maior loja ficava na mesma rua da Imcosul.

A aquisição foi feita meio de repente e sem muita avaliação. O resultado dessa decisão foi a piora da rentabilidade da empresa como um todo. Diante desse conjunto de fatores, os diretores da Imcosul foram demitidos e o superintendente do Grupo Maisonnave assumiu a empresa.

Ali surgiu a chance de Galló brilhar. Ele acabou sendo chamado pra ocupar o cargo de Gerente de Comunicação e Marketing.

Depois disso, a empresa começou a crescer e logo se tornou uma das maiores varejistas do Rio Grande do Sul.

O sucesso de Galló como gerente na Imcosul chegou a render uma proposta pra assumir a Diretoria Comercial da Lojas Colombo, mas ele rejeitou. Galló seguiu na Imcosul e, em 85, quando ele tinha 34 anos, Paulo da Costa Neves, então Superintendente da empresa, deixou o grupo.

uma das unidades das lojas colombo

Sobrou para Galló assumir o cargo dele. No entanto, o pobre não sabia o que estava por vir. Dias depois, o Banco Maisonnave entrou em liquidação extrajudicial. Logo em seguida, os advogados do Grupo anunciaram que a Imcosul precisaria pedir concordata.

jornal anunciando a liquidaçao feita pelo governo

Para Galló, aquilo não fazia sentido. Afinal, a empresa era saudável. Mas era justamente este o motivo: proteger um dos únicos ativos do grupo que era rentável. O problema é que todo o caixa da Imcosul ficava naquele banco, que também pertencia aos Maisonnave.

balanço patrimonial da empresa

Com o caixa retido, a Imcosul passou por maus bocados na hora de conseguir capital de giro para repor o estoque e pagar os funcionários. Mesmo assim, depois de muito sufoco, Galló e sua equipe saíram vencedores.

Infelizmente, a vitória foi efêmera. Pouco depois, Roberto Maisonnave resolveu criar e ocupar o cargo de Presidente da Imcosul, que não existia na empresa até então. Acabou que a convivência de Galló, como Superintendente, e Roberto, como Presidente, não deu muito certo.

Como de praxe, a corda estourou para o lado mais fraco. Galló tinha então duas opções: voltar para o cargo de Diretor Comercial ou sair da empresa, o que seria um fim muito triste após anos de dedicação à Imcosul.

Depauperado, ele decidiu sair. Porém, nesta mesma saída, ele viu uma oportunidade. Isso porque a Imcosul possuía participação numa empresa chamada Moda Casa que, como o próprio nome sugere, vendia móveis.

Unidade da loja moda casa

Galló propôs, então, trocar sua multa rescisória pelo controle da empresa. Roberto Maisonnave aceitou. Assim, em 1987, Galló assumiu a ModaCasa, que tinha apenas uma única loja.

Com Galló no comando, a Moda Casa foi crescendo, abrindo cada vez mais unidades. Mais pra frente, ele resolveu lançar outra cadeia de lojas e criou a Eletroshop, uma loja de eletrodomésticos inspirada na Circuit City.

Mais uma vez, o empreendimento foi um sucesso. Aí, quando tanto a Eletroshop quanto a Modacasa já estavam em um estágio mais sólido, Galló se arriscou em mais um empreendimento. a Usimoda, criada por ele, porém, não deu tão certo no concorrido mercado de moda.

De todo modo, Galló ganhou muita experiência naqueles anos como empreendedor. Todo aquele sucesso não passou despercebido. Logo ele chamou a atenção de Antonio Oliveira, presidente do Grupo Joaquim Oliveira, que controlava a rede Real, do Rio Grande do Sul.

divulgação produto da loja real

A rede Real vinha passando por um período turbulento e decidiu ir atrás de Galló para que ele fizesse um diagnóstico da situação e elaborasse um plano para reposicionar o negócio. Galló aceitou o convite e conseguiu a façanha de colocar a rede de volta aos trilhos.

Por que isso é importante para a história? Bom... porque foi essa atuação de Galló que fez com que Cristiano Renner, que passava por maus bocados no controle da Lojas Renner, o convidasse para reestruturar sua empresa.

unidade das lojas renner

A princípio, porém, Galló rejeitou a proposta. Sua ideia era focar na Moda Casa e na Eletroshop. Contudo, ele voltou atrás. Num passo de mágica, vendeu sua participação nas empresas para a CBS Alimentos e foi para sua nova empreitada. De lá pra cá, a Renner decolou.

galló no começo da sua gestão na renner

É indiscutível que Galló fez um ótimo trabalho na Lojas Renner. Comandada por ele de 1991 até 2019 (sendo oficialmente CEO desde 98), ela saiu de uma empresa familiar em apuros para transformar-se na maior varejista de moda do país.

galló em uma unidade das lojas renner

Em abril de 2019, Galló pendurou as chuteiras como CEO. Entretanto, ele não sossegou.

Junto a Christiano, seu filho, ele criou um family office: o Quartz.

Por meio dele, os dois já investiram em diversas empresas, como , Shopper e Warren.

portfolio da quartz

Entretanto, Galló decidiu que, aos 72 anos, era hora de desacelerar. Depois de 3 décadas conduzindo a Renner, ele quer dedicar seu tempo aos interesses pessoais e acompanhar os projetos de sua família.

Sob o comando de Galló, a Renner, que mal valia R$ 1 milhão nos anos 90, tornou-se um colosso avaliado em R$ 15 bilhões. Galló pode ter se aposentado, mas seu legado estará sempre vivo no varejo de moda brasileiro.

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