Diário de Omaha

Diário de Omaha, Edição 63 - O Iene que Caiu por Terra

15min de leitura

Lucas Guimarães

Lucas Guimarães

Analista Chefe, Co-fundador da Varos

A Marcha Para o Oeste

Por Gabriel Boente

Vamos fazer um exercício de geografia. Se pegarmos a cidade de Vargem Bonita (SC) e traçarmos um raio de 200km, teremos o seguinte mapa:

mapa de santa catarina com um circulo

Dentro deste raio, temos todo o oeste catarinense, parte do norte gaúcho e parte do sul paranaense. Isso inclui cidades como: Concórdia, Chapecó, Seara, São Miguel do Oeste, Erechim, Frederico Westphalen, Não-Me-Toque, Pato Branco e Francisco Beltrão. O que tem de especial nessas cidades? A agroindústria, principalmente do setor de frigoríficos.

Apesar de um pouco trivial, muita gente nunca tinha parado para pensar que a carne que o Brasil fabrica é transportada em caixas de papelão. Pelo fato de não ser a embalagem primária, até porque a carne é um alimento perecível e "solta" muito líquido, essas caixas de papelão não entram em contato direto com o alimento. Isso permite que as caixas sejam fabricadas tanto com fibras virgens (papel nunca usado) quanto com aparas (papelão reciclado). Ou seja, as indústrias dessas cidades acabam demandando bastante papelão, e quem estiver por perto acaba levando vantagem por poder oferecer fretes menores.

Quem mora no interior sabe que a distância de 200km entre duas cidades é relativamente tranquila. É até comum casos de pessoas que moram em uma cidade e trabalham em outra a essa distância. Então escolhemos Vargem Bonita ao acaso? Nem um pouco.

Ali fica a principal planta da Irani (RANI3). Como podemos perceber, é uma localização totalmente estratégica. Segundo a própria empresa, cerca de 70% dos clientes são do ramo de alimentos, a maioria do setor de proteína e frigoríficos. É como se ela fosse uma fabricante de máquinas de perfuração do solo para coletar petróleo em pleno Oriente Médio.

Para se ter uma ideia da relevância da região sul para este mercado, o Brasil foi o maior exportador de carne de frango em 2022, segundo a USDA/ABPA, sendo a região sul responsável por 78,88% das exportações (segundo a SECEX). Ao mesmo tempo, o Brasil foi o 4º maior exportador de suínos do mundo, segundo a USDA/ABPA. Só o estado de Santa Catarina foi responsável por 54,64% dessas exportações (segundo a SECEX).

Que o Brasil é uma potência global na agroindústria, não é segredo! O que muita gente deixa passar é que ainda há um espaço enorme para o crescimento das exportações, principalmente para a China.

manchete de noticiario sobre frigorificos aptos a exportar

Segundo a Folha de São Paulo, desde 2019 a China não habilita novos frigoríficos brasileiros para importação. O atual governo Lula, municiado pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), está fazendo uma das coisas que sabe fazer de melhor: lobby para construir acordos comerciais.

E existem indicativos de que dessa vez a China vai reabrir o mercado para novos frigoríficos. Com este gatilho acontecendo, as exportações voltarão a crescer e é quase certo que a Região Sul manterá o seu protagonismo. Isso irá favorecer diretamente a Irani, pois grande parte dos seus clientes são deste mercado e desta região.

Será que a Irani vai conseguir dar conta de um aumento da demanda? E será que vale a pena os investimentos em infraestrutura que ela está fazendo? Bem, nos próximos dias, o VBOX da Irani (RANI3) irá ao ar e você poderá descobrir tudo isso e muito mais!

O Iene que Caiu por Terra

Por Lucas Guimarães & Pedro Ávila

Quando criança aprendemos que uma boa história começa com "era uma vez…". Depois viramos adultos e descobrimos que uma boa história, principalmente no mercado financeiro, é aquela onde os números falam por si. Nesse caso, começamos com um dado um tanto quanto curioso: de 1955 a 1990, o valor dos imóveis japoneses aumentou mais de 75 vezes.

A conta simplesmente não fechava. Se os japoneses quisessem, eles poderiam, ao menos em teoria, vender Tóquio e comprar todos os imóveis dos Estados Unidos. O Palácio Imperial por si só compraria toda a Califórnia. E como acontece na maioria das vezes, o mercado de ações japonês andava lado a lado com o mercado imobiliário.

Entre 1955 e 1990, o preço das ações no Japão subiu mais de 100 vezes. Ao final de 1989, as ações japonesas tinham valor de mercado próximo a US$ 4 trilhões, 1,5 vezes maior que o valor de mercado das ações americanas e equivalente a 45% da capitalização total do mercado de ações mundial.

O índice P/L médio das ações japonesas era de 60 e o Dividend Yield médio anual era inferior a 0,5%. Enquanto isso, nos Estados Unidos, o índice P/L era de 15 e na Inglaterra, 12. Como justificativa, os japoneses diziam que o baixo Dividend Yield refletia a baixa taxa de juros à época, e as ações valerem mais de 5 vezes o valor contábil das empresas era apenas reflexo da valorização dos terrenos que elas possuíam, mas que não eram levados em conta no valor contábil.

Embora na prática essas justificativas não se sustentassem, a taxa de juros pode sim ser vista como um norte para o Dividend Yield. Interprete a taxa de juros como a taxa de mais baixo risco de uma economia. Basicamente, todos os investimentos de renda fixa se ajustam à ela. Se a taxa de juros cai, a taxa ofertada nos investimentos também cai. No mercado de renda variável a lógica é parecida.

Imagine um cenário onde o Dividend Yield no mercado de Fundos Imobiliários é de 10% ao ano, enquanto a taxa de juros é de apenas 1%. Nesse caso, o mercado, quase que de forma instantânea retiraria seus investimentos em renda fixa e investiria em FIIs. Com um grande volume comprador, o preço dos FIIs cresceria de forma considerável. Por exemplo, um FII que até então valia R$ 100 e distribuía R$ 10 reais de Dividendos ao ano, passaria a valer R$ 500, mas dificilmente aumentaria os Dividendos distribuídos na mesma proporção.

Como o preço cresceria de forma muito superior aos Dividendos, o Dividend Yield cairia consideravelmente até atingir uma taxa de equilíbrio, que seria superior, mas próxima à taxa de juros. Perceba que nesse exemplo, o crescimento dos preços dos FIIs seria, de fato, justificado pela baixa taxa de juros.

Porém, agora vamos imaginar um cenário onde a taxa de juros se mantém constante ao longo do tempo, mas os preços dos FIIs crescem de forma considerável. Como a taxa de juros é a âncora do Dividend Yield que, por sua vez, é a âncora do preço, o crescimento sustentável nos preços só poderia ser justificado pelo crescimento proporcional dos Dividendos.

Para ficar mais fácil de entender, vamos voltar ao nosso exemplo. Supondo que por 5 anos consecutivos, a taxa de juros tenha se mantido estável em 1% ao ano, mas o preço médio dos FIIs, que no início do período era de R$ 100, passou a valer R$ 500 no final do período. Supondo também que no início os FIIs distribuíram, na média, R$ 2 de Dividendos ao ano. O esperado é que ao final do quinto ano esse valor tenha saltado para R$ 10.

A conta é simples. Se no início o Dividend Yield era 2% ao ano (R$ 2/R$ 100) e a taxa de juros não caiu, o Dividend Yield no final dos 5 anos deveria permanecer em 2% a.a.. Para isso, os Dividendos deveriam crescer na mesma proporção do preço, ou seja, 5 vezes.

Só que como você deve saber, Dividendo não cresce em árvore. Ele é a parte do lucro que é distribuído para os cotistas. Então, para crescer Dividendos, tem que crescer receita. E para crescer a receita de um imóvel tem que crescer o aluguel. Neste caso, como a taxa de juros é constante, para que o Dividend Yield também permaneça constante o preço do FII de um imóvel deve crescer em linha com o crescimento da receita deste mesimóvel.

E foi exatamente por isso que dissemos que a justificativa dos japoneses não se sustentava. Embora a taxa de juros do período fosse baixa, o preço dos imóveis crescia de forma superior à receita. Isso significa que o Dividend Yield caía cada vez mais, um forte indicador de que havia algo errado nos preços.

O final da festa chegou em meados de 1990, quando o governo do Japão começou a subir as taxas de juros de forma considerável. Lembre-se, se a taxa sobe o Dividend Yield também sobe e para isso o preço cai. Mas, nesse caso, como toda aquela alta era completamente especulativa, o preço dos imóveis e das ações não apenas caiu, ele despencou.

O índice Nikkei do mercado de ações japonês caiu de um pico de 35 mil pontos em 1989 para cerca de 21 mil pontos em 1993. Índices de preços de terrenos e valores de imóveis mostram que a queda do mercado imobiliário japonês foi quase tão grande quanto a do mercado de ações.

grafico mostrando a inflação no japão

O que fica de lição de toda essa história não é saber determinar se um Ativo específico está caro ou barato. Nossa missão aqui é justamente fazer isso por você. O mais importante é entender o quanto e como uma mudança na taxa de juros pode impactar o mercado de renda variável , com destaque para o mercado de Fundos Imobiliários.

Assim como no Japão de 90, a grande explicação para a mudança nos preços dos FIIs nos últimos 2 meses foi o nível de taxa de juros. A diferença é que aqui esse movimento foi puxado por uma expectativa de queda e, para se manter em alta no segundo semestre, a queda na taxa de juros precisa de fato se confirmar.

Após o término da eleição, o mercado passou por um período de especulações tentando entender o cenário econômico e fiscal que estaria por vir. Embora existam ainda diversas questões em aberto, o recente arcabouço fiscal apresentou uma sinalização positiva. Possivelmente, a transição de março para abril pode ter representado um momento crucial para os Fundos de Investimento Imobiliário.

Essa "sinalização positiva" não significa que o arcabouço fiscal seja uma primazia de regras bem elaboradas. Porém, é inegável que, através dele, o governo sinaliza apoio à autonomia do Ministério da Fazenda.

E como uma boa história pode ser contada por números, a curva de juros futuros mostra como o mercado espera uma queda relevante na taxa de juros pelos próximos 3 anos. A questão toda agora é saber se de fato o Banco Central (Bacen) vai atender as expectativas do mercado.

Seja como for, nós estamos nos preparando através da nossa Carteira Recomendada de FIIs. Todo esse background nos ajuda a escolher os melhores ativos para nos protegermos desse cenário de incertezas das taxas de juros!

😎Fala Dudu!

Sua carta sátira semanal do gestor do primeiro hedge fund de Niterói

Por @dudufromniteroi

Fala comigo!

Seu Padrinho Dudu de Niterói, chegando mais um dia para melhorar o seu dia com os melhores insights político-financeiro-econômico-geopolítico deste lado da Baía de Guanabara e São Gonçalo.

Vamos pras notícias da semana passada?

NÃO SE MUERE DE TÉDIO EN LATINOAMÉRICA - No início da semana passada tivemos mais um episódio da nossa série favorita: América Latinha - O Confronto.

Basicamente, o presidente do Equador, Guillermo Lasso, resolveu dissolver o Congresso um dia após os deputados realizarem a primeira audiência do processo de impeachment dele. Tecnicamente, a Constituição de lá permite isso e agora o nosso herói irá comandar o país através de decretos, bem como nossos colonizadores no início dos tempos.

Você dissolver um Congresso durante uma investigação onde você deve perder o cargo é exatamente igual aquele meu primo que desligava o Play2 depois de “mim” aplicar 4x0 no primeiro tempo no Winning Eleven. Nesse caso aqui, o jogador era ruim mesmo e dizia que o jogo tava roubando.

A diferença é pouca, não?

TRETAS NO PARAÍSO - No meio da semana, o líder do governo no Congresso e primeiro hobbit a ser eleito no país, o Senador Randolfe Rodrigues anunciou a sua desfiliação do REDE, partido da ministra Marina Silva.

De acordo com os BURBURINHOS nos corredores candangos, ele saiu do partido após um desentendimento com a ministra. Acontece que Marina Silva interveio junto ao IBAMA para que negassem uma licença para a Petrobras perfurar na bacia da foz do Amazonas, ali pelo Amapá, para prospectar petróleo.

Você pode xingar político, você pode ameaçar político, você pode dar um golpe de Estado e cassar o mandato do político. Você só não pode mexer em possíveis dinheiros do político. A treta está formada.

BOLO SEM GLÚTEN - Nos meus tempos de jovem, enquanto ainda trabalhava na Bolsa do Rio, eu gostava de marcar vários dates. E vez ou outra acontecia  da senhorita simplesmente não aparecer. A culpa era minha? Obviamente não, pois eu sou incrível.

Pois bem. Durante o rolê no G20, nosso amado deus-sol e presidente do Brasil tomou um bolo do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky (sempre vou precisar do Google pra escrever o nome dele). Aparentemente, o presidente europeu não curtiu muito o deus-sol não ter ajudado a Ucrânia na guerra.

Até porque escolher entre o cara que levou um soco na cara e o cara que tá socando é meio complicado. O melhor a se fazer é não se meter mesmo. Exceto quando é racismo contra um jogador brasileiro na Europa. Aí a gente tem que entrar caindo na porrada.

E por hoje é só, meus sobrinhos! Se cuidem e não se esqueçam de se agasalhar nesta friaca carioca.

⏳ Atemporalidades

Leia agora, leve pra vida.

— “Ser bom é fácil. O difícil é ser justo” - Victor Hugo.

— “Não se pode separar paz de liberdade porque ninguém consegue estar em paz a menos que tenha sua liberdade” - Malcom X

— “Mas existe verdadeiramente outro rumo? Na verdade, só existe a direção que tomamos. O que poderia ter sido já não conta” - Mário Benedetti

Por hoje é só pessoal 🤙

Bebam café, se hidratem e cuidado com o EBITDA ajustado!

Boa semana e bons negócios!

Tem alguma dúvida, crítica ou sugestão pro Diário? É só responder esse e-mail ou mandar uma mensagem no Twitter pros nossos editores @guilhermevcz@thiagomd_1 e @gabeboente.

VAROS 2024

Todos os direitos reservados