Diário de Omaha

Airbed and Breakfast - Diário de Omaha 51

13min de leitura

Saulo Pereira

Saulo Pereira

Redator

Airbed and Breakfast

Por Saulo Pereira

Viajar é algo que muita gente gosta, ainda mais quando o lugar é recheado de pontos turísticos e de lazer. Até pouco tempo atrás era muito comum as pessoas se hospedarem em hotéis ou pousadas. Isso quando não conheciam ninguém próximo na cidade. Só que, há alguns anos, o Airbnb mudou totalmente essa visão, e isso tá dando o que falar no setor imobiliário.

O Airbnb é uma plataforma que dispensa apresentações. Basicamente, é um lugar que conecta quem quer alugar uma residência (seja por períodos curtos ou longos) com quem possui essas residências (hotéis, pousadas e até mesmo pessoas comuns).

A ideia dessa empresa surgiu em 2007, na Califórnia. Dois colegas de quarto, Brian Chesky e Joe Gebbia, notaram que os hotéis da cidade estavam lotados durante uma conferência, e muita gente não tinha onde se hospedar. Como os dois estavam desempregados e precisando de grana, eles tiveram uma grande ideia: encher colchões de ar e alugar a própria sala para essas pessoas se hospedarem.

Eles anunciaram na internet e em questão de horas 3 pessoas já haviam topado se hospedar na casa de dois desconhecidos por apenas U$ 80 - deveria ser uma conferência muito boa pra alguém aceitar dormir na casa de um estranho, sem garantia alguma 🤔

Joe e Brian apelidaram essa ideia de Airbed and Breakfast (Colchão de ar e café da manhã). E sim, foi daí que veio o nome de Airbnb.

A ideia foi um sucesso e eles chamaram um outro amigo, Nathan Blecharczyk, pra ir aperfeiçoando o projeto. Esse amigo também chegou pra criar um site pro negócio, até pra dar uma cara mais profissional e não parecer que era golpe.

Durante a corrida presidencial dos EUA de 2008, quando Barack Obama foi fazer um discurso em Denver, todo mundo ficou muito eufórico pra poder ver o então candidato. Só que tinha um grande problema, a cidade esperava receber 80 mil visitantes, mas lá só existia 27 mil quartos de hotéis. Foi aí que os 3 sócios viram uma oportunidade gigantesca pra fazer o negócio dar certo.

Eles correram contra o tempo pra organizar todo o site e o timing não poderia ser melhor. Em poucos dias eles conseguiram cerca de 800 possíveis anfitriões. Após isso eles tinham certeza de que o negócio daria certo e foram de cabeça na ideia.

Em 2009, eles receberam um investimento da Sequoia Capital e a partir daí o Airbnb decolou igual um foguete da SpaceX (mas sem ré). Em 2011, eles já estavam sendo avaliados em mais de U$ 1 bilhão, mas como já disse o tio Ben (tio do Homem Aranha): "Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades".

Os problemas começaram a aparecer com os anfitriões reclamando por conta de danos causados aos imóveis. O pior era que isso estava se tornando frequente. A partir daí, eles adotaram uma política de cobertura de danos de até U$ 1 milhão. A ideia era expandir o negócio por todo o mundo e ter a confiança de tanto dos anfitriões quanto dos hóspedes. E deu certo.

Seguindo, eles decidiram investir em serviços de fotografia profissional para apresentar as acomodações da melhor forma possível. As avaliações dos hóspedes também passaram a ter grande importância nessa época pra trazer mais transparência.

A expansão do Airbnb mundo afora foi fundamental. Em quase todo canto do mundo os viajantes conseguiam encontrar uma hospedagem segura e barata, independente de estar numa cidade turística ou não. Naturalmente, o Airbnb também se tornou muito importante pros comércios locais, que estão afastados dos grandes centros.

Esse rápido crescimento da empresa não foi benéfico apenas pros hóspedes, mas também pra quem queria ter uma renda extra. Qualquer um que quiser, pode alugar um quarto vago ou até mesmo sua residência enquanto estiver longe dela.

Isso tudo foi muito bom para os seus fundadores e para os usuários da plataforma. Só que foi péssimo pras redes hoteleiras e, possivelmente também, pro setor imobiliárias de várias cidades. Mas como?

Um estudo da Harvard Bussiness Review nos EUA concluiu que a disponibilidade de moradias está sendo afetada negativamente pelo Airbnb. Isso acaba levando a uma alta nos preços dos aluguéis. A pesquisa afirma que o compartilhamento de casa pelo Airbnb aumentou em média 20% o preço dos aluguéis.

E não pense que isso afeta apenas os imóveis. A política também sente, já que os governantes tendem a ser mais agressivos quando tem um problema (e já sabemos o quão eficientes eles são resolvendo problemas, né?!). Em Nova Iorque, por exemplo, a brilhante ideia do governador foi tornar ilegal alugar uma propriedade por menos de 30 dias.

Há diversas críticas a favor e contra o efeito Airbnb, mas ainda não há um consenso sobre se de fato ele é a razão do aumento dos aluguéis. Digo isso porque o aumento dos aluguéis em algumas cidades pode ser algo temporário, já que as plataformas como Airbnb podem aumentar os investimentos residenciais nos lugares em que operam, incentivando o desenvolvimento residencial.

Com esse argumento da inflação, as autoridades de todo o mundo estão buscando alternativas pro funcionamento dessas plataformas. Em Barcelona, por exemplo, o pagamento de taxas para a secretaria municipal é obrigatório. Em Berlim, o governo impôs restrições desde 2016 contra o aluguel de curto prazo.

A bagunça ficou tão caótica, que o Tribunal de Justiça da União Europeia quis entrar na brincadeira também. Eles decidiram que os países poderiam limitar a quantidade de imóveis pra locação de curto prazo.

O Airbnb sempre busca respeitar as leis dos países e colaborar para continuar sua operação e crescimento. O problema é que muitos temem que essas restrições governamentais possam atrapalhar isso.

Os representantes do Airbnb alegam que a plataforma ajuda no turismo e comércios locais, sem falar que ajuda a reduzir a superlotação de muitos bairros turísticos. Outro ponto fundamental é que o Airbnb contribui para desconcentrar ganhos com hospedagens das grandes redes hoteleiras, além de contribuir também para o crescimento das empresas de viagens.

O fato é que o Airbnb não foi e nem será a primeira plataforma que mexe com a dinâmica de grandes cidades. O caso mais emblemático é o da Uber, que dá dor de cabeça em políticos do mundo todo.

Tentar alterar o preço das coisas na base da canetada nunca funciona no longo prazo e ainda há grandes riscos de não ter o efeito esperado. Em Nova Iorque, por exemplo, muitos proprietários simplesmente decidiram não pagar pelas taxas cobradas pelo governo.

Mais uma vez os governos do mundo todo tentam sabotar o curso das leis mais básicas da economia: a da oferta e demanda. Enquanto isso, as plataformas continuam operando e mudando os modelos de negócios.

😎Fala Dudu!

Sua carta sátira semanal do gestor do primeiro hedge fund de Niterói

Por @dudufromniteroi

Fala, meus baixinhos. Pega na mão do tio Dudu e vamos comentar as melhores notícias da semana passada.

Lembrando que nada aqui é recomendação de investimentos ou posicionamento político. Caso você ache que é, recomendamos consultar um médico.

A missão - Nesta semana, diretamente de Miami, o ex-presidente Jair Bolsonaro disse que "aos olhos do TSE, ele não foi reeleito". Conforme vi em meu zap, essa informação pode estar certa, pois o TSE é quem conta os votos da eleição.

Aliás, ele também disse que sua missão "ainda não acabou", sem explicar qual missão ou se havia sequer começado. Como ele está passando o tempo reclamando do Brasil, no exterior, especulamos que sua missão seja se tornar o novo Zé de Abreu, só que em Miami.

Abaixa a "taixa" - Na semana passada também tivemos um manifesto assinado por economistas em favor da queda da taxa de juros. O BC do menino Robertinho Treider está sendo atacado neste governo. O motivo aparente é a alta taxa de juros, mas a real é que ninguém gosta de um órgão que não dá pra controlar. É uma relação tóxica, tipo a que eu tenho com a minha amígdala.

Claro, quem assinou a carta foram economistas proeminentes como Bresser Pereira e Luciano Coutinho. Além do renome, eles são conhecidos por terem gasto mais dinheiro que eu nesse último mês de dezembro, quando estavam no governo.

Eu não julgo. Eu vejo a situação como se alguns gestores amigos assinassem uma carta em defesa do aumento da taxa de administração. O que for melhorar meu bônus, tô dentro.

Eu vejo ET em todo canto - Desde que noticiamos na semana passada sobre o balão chinês que os EUA derrubaram, novas informações apareceram. Mas a história fica melhor: aparentemente, os EUA não olhavam os balões no radar. Então vários podem ter passado pelo país ou ainda estão lá e eles só verão agora.

Muitas pessoas estão dizendo que são ETs, pois os EUA estão se referindo a OVNIs. Mas é só pensar comigo: quando um estagiário me atrapalha fico com vontade de mandá-lo embora. Quando quero demitir estagiário começo a enxergar estagiários em todo canto.

É tipo isso, só que com pitadas de intriga internacional.

Miau - O meu Rio de Janeiro é um expoente do Brasil. Tudo o que temos de melhor aqui, o país adota pra si: futebol, carnaval, praia de água gelada e claro, o gatonet.

Em um triste dia para a ilegalidade (e para´o meu cunhado que a comete), a ANATEL informou que vai bloquear os sinais das TV Box, aqueles aparelhos que liberam todos os canais de TV a cabo.

Com isso, milhões de pessoas vão perder aquele papo do "eu tenho um desenrolo top pra pegar os canais" e do "melhor que Netflix, pô". Um triste dia para este ícone carioca.

Um beijo de verão, meu sobrinhos.

Verde de raiva.

Por Gabriel Boente

Se tem uma coisa que eu gosto de ler são as cartas dos grandes fundos brasileiros. Claro, daqueles que se dão ao trabalho de escrever uma.

O grande evento no mercado financeiro em 2023, até então, é a crise das Americanas. No longo prazo, ainda veremos mais sobre essa história, pois a tendência é deixar cicatrizes profundas em nosso mercado. Por outro lado, no curto prazo, o maior ruído vem nos resultados dos grandes bancos, que eram credores de uma fraude.

Acontece que existem outros players do mercado que sofrem esses efeitos imediatos: todos que investiram na companhia. Os acionistas tiveram um dano de mais de 90% no valor dos seus investimentos em ações da AMER3, mas também tivemos grandes perdas nos fundos de crédito. Um deles foi o glorioso Verde Asset Management, do longevo e badalado Luis Stuhlberger.

Aliás, eu disse lá em cima que adoro ler cartas dos fundos. Mas se tem uma carta que eu sempre fico ansioso pra ler em tempos de crise é a do Verde. Em tempos assim, a postura mais tranquila dá lugar a uma mais assertiva e contundente. Só lembrar da época do auge da COVID, quando eles criticaram duramente a velocidade do governo em começar a campanha de vacinação (essa foi minha favorita).

Na carta, eles começam dizendo que perderam 14 base points (ou seja, 0,14%) com as posições em debêntures das Lojas Americanas. Mesmo assim, eles dão uma visão sobre quem investia nos títulos. O que é interessante, pois todo mundo que analisa o domingo em plena segunda-feira é gênio.

O fundo nos diz que investiu em papéis de renda fixa das Americanas em 3 ocasiões: duas em 2020, onde deu um bom retorno, e 1 em junho de 2022, que foi a bomba. Eles dizem que a estratégia da companhia em crédito privado é focada em high yield (ou seja, empresas que pagam maiores taxas por terem nota de crédito pior) mas que, vez ou outra, acabam comprando papéis high grade (empresas com boa nota de crédito).

E assim, se você pensa que as Americanas tinha uma baixa nota de crédito, você se engana. Em julho de 2022, a agência Fitch deu nota máxima para o índice nacional das Americanas, o AAA(bra). Apesar de que, em novembro do mesmo ano, a mesma agência já diminuiu um pouco o rating, com perspectiva negativa.

trechos da carta

O próprio fundo disse que:

"em todo investimento de crédito do fundo, analisamos o balanço da companhia (que mostrava um endividamento líquido de menos de três vezes o EBITDA), o histórico da companhia, seus acionistas controladores, time de gestão e as perspectivas do negócio."

E mesmo assim ninguém identificou a bomba relógio que foi detonada com a saída de Sérgio Rial, 9 dias após assumir o comando das Americanas.

Claro, as informações de interesse estavam escondidas. Não era pra ninguém achar. Por isso mesmo concordamos com esta carta da Verde, onde eles dizem que foram "vítimas de uma fraude".

Não só eles, mas o mercado de ativos mobiliários brasileiro como um todo. E isso mancha a reputação e o jogo.

Será que todo mundo dormiu no volante e não olharam a fundo sobre o risco sacado (y otras cositas más)? Claramente "O diabo mora nos detalhes" é uma frase inventada por um contador.

A própria CVM havia soltado uma nota dizendo que era preciso assumir que o risco sacado é dívida financeira (interpretação nossa, apesar dessa ser a orientação mais clara). E o próprio fundo diz que "Como gestores, nosso dever é buscar falhas em nosso processo de investimento e aprimorá-lo a partir dos aprendizados desse caso". Mas em casos assim é contraproducente culpar as vítimas.

Outro ponto comentado na carta, e que concordamos demais, é a condução da empresa e do processo como um todo.

"Beira o inacreditável que somente 23 dias após o fato relevante, que alguém da companhia, seja na área financeira, seja na alta gestão, tenha sido afastado. Temos a maior fraude da histórica corporativa do Brasil, um buraco de mais de vinte bilhões de reais, e a gestão financeira da companhia (com exceção da recém empossada CFO) continuou sendo feita pelas mesmas pessoas durante todo o período seguinte"

Nem precisamos complementar essa indignação.

E sobre o desenrolar da história, vamos citar outra carta de outra gestora: a Ártica Asset Management, que aparentemente não investia nas Americanas:

"o caso é trágico para os acionistas das Americanas, que viram seus investimentos na empresa ser reduzidos a pó da noite para o dia; ruim para os credores e fornecedores da companhia, que não irão receber tudo que lhes é devido; indiferente para a maior parte do mercado, que não tinha nenhuma relação com as americanas; e bom para as varejistas competidoras, que vão poder abocanhar boa parte da fatia de mercado até então ocupada pelas americanas."

A tragédia é ruim para os acionistas e para os milhares de empregados, que vão acabar perdendo o emprego e pagando o pato por uma política contábil irresponsável. O "ruim" é saber que vão receber num prazo que só Deus sabe (e Ele também duvida desse prazo).

Sobre o "indiferente", eu acabo tendo que concordar, pois a parcela do valor de Americanas era muito pequena em relação ao total. Porém, num mundo ideal, o mercado não pode ficar indiferente e precisa cobrar respostas e mudanças.

Sobre ser bom pra alguém, as varejistas competidoras estão com tão pouco oxigênio que, se abrirem a boca pra pegar parte do mercado, é capaz de ficarem sem ar.

A carta da Verde, nosso tema principal, termina com eles citando uma frase de Warren Buffet. Claramente, o intuito era alfinetar um pouco o 3G, o bilionário grupo controlador que dormiu no volante (no melhor dos cenários):

"Leva vinte anos para se construir uma reputação e cinco minutos para arruiná-la. Se você pensar nisso, fará as coisas de maneira diferente."

Realmente leva-se muito tempo para construir uma reputação. A pergunta que queremos deixar é: quanto tempo leva pra arquitetar uma fraude? E qual o tamanho ideal da fraude para que ela seja esquecível?

A única coisa que eu sei é que o brasileiro tem memória curta… e talvez bolsos furados.

⏳Atemporalidades

Leia agora, leve pra vida.

  • Em algum lugar nos EUA, há 18 anos, um bando de universitários ativou um site na internet para uma plataforma que eles estavam desenvolvendo. O domínio era www.YouTube.com
  • “O campo da derrota não está povoado de fracassos, mas de homens que tombaram antes de vencer”
    • Abraham Lincoln, que comemoraria 214 anos nesta semana, se a fonte da juventude tivesse sido descoberta;
  • "As amizades de um homem são uma das melhores medidas de seu valor” Charles Darwin, que nasceu no mesmo dia que Lincoln.

Por hoje é só pessoal 🤙

Bebam café, se hidratem e [...]

Boa semana e bons negócios!

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