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Como a C&A Multiplicou por Quase 5x o Valor das suas Ações? - Diário de Omaha 91

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Leandro Siqueira

Leandro Siqueira

Estrategista de Investimentos, Co-fundador da Varos

Como a C&A Multiplicou por Quase 5x o Valor das suas Ações?

Por Leandro Siqueira

Em 2019, a C&A fez um IPO e suas ações chegaram a ser cotadas a mais de R$ 18. Três anos depois, elas haviam derretido e valiam menos de R$ 2. Agora a ação caminha para os R$ 10 – uma alta de quase 400%.

Essa é a história por trás dessa epopeia.

Imagem de uma loja da marca

A C&A é uma empresa holandesa criada em 1841.

O nome dela vem das primeiras letras dos nomes dos seus fundadores: os irmãos Clemens e August Brenninkmeijer. Naqueles tempos, comprar roupas prontas era coisa de rico. Dessa forma, a C&A vendia rolos de tecidos.

desenho representando os dois fundadores

A C&A é uma empresa holandesa criada em 1841.

O nome dela vem das primeiras letras dos nomes dos seus fundadores: os irmãos Clemens e August Brenninkmeijer. Naqueles tempos, comprar roupas prontas era coisa de rico. Dessa forma, a C&A vendia rolos de tecidos.

A proposta da C&A encaixou perfeitamente: a empresa vendia roupas bem cortadas, mas a um precinho que cabia no bolso da nova classe média. Desde então, a empresa dos irmãos Brenninkmeijer não parou mais.

Hoje a C&A é uma das maiores varejistas de moda de todo o planeta. São quase 2 mil lojas espalhadas por 21 países da América Latina, Europa e Ásia. Contudo, a ação CEAB3 é referente apenas à parte da operação que ocorre aqui no Brasil.

A empresa desembarcou em terras tupiniquins em 1976, com uma loja no Shopping Ibirapuera, em São Paulo. A ideia era a mesma da C&A original: equilibrar moda, qualidade e preço.

imagem de uma loja antiga no brasil

Sendo uma das primeiras a implementar o "self-service" nas lojas de vestuário, e com um marketing poderoso, rapidamente a C&A tornou-se líder no setor de moda do país.

Quem não se lembra, afinal, do Sebastian, ícone da marca nos anos 2000?

imagem do marketing com o sebastian

Acontece que, depois de anos na liderança, a companhia travou e foi superada pelas concorrentes. No seu comando, do auge à derrocada, estava o misterioso clã Brenninkmeijer, cujos descendentes, infelizmente, transformaram a empresa no estereótipo da companhia familiar.

Pra você ter ideia, os números eram guardados a sete chaves, e por mais que fosse vantajoso, a empresa raramente pegava empréstimos com os bancos. Quando decidiam tomá-lo, ainda exigiam que o gerente do banco analisasse os números em uma sala fechada, na sede da própria empresa.

Esse estilo conservador ainda era acompanhado de regalias para a gestão. Tudo isso acabava travando o crescimento da empresa. A reviravolta só começou quando, pela primeira vez na história, um não-Brenninkmeijer assumiu o comando da empresa.

A façanha foi alcançada por Luiz Antonio Fazzio, que foi CEO da empresa entre 2002 e 2009. Ele ficou conhecido por cortar gastos (incluindo as regalias da gestão). Além disso, ele demoliu a barreira entre os funcionários e os números da empresa.

Assim, Fazzio cravou seu lugar na história como o 1º CEO a abrir os resultados financeiros da empresa para todo o nível gerencial, numa reunião que contou com mais de 300 pessoas.

Um feito histórico para uma empresa que até pouco tempo atrás só abria seus números sob segredo. Pouco tempo depois, o clã resolveu dar a chance de ocupar o cargo de CEO para outro brasileiro que vinha se destacando dentro da empresa: Paulo Correa.

Logo depois foi anunciado o IPO da C&A no Brasil e, pra felicidade de todos os acionistas, a família diminuiu sua participação.

divisao societaria da empresa

A entrada de Paulo marcou o início da nova era da C&A. No entanto, o desafio era gigantesco. A C&A tinha parado no tempo em relação a concorrentes como Renner e Guararapes.

A gestão da C&A, então, começou a pôr em prática um plano de reestruturação. A ideia era melhorar a rentabilidade da empresa por meio da tecnologia.

O foco voltou-se para a logística, criação de coleções e gestão de estoque. Em paralelo, ainda criaram a financeira C&A Pay. Até aquele momento, a C&A era a única que não contava com esse braço financeiro no negócio, que era tocado por uma parceria com o Bradesco.

imagem do marca de pagamento da empresa

Tudo aquilo parecia promissor e a ação começou a subir, mesmo pós COVID-19. Até 2021. Naquele ano, justo quando começaram a investir pesado em tecnologia, a incerteza sobre o futuro do cenário macroeconômico pairou sobre o ar.

Fazer tanto investimento requer grana. Com a alta dos juros, porém, o preço do dinheiro ficou mais caro. Para piorar, o poder de consumo da população caiu. Os resultados foram pressionados e a ascendência dos concorrentes chineses assustou os investidores. Foi aí que a ação derreteu, atingindo o piso histórico no final de 2022.

cotação ao longo do ano da ação

A queda foi tão brusca, que quando a C&A bateu R$ 3 por ação o mercado chegou a especular a compra dela pela Renner (LREN3), que tinha um caixa de R$ 4,4 bilhões na época, suficiente para comprar quase 5 C&As.

Em meio a tudo isso, nós sentamos à mesa e começamos a rodar simulações para entender o quão mal a C&A teria que performar para valer somente aquilo.

O que nós descobrimos é que somente o pessimismo sórdido poderia justificar tal preço.

Apenas cenários absurdos, como uma Margem EBIT de 1% para todo o sempre, nenhuma nova loja pelos próximos 20 anos e nenhum cartão emitido a mais, tornariam aquele Valuation sensato.

Não fazia sentido. Conforme os resultados trimestrais de 2023 foram divulgados, o mercado começou a perceber o óbvio. Enquanto os concorrentes sacrificavam margens para manter as vendas e viam a inadimplência disparar, a ausência de um braço de crédito passou a jogar a favor da C&A.

Foram incríveis 8 trimestres consecutivos aumentando sua Margem Bruta. Com margens saudáveis e as vendas aumentando, a C&A passou então a reduzir sua alavancagem financeira, que caiu de 3,9x para 1,5x a dívida líquida/EBITDA.

evolução da margem bruta

Apesar de tudo isso, parece que ainda há mais por vir. A gestão agora diz que 2024 será um ano para colher os frutos dos investimentos que fizeram no passado. A pergunta que fica é: será que ainda há espaço para a ação da C&A subir mais?

É isso que nós respondemos no relatório "Atualização Trimestral - 4T23" , que acabou de ser liberado na nossa plataforma.

Para lê-lo, basta assinar uma de nossas carteiras de ações. Caso você não tenha assinado ainda, temos um presentão para você. Um DESCONTO de 10%.

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As principais notícias da semana

Por Saulo Pereira

Bom dia, meus amigos.

Mais uma semana começando, e depois de muito tempo o jejum acabou. Afinal, o Flamengo foi campeão da Taça Guanabara. Uma coisa é certa, mais difícil do que ganhar uma Copa do Mundo é entender o regulamento do Campeonato Carioca, que nas últimas 10 edições já deve ter tido uns 5 formatos diferentes.

Brincadeiras à parte, vamos falar sobre as principais notícias dos últimos dias.

Musk vs ChatGPT - na última semana, Elon Musk entrou com um processo contra a OpenAI (dona do ChatGPT) e seu CEO, Sam Altman. Musk, que ajudou a fundar a companhia, colocando um aporte de $44 milhões de dólares, decidiu processar a empresa por não estar cumprindo um dos propósitos iniciais do contrato.

A proposta inicial era de que a OpenAI seria uma empresa sem fins lucrativos e sua tecnologia seria usada em benefício da sociedade.

Acontece que a parceria da empresa de inteligência artificial com a Microsoft está alterando essa visão inicial, segundo Musk. Além disso, em 2017 Musk tentou incorporar a startup à Tesla, porém sem sucesso.Desde então se afastou do negócio. Segundo um email circulado para os funcionários da empresa, os executivos acreditam que o bilionário esteja sendo movido pelo ressentimento.

Toma lá, dá cá - assim como manda o figurino da política tupiniquim, o governo Lula tem tido apoio do principal grupo do Congresso: o centrão. O governo, que começou com pouco mais de 200 deputados na oposição, viu apenas cerca de 60% assinarem o pedido de Impeachment.

Além disso, o presidente da Câmara, que é o único que pode fazer o processo andar, vive um bom momento com Lula. Vale lembrar também que muitos ministérios foram cedidos aos partidos do centrão, para que o governo consiga ter os seus interesses atendidos.

Segue o líder - o Citi é considerado pelo quinto ano consecutivo o maior banco de câmbio para clientes. Só em 2023 passaram mais de 240 bilhões de dólares na mesa do Citi nessa modalidade.

O banco já ficou 15 vezes no topo desse ranking. Sozinho, ele controla quase 14% desse mercado. Ele é fundamental para o investimento estrangeiro no Brasil, já que possui mais de 65% de custódias de clientes estrangeiros. Isso acaba tornando o banco uma referência para quem quer investir aqui.

A volta dos irmãos Batista - quem aí se lembra do famoso "Joesley Day", em 2017? A empresa controloda pelos irmãos Batista está de novo sob os holofotes. Dessa vez a JBS é acusada de greenwashing , que é quando uma empresa utiliza propaganda enganosa sobre suas práticas ambientais.

A empresa está sendo processada pela Procuradora Geral de Nova York. Letitia James. A Procuradora alega que a empresa fez inúmeras declarações enganosas sobre o real impacto ambiental das suas operações.

Achamos o impostor - um ex-embaixador dos EUA em Cuba admitiu ter sido espião secreto da pequena ilha durante anos. Entre 1981 e 2002, Victor Manuel Rocha manteve encontros frequentes com agentes da inteligência cubana. Nessas reuniões, o ex-embaixador passava informações sigilosas sobre o seu governo para os agentes cubanos, porém reportava aos seus superiores informações falsas sobre o governo de Cuba.

O fato mais inusitado sobre isso tudo é que ele foi descoberto quando manteve conversas com um suposto representante do Departamento de Inteligência de Cuba. Durante os anos de 2022 e 2023 ele acabou falando demais para essa pessoa, que na verdade era um agente disfarçado, do FBI.

Sem dúvida essa história poderia dar um bom roteiro de filme.

Vem aí a Terceira Guerra Mundial? - a invasão da Ucrânia, há 2 anos, era pra durar poucos dias, segundo os cálculos da inteligência russa. Acontece que os diversos erros cometidos pela Rússia e a ajuda ocidental estão fazendo a Ucrânia resistir muito bem. Enquanto isso, Vladimir Putin ameaça usar armas nucleares, caso a OTAN decida entrar na guerra.

A fala do presidente (ou ditador) da Rússia foi uma resposta ao presidente francês, Emmanuel Macron, após ele mencionar que não descarta a possibilidade de usar tropas da OTAN para ajudar a Ucrânia. Além disso, Putin fez questão de lembrar o que aconteceu com as tropas de Napoleão e de Hitler, quando tentaram invadir a Rússia.

Bom, numa possível guerra nuclear fica impossível não lembrar de uma famosa frase da ex-presidente do Brasil Dilma Rousseff: "Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder."

Um filme em 4D um pouco diferente - em um shopping em Recife a polícia foi acionada após jovens fumarem maconha durante o filme sobre Bob Marley. Além disso, o grupo ainda estava causando tumulto dentro da sala de cinema.

Talvez eles achassem que todo mundo da sala iria pensar que o cheiro era apenas do filme ou algo assim. Agora, imagina o que eles levariam para o filme Oppenheimer, para a imersão ser maior...

Por hoje isso é pessoal, uma boa semana para todos e até a próxima edição do Diário.

Vietnã se Tornará uma Nova China?

Por Saulo Pereira

Um dos eventos mais importantes do último século foi a Guerra do Vietnã. Foram quase 20 anos de conflito entre o Vietnã do Norte (apoiado pela União Soviética) e o Vietnã do Sul (apoiado pelos EUA). O final da guerra todo mundo sabe: vitória do Vietnã do Norte e a unificação dos países como uma nação socialista.

As primeiras décadas não foram nada fáceis, mas nos últimos 15 anos o país conseguiu mais do que triplicar o seu PIB (Produto Interno Bruto). Uma das razões para isso foi a abertura para o comércio internacional. Isso fez a pequena nação se beneficiar da guerra comercial entre EUA e China. Para entender como e por que o Vietnã mantém o crescimento da sua economia estável, vamos voltar para a década de 1970.

foto icônica das pessoas fugindo de helicoptero da embaixada dos EUA em saigom

Nessa década, mais precisamente em 1975, aconteceu a Queda de Saigon, evento que marcou o fim de uma das guerras mais violentas da história. Além disso, ela é considerada a pior derrota militar da história dos EUA.

Os primeiros 10 anos do Vietnã unificado foram bem complicados. O país estava

destruído por causa da guerra e o PIB per capita variava entre 200 a 300 dólares.

Em 1986 uma série de reformas aconteceram, ela ficou conhecida como "Đổi Mới", que significa renovar ou renovação.

Basicamente, o país se tornou uma economia de mercado com orientação socialista. A partir daí o Vietnã abandonou de vez o modelo socialista tradicional, privatizou diversas empresas e abraçou investimentos internacionais. O governo manteve apenas o controle de setores que considera estratégicos, como bancos, energia e algumas indústrias.

Essas medidas foram fundamentais para que o país deixasse de ser uma nação pobre e fosse considerado pelo Banco Mundial como um país de renda média baixa. A taxa de pobreza caiu de 14% em 2010, para menos de 4% em 2022. Para termos uma noção, a projeção de crescimento do PIB para os próximos 2 anos é de mais de 5% em cada ano. Impressionante!

Vale lembrar que há 40 anos o país exportava apenas commodities básicas. Hoje em dia exporta também eletrônicos e têxteis. A transferência de tecnologia que aconteceu no Vietnã contribuiu bastante para aumentar a complexidade econômica deles. Esse índice nos mostra o quão complexos são os produtos que um país exporta. Para efeito de comparação, em cerca de 26 anos o Brasil caiu de 25 para a posição 70 e o Vietnã subiu de 107 para 61.

nível de produtividade do brasil e vietnã no passado comparando com os dias atuais

Outro dado chocante é que em 2020 o pequeno país asiático ultrapassou o Brasil em número de exportações. Todo esse crescimento econômico coloca o Vietnã numa boa posição na disputa comercial entre a China e os EUA.

Para entender o papel do Vietnã entre as 2 maiores potências mundiais, precisamos entender como foi a relação entre elas nos últimos 40 anos.

Muito provavelmente os EUA nunca imaginariam que a China iria um dia ameaçar sua posição de maior economia do mundo. Ou talvez eles pensassem que quando isso acontecesse a China já teria um governo de mesma ideologia que os norte-americanos. Acontece que a China está longe de ter um governo parecido com os EUA.

Além disso, em 2018 a balança comercial dos EUA registrou um déficit de quase $400 bilhões com a China. Isso mostra que os chineses têm comprado menos dos EUA. Na época, o governo americano impôs uma série de taxações aos produtos da China.

Com taxações e insultos de ambos os lados, os dois países saem perdendo. É estimado que os EUA tenham perdido cerca de 300 mil postos de trabalho até 2019 por conta disso. Já do lado chinês a consequência foi uma redução de 23% nas importações dos EUA de produtos oriundos da China, em 2017, para 18% no final de 2019. Como diz o ditado: "enquanto uns choram outros vendem lenços". O Vietnã tem sido o maior beneficiado no meio disso tudo.

Foram mais de $6 bilhões de dólares que entraram no Vietnã por conta dessa disputa. Muitas gigantes internacionais intensificaram sua mudança da China para o Vietnã, como por exemplo a Microsoft (MSFT34) e o Google (GOGL34). Uma das vantagens do pequeno país do leste asiático é a sua mão de obra barata em relação à chinesa.

Apesar de todos os problemas governamentais, como censura e corrupção, os investimentos estrangeiros continuam entrando por lá. Vale lembrar também o fato do país ter ficado à frente de países como Alemanha e Holanda, no PISA de 2015 (teste que avalia estudantes de mais de 70 países).

Agora, dificilmente o Vietnã irá ocupar o lugar da China sozinho, como uma das maiores potências econômicas. Até porque basta compararmos o tamanho, tanto territorial quanto populacional, das duas nações. A questão será esperar para ver como o governo irá se comportar à medida em que a economia do país crescer. Vamos acompanhar.

Dinheiro COMPRA felicidade?

Bom pessoal, hoje vamos falar sobre um tema que todo mundo adora discutir: será mesmo que o dinheiro compra a felicidade?

Embora muita gente diga que não, a verdade é que existem alguns argumentos que sugerem o contrário.

Então, para responder a essa pergunta, nosso cientista de dados, Brenno Sullivan, fez um vídeo mostrando o que a ciência tem a dizer sobre isso.

⏳ Atemporalidades

Leia agora, leve pra vida.

"Nossa Constituição é uma mistura de dicionário de utopias e regulamentação minuciosa do efêmero." — Roberto Campos

"Ideias e somente ideias podem iluminar a escuridão." — Ludwig von Mises

Por hoje é só pessoal 🤙

Bebam café, se hidratem e [...]

Boa semana e bons negócios!

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