Conceitos

A Revolução da Inteligência Artificial: Mais um Conto da Tecnologia ou é tudo real?

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Saulo Pereira

Saulo Pereira

Redator

Introdução

Desde o final do ano passado, a IA gerativa tem sido o centro das atenções, e nenhum produto recebeu mais destaque do que o ChatGPT.

Após seu lançamento, ele rapidamente acumulou mais de 100 milhões de usuários mensais A promessa era de que essa era apenas a ponta do iceberg e que a IA gerativa iria revolucionar a sociedade, e talvez até ameaçar o futuro da humanidade.

No entanto, desde o início desse ciclo de hype, houve muitas razões para ser cético em relação às narrativas apresentadas pela OpenAI e outras empresas.

Será que um produto gratuito realmente atrairia tantos usuários apenas por ser amplamente divulgado? E as grandes promessas feitas pela indústria refletiam a realidade da tecnologia?

A Ascensão e Queda do ChatGPT

O ChatGPT, após seu lançamento estrondoso, começou a mostrar sinais de desaceleração. Dados da SimilarWeb, a mesma empresa que destacou o crescimento rápido do ChatGPT, mostraram que, em apenas seis meses após seu lançamento, o tráfego mundial do ChatGPT caiu 9,7% em junho, e os usuários únicos diminuíram 5,7%.

gráfico mostrando evolução dos usuários do chatgpt

Alguns defensores da IA gerativa tentaram justificar essa queda alegando que os estudantes pararam de usar a ferramenta para seus trabalhos escolares. No entanto, os dados mostram que o crescimento do serviço começou a estagnar já em março, muito antes da queda em junho.

Mesmo que a queda no tráfego possa ser explicada pela mudança no uso dos estudantes, isso ainda não é um bom sinal para um produto tão novo que supostamente está apenas começando a transformar nossa forma de viver, trabalhar e interagir com serviços digitais.

Isso sugere que o hype em torno da IA gerativa pode ter sido construído sobre uma base frágil e que sua reputação é mais baseada em expectativas infladas do que em promessas reais.

Um Ciclo e Hype funciona da seguinte forma.

gráfico explicando o ciclo hype

Silicon Valley em Busca do Próximo Grande Sucesso

Quando a IA gerativa surgiu no final de 2022, o Vale do Silício estava passando por um momento desafiador.

Após construir um modelo operacional baseado na suposição de taxas de juros baixas, os bancos centrais começaram a aumentá-las rapidamente pela primeira vez em mais de uma década. Isso limitou o acesso fácil ao capital e desafiou a ideia tradicional de como uma empresa de tecnologia deveria operar.

Além disso, as grandes apostas anteriores da indústria também não estavam indo bem. O hype em torno das criptomoedas atingiu seu pico em novembro de 2021 e depois enfrentou uma série de quedas e falências em 2022.

O metaverso, promovido por empresas como a Meta, também não teve um desempenho um bom desempenho. Muitas empresas que inicialmente se juntaram à onda do metaverso logo abandonaram seus experimentos quando perceberam que o público via o projeto de realidade virtual de Mark Zuckerberg mais como uma piada do que como o futuro.

Diante desses desafios, o Vale do Silício estava em uma posição difícil. O crescimento estava desacelerando, o boom impulsionado pela pandemia para as grandes empresas de tecnologia havia acabado, e não havia um "próximo grande sucesso" à vista. Foi nesse cenário que o ChatGPT e a IA gerativa surgiram, preenchendo o vazio e oferecendo uma nova onda de investimento e inovação.

A Verdadeira Natureza da IA Gerativa

A IA gerativa, como o ChatGPT, seguiu o típico modelo de ciclo de hype tecnológico. Em um momento, poucas pessoas haviam ouvido falar ou usado o produto. De repente, ele estava em todos os lugares, e fomos inundados com histórias sobre suas qualidades mágicas e capacidades sem precedentes.

As advertências sobre o que isso poderia significar para empregos, sociedade e o futuro de nossa espécie também estavam em alta.

No entanto, essa explosão de atenção e curiosidade tinha semelhanças com outros produtos tecnológicos que surgiram no passado, apenas para serem esquecidos alguns anos depois.

A onda da IA gerativa trouxe lembranças da última vez em que se acreditava que a IA e a automação iriam revolucionar a sociedade. Há cerca de uma década, a indústria e seus porta-vozes na mídia nos diziam que os robôs estavam prestes a assumir muitos de nossos empregos. No entanto, a realidade mostrou-se muito diferente das grandes previsões da indústria.

A Responsabilidade das Empresas de Tecnologia

A OpenAI, a empresa por trás do ChatGPT, foi inicialmente saudada como uma organização que traria transparência e ética ao campo da inteligência artificial. No entanto, sua abordagem em relação ao ChatGPT mostrou uma realidade diferente.

A empresa lançou o produto sem considerar adequadamente as implicações éticas e sociais. A capacidade do ChatGPT de gerar texto com base em dados raspados da web levantou preocupações sobre privacidade e direitos autorais. Além disso, o modelo foi treinado em textos da internet, o que significa que ele também aprendeu e reproduziu os preconceitos e estereótipos presentes nesses textos.

A OpenAI não foi a única culpada. Muitas outras empresas de tecnologia têm se apressado em lançar produtos inovadores sem considerar as consequências a longo prazo. Isso levanta a questão: até que ponto as empresas de tecnologia devem ser responsabilizadas por suas inovações? E quem deve ser o guardião da ética na era da tecnologia?

O Futuro da IA Gerativa

Apesar dos desafios e controvérsias em torno da IA gerativa, é inegável que ela tem um potencial significativo. A capacidade de gerar texto, imagens e até mesmo música pode ter aplicações valiosas em várias indústrias, desde a criação de conteúdo até a medicina.

No entanto, para que essa tecnologia alcance seu potencial completo, é essencial que as empresas e pesquisadores abordem os problemas éticos e técnicos. A questão da privacidade dos dados, por exemplo, é crucial. Se as empresas continuarem a treinar seus modelos em dados raspados da web sem o consentimento dos usuários, isso poderá levar a sérias implicações legais e de reputação.

Além disso, é vital que a tecnologia seja desenvolvida de forma transparente e aberta. A comunidade de pesquisa deve ter acesso aos modelos e dados para que possam entender melhor como eles funcionam e identificar possíveis problemas.

Finalmente, é crucial que as empresas considerem o impacto social de suas inovações. A tecnologia não existe no vácuo; ela é moldada e influenciada pela sociedade e, por sua vez, molda e influencia a sociedade. Portanto, é responsabilidade das empresas garantir que suas inovações beneficiem a sociedade como um todo, e não apenas seus resultados financeiros.

Conclusão: Aprendendo com o Passado para Moldar o Futuro

A saga do ChatGPT e da IA gerativa nos oferece uma lição valiosa sobre a natureza do hype tecnológico. Em um mundo dominado por manchetes sensacionalistas e ciclos de notícias de 24 horas, é fácil se deixar levar por promessas grandiosas e expectativas infladas. No entanto, como vimos com o ChatGPT, a realidade muitas vezes não corresponde ao hype.

Isso não significa que devemos descartar a IA gerativa ou qualquer outra inovação tecnológica. Pelo contrário, devemos abordá-las com uma mente aberta, mas também com um olhar crítico. Devemos nos perguntar: Quais são os verdadeiros benefícios dessa tecnologia? Quais são os riscos potenciais? E, mais importante, como podemos garantir que essa tecnologia seja usada de maneira responsável e ética?

Ao fazer essas perguntas e buscar respostas, podemos garantir que as inovações tecnológicas do futuro sejam verdadeiramente benéficas para a sociedade e não apenas para um punhado de empresas e investidores.

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