O ano de 2022 marcado pelo início do ciclo de aumento nas taxas de juros da maior economia do mundo, estamos falando dos EUA. O primeiro aumento aconteceu em março, foi o primeiro aumento promovido pelo Fed desde 2018.
O objetivo era combater a inflação, decorrente dos efeitos do COVID-19, que gerou um aumento de liquidez absurdo na economia.
Mas a inflação não veio pra brincar, atingiu 9,1% na base anual. Esse foi o valor máximo dos últimos 40 anos. A meta para o ano era 2%. Foi trucidada.
Já ao fim do ano a taxa de juros norte americana ficou por volta dos 4,25% e 4,50%. O Fomc fechou a última reunião do ano subindo a taxa juros em 0,50%.
A inflação por lá é medida pelo CPI, um índice de preços ao consumidor semelhante ao nosso IPCA. No ano, o CPI foi de cerca de 6,5%.
Aqui no Brasil, o cenário foi parecido mas nem tanto. Isso aconteceu porque começamos a escalar a taxa de juros em março de 2021, um ano antes. E não só isso, fomos os primeiros a iniciar o aumento das taxas de juros no mundo todo.
A Selic, que estava na mínima histórica no patamar de 2%, subiu pra 2,75% na oportunidade. Daí pra frente foram "só" 12 aumentos consecutivos até os 13,75%. Haja fôlego.
Enquanto isso, a inflação medida pelo IPCA, foi de 5,9% e a Poupança acumulou retorno de 7,9% no ano.
Bom, todo esse cenário influencia diretamente os ativos de risco, e isso é um dos principais causadores das grandes correções e aversão ao risco de maneira geral.
Se eu posso investir num título público (aqui ou nos EUA) e receber 1% ao mês aqui no Brasil, porque eu investiria num ativo cheio de risco? Não que o governo brasileiro seja livre de risco ok? pelo contrário. Estamos sempre em crise por aqui, esse é o nosso segredo
Mas essa é a ideia, quando as taxas de juros estão mais altas, os investidores, no geral, ficam aversos ao risco, e buscam mais a segurança da renda fixa, enquanto nos momentos de taxas mais baixas, correm para os ativos de risco para conseguir melhor retorno nos seus investimentos.
Ibovespa
O saldo do ano para o Ibov foi de alta de 4,69%, fechando aos 109.735 pontos, resultado até bom.
Nos últimos anos tivemos anos muito bons e anos muito ruins, aquela volatilidade característica de sempre.
- 2012 (+7,40%)
- 2013 (-15,50%)
- 2014 (-2,91%)
- 2015 (-13,31%)
- 2016 (+38,93%)
- 2017 (+26,86%)
- 2018 (+15,03%)
- 2019 (+31,58%)
- 2020 (+2,92%)
- 2021 (-11,93%)
- 2022 (+4,69%)
Bitcoin
O Bitcoin é uma moeda digital que foi criada com o intuito de se tornar uma moeda descentralizada e sem lastro, pra ser usada como método de pagamento e reserva de valor. Tem até país que já escolheu o bitcoin como moeda nacional.
Uma das coisas que faz o Bitcoin se apreciado como reserva de valor é a sua escassez, existem apenas 21 milhões de Bitcoins, o que na teoria tiraria o efeito da inflação da moeda.
O dólar, por exemplo, pode ser impresso aos montes como o Fed tem feito nos últimos anos, o que aumenta a oferta e por conseguinte reduz o valor através da inflação.
Mas contra isso o bitcoin tem a volatilidade, com correções e ralis de alta com uma força inegável.
Ouro
O ouro é um metal precioso muito usado contra a inflação desde os tempos antigos.
Assim como o Bitcoin, o ouro tem uma oferta relativamente limitada e é usado em produtos tangíveis como joias.
Mesmo assim, contra a inflação, o desempenho do ouro tem sido inconsistente, embora seja menos volátil que o bitcoin.
Bitcoin x Ouro
Como o ano de 2022 foi bem ruim pra vários tipos de ativos, o resultado pode te surpreender.
Muito investidores tentaram reduzir o risco de suas carteiras após o início do ciclo de alta dos juros. Com isso o S&P 500 teve o seu pior resultado desde a grande crise financeira. O tombo foi de -18,1%, mas se a gente olhar só as ações de tecnologia o abismo foi mais fundo, com -32,5%. Já o mercado de títulos, ou Treasures, não suportou e caiu -13%.
Agora, olhando para os protagonistas deste artigo vemos que nenhum dos dois se safou da inflação. O Bitcoin teve uma queda colossal de -64,8% no ano.
Já o ouro teve uma queda bem leve em relação aos outros ativos analisados, de apenas -0,7%. Mas ainda assim tomou um coro da inflação, com seus corrosivos 6,5%.
Se a gente olhar só o desempenho de 2022, o ouro vence fácil obviamente. Mas seria imprudente e ingênuo da nossa parte colocar o ouro como vencedor do duelo considerando apenas os dados de um ano, esse é um dos maiores erros dos investidores, olhar um período histórico curto o suficiente pra gerar um viés.
Pra se ter ideia, só esse ano (2023) o Bitcoin já subiu 70%, ainda não é suficiente para zerar as perdas de 2022 mas é uma boa subida considerando a volatilidade do ativo. Contrastando com o ouro, que subiu menos de 2% esse ano.
Se a gente olha o histórico do ouro ao longo do tempo, principalmente em períodos de inflação, veremos que talvez ele não seja tão efetivo assim. Por exemplo, o retorno médio anualizado do ouro foi de 35% de 1973 a 1979, quando a inflação girava por volta de 8,8%. Foi monstruoso não?
Já no período de 1980 a 1984, o ouro caiu em média -10% ao ano, enquanto a inflação ficou na média de 6,5%. Sujeito indeciso né? hahaha
Ações
Embora ao olhar para o curto prazo (2022) possa não parecer, as ações são bons ativos pensando no longo prazo. O S&P 500, de 1926 a 2022 teve um retorno anualizado de cerca de 10%, considerando os dividendos.
Com exceção dos períodos mais pesados, o S&P 500 costuma ser sair bem quando olhamos para grandes janelas de tempo, e seu retorno costuma ser suficiente para bater a inflação americana.
É importante comentar que este artigo não tem o intuito de influencias suas decisões de investimento, é apenas um comparativo com o objetivo de aguçar sua curiosidade pra essas análises, usando dados conseguimos observar como os mercados e ativos reagem aos mais diversos cenários.
No fim, a diversificação é melhor hedge que sua carteira pode ter. Acredite nisso.
Espero que tenha gostado e caso tenha alguma sugestão de estudo ficarei feliz em ouvi-la, nos vemos no próximo artigo.