Mercado Financeiro

Afinal, o dinheiro compra a felicidade, ou não?

7min de leitura

Misael Guedes

Misael Guedes

Redação

Bom, pessoal, hoje vamos falar sobre um tema que todo mundo adora discutir: será mesmo que dinheiro não compra felicidade?

Embora muita gente diga que não, a verdade é que existem alguns argumentos que sugerem o contrário.

Então, vamos dar uma olhada no que a ciência tem a dizer sobre essa questão. Spoiler: a resposta não é tão simples quanto parece!

Dinheiro não compra a felicidade.

Pesquisas mostram que, sim, dinheiro pode trazer felicidade – mas só até um certo ponto.

De acordo com um estudo realizado por Daniel Kahneman e Angus Deaton em 2010, a satisfação com a vida aumenta à medida que a renda aumenta, mas apenas até US$ 75.000 por ano (no caso dos norte americanos).

A partir desse ponto, a relação entre dinheiro e felicidade começa a diminuir.

O estudo “Alta renda melhora a satisfação com a vida mas não o bem-estar emocional” nos mostra que, embora uma renda mais alta realmente melhorasse a avaliação da vida das pessoas, ela não teve um impacto significativo sobre o seu bem-estar emocional diário após um certo limite de renda.

Isso acontece porque, até certo ponto, ter mais dinheiro significa ter mais segurança financeira, melhor saúde e mais oportunidades.

Porém, depois de um certo nível de conforto, o dinheiro não o deixaria mais feliz no dia-a-dia.

O estudo da dupla analisou respostas de mais de 450.000 residentes nos EUA e descobriu o seguinte:

  • A satisfação com a vida aumenta continuamente com a renda.
    A medida que eles usaram para avaliar a satisfação com a vida foi a escada Candril, que questiona aos entrevistados a seguinte pergunta: “Imagine uma escada onde sua melhor vida possível seja um 10 na escada e sua pior vida possível é indicada pelo 0 na escada. Como você classificaria sua vida atual (0-10) nesta escada?”
    • Eles constataram que, a satisfação com a vida aumenta o logaritmo de renda, ou seja, múltiplos de renda), e não com leves mudanças lineares na renda.
      A razão dessa medida ser mais relevante é porque alguém com $10.000 pode ser muito mais feliz que alguém com $ 0. Por outro lado, alguém com $ 10.010.000 não é mais feliz que alguém com $ 10.000.000. Resumindo, $ 10.000 para alguém que não tem nada significa muito. Mas para alguém que já tem muito pode não ser nada.
  • O bem estar emocional aumenta com a renda até US$ 75.000 e depois se estabiliza. Essa foi a parte que intrigou a mídia e tornou esse estudo muito famoso.
    • os pontos analisados para se medir o bem-estar emocional foram:
      • Afeto positivo: Quando alguém relatou “felicidade, sorriso e prazer”
      • Não triste: Quando alguém relatou não sentir “preocupação ou tristeza”
      • Sem estresse: Quando alguém relatou não ter sentido estresse no dia anterior.

Daniel e Angus também criaram um gráfico que representa a relação entre a satisfação com a vida e o aumento de renda.

Veja como depois de uma certa renda o bem-estar emocional se nivela.

A linha pontilhada mais forte (Ladder) representa o aumento da renda, as três mais finas representam o bem-estar emocional.

imagem de estudo mostrando a correlação entre dinheiro e felicidade

O bem-estar emocional tende a se estabilizar entre US$ 60.000 e US$ 80.000.

E isso popularizou a ideia de que, embora as pessoas possam refletir de forma mais positiva sobre sua vida à medida que ganham mais, elas não necessariamente experimentarão mais felicidade no dia a dia ao longo da jornada.

E esse estudo dominou a área por mais de 10 anos, quando um outro reacendeu a questão.

O dinheiro pode sim comprar a felicidade

Em 2021, um estudo de Matthew Killingsworth chamado “O bem-estar experimentado aumenta com a renda, mesmo acima de US$ 75.000 por ano” gerou um burburinho nas pesquisas sobre felicidade, justamente por “contradizer” os estudos de Kahneman e Deaton.

O novo estudo mostrava que, tanto a satisfação com a vida quanto o bem-estar emocional continuaram a aumentar com o aumento da renda, mesmo além dos US$ 75.000 da média dos estudos anteriores.

Matthew descobriu com seu estudo que independente de quanto as pessoas já estivessem ganhando, eles tendiam a ser mais felizes.

O estudo também gerou um gráfico onde podemos ver a relação:

imagem de estudo mostrando a correlação entre dinheiro e felicidade

A questão que pode gerar alguma intriga é porque os dois resultados são diferentes?

O que pode responder isso é a fonte de dados usada por cada um deles.

Enquanto Kahneman e Deaton usavam métodos de pesquisas tradicionais, Killingsworth usou um aplicativo chamado “Track Your Happiness”, que coletou dados em tempo real de mais de 33.000 adultos norte americanos empregados, perguntando aleatoriamente sobre seu humor e quais atividades eles faziam, ao longo do dia.

Com isso, ele conseguiu obter uma medida mais precisa do bem-estar emocional do que os estudos anteriores haviam encontrado.

Isso significa que os estudo de Killingsworth estava certo e o de Kahneman e Deaton estava errado?

Bom, não! Pode parecer que um estudo contradiz o outro, mas para tirar as dúvidas, eles fizeram um novo estudo em março desse ano para resolver esse conflito.

As vezes o dinheiro compra a felicidade, as vezes não.

“Renda e bem-estar emocional: um conflito resolvido” é o título do estudo conjunto entre Kahneman e Killingsworth para definir um resultado comum entre os dois estudos.

Nesse estudo eles puderam apontar quais foram os pontos onde o estudo de Kahneman chegou a estabilidade no bem-estar das pessoas e porque o artigo de Killingsworth não.

Eles descobriram que o estudo de Kahneman não avaliava o bem-estar emocional através da felicidade, avaliava na verdade a infelicidade.

Já os estudos de Killingsworth só encontrava o nivelamento do bem-estar emocional com a renda para as pessoas mais felizes.

Isso significa que para as pessoas com menor nível de felicidade o aumento de renda não fazia muita diferença. Assim como o estudo de Kahneman, estava medindo a infelicidade e não a felicidade.

Os dois chegaram a alguns pontos de concordância ao longo do estudo:

O mesmo aumento de renda tem resultados diferentes entre as pessoas já felizes e as infelizes. Isso mostra que o aumento da renda depois de um certo limite afeta mais as pessoas felizes do que as infelizes.

O que faz total sentido, sabemos que existem muitas outras coisas que podem fazer a diferença no nosso bem-estar, como saúde mental, perda de alguma pessoa próxima. Existem coisas que o dinheiro não compra.

Maior renda parece estar correlacionada com maior bem-estar emocional e maior satisfação com a vida (em média). Esse ponto também foi de concordância entre os dois.

Os estudos nos mostram algum pontos importantes sobre a relação entre dinheiro e felicidade, embora diferentes e feitos em épocas diferentes os dois possuem muitos pontos em acordo. E com eles podemos ter um olhar mais assertivo sobre o assunto.

As pesquisas feitas pelos estudiosos deste artigo são amostrais, ou seja, ela não considera o efeito do aumento de renda ao longo do tempo.

Com isso, não é possível dizer que alguém vai ser mais feliz no futuro caso sua renda seja aumentada.

E se a gente analisa esses resultados que levam a passagem do tempo em consideração podemos ver que os resultados não chegam a uma certeza.

Alguns ganhadores de loteria não ficaram mais felizes ao longo do tempo, enquanto outros sim.

Podemos resumir em dois pontos além do que já mencionamos acima:

Se você tem uma renda menor, mais renda provavelmente te deixará mais feliz.

Se você já tem uma renda alta, e está infeliz, muito provavelmente mais renda não vai te deixar mais feliz.

Dinheiro não compra tudo, mas te coloca em uma boa situação.

Um bom plano de saúde, alimentos de maior qualidade, uma boa casa numa boa localização, férias num lugar bom e agradável, auxilio aos amigos e familiares, tudo isso pode ser alcançado com dinheiro.

Mas ele não compra tudo, a infelicidade pode estar em outras situações na vida, de forma que dinheiro nenhum no mundo seria capaz de pagar.

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