Diário de Omaha

Diário de Omaha, Edição 65 - A Cidade para Onde os Ventos Sopram

12min de leitura

Lucas Guimarães

Lucas Guimarães

Analista Chefe, Co-fundador da Varos

Como a Tesla dominou o mercado de Carros Elétricos no Mundo?

Por Lucas Guimarães

Na semana passada, a Tesla desbancou a Toyota (e o Corolla), com o Model Y, assumindo o posto de carro mais vendido do mundo em 2023.

A empresa ainda anunciou uma parceria com a rival Ford, o que fez as ações de ambas darem uma leve disparada no dia.

Mas os planos da Tesla vão muito além de só dominar o mercado de automóveis. Isso ficou claro depois que Musk revelou o Master Plan 3 da empresa.

Elon Musk na frente do seu modelo S

O objetivo deles era mudar a maneira como o mundo enxergava os carros elétricos até aquele momento: feios, pequenos, fracos e caros.

primeiro carro eletrico

Para isso, eles queriam construir o 1º modelo de carro esportivo 100% elétrico.

Mas eles não tiveram muito sucesso e, quando estavam quase sem grana, resolveram procurar alguém tão louco ou mais do que eles e com dinheiro.

Em 2004 Musk investiu 6,35 milhões de dólares do próprio bolso na empresa e se tornou presidente do conselho de administração.

Mas é claro que esse dinheiro não seria suficiente. Depois de 2 anos arrumando a casa, Musk arrecadou mais US$ 40 milhões com figuras como os fundadores do Google, o ex-presidente do eBay e o maior banco dos Estados Unidos, o JP Morgan .

Naquele ano surgiu o 1º protótipo do Roadster.

primeiro roadster Com 288 cv de potência, o Roadster era capaz de ir de 0-100 em 4 segundos, mais rápido que uma Ferrari.

Mas ele era só um protótipo.

Pra mostrar que não estava brincando, Musk revelou a primeira parte do seu plano secreto de dominação mundial da Tesla: o Master Plan 1.

documento sigiloso

Na primeira parte do plano, ele cita que o motivo de estar financiando a empresa é ajudar na transição da economia de combustíveis fósseis para uma economia solar elétrica, que acredita ser a principal solução sustentável para o planeta.

Em resumo, a estratégia era:

1 - Construir um carro esportivo;

2 - Usar o dinheiro dele para construir um carro acessível;

3 - Usar o dinheiro deste último para construir um carro ainda mais acessível;

4 - Enquanto isso, oferecer alternativas carbono zero de geração de energia.

Dando início ao plano, o preço do Roadster foi fixado em 100 mil dólares. Em duas semanas, a Tesla tinha vendido 127 Roadsters, ou seja, 12,7 milhões de dólares.

Detalhe: os carros só seriam entregues dois anos depois, em 2008.

Mas no ano da entrega as coisas começaram a desandar e 2 acontecimentos levantaram dúvidas sobre o futuro da Tesla.

Em janeiro, os fundadores — Marc e Martin — brigaram com Elon Musk e saíram da companhia. Meses depois, um baque ainda maior atingiu a empresa: a crise de 2008. O Roadster dava prejuízo pra ser produzido no início. Então aquela história de usar o dinheiro das vendas pra financiar novos projetos não ia rolar.

Por isso, em 2010, a empresa foi para a Bolsa de Valores americana, arrecadando US$ 226 milhões, onde cada ação custava US$ 17.

Isso fez da Tesla a primeira montadora a ir para a bolsa nos EUA desde a Ford em 1956.

Elon musk na time square

Em 2011, finalmente o passo 2 do plano foi dado. A Tesla começou a produzir o Model S, o primeiro dos carros mais "acessíveis", com o preço de US$ 80k.

Só que tinha um problema: a bateria.

Com a tecnologia da época seria muito difícil os carros elétricos serem usados em larga escala.

Pra você ter ideia, um Roadster com autonomia de 400 km demorava de 24 a 48 horas pra carregar conectado à energia de casa.

Aqui entra o que eu considero a grande estratégia da Tesla pra dominar o mercado de carros elétricos.

Em 2012, a Tesla lançou os Superchargers, carregadores de alta velocidade espalhados pelo país.

Hoje só 15 min em um supercarregador já permitem que um Tesla rode mais de 320 km.

localizacao dos supercharges

Foi justamente por eles que a Ford quis a parceria. Agora os donos dos seus EVs poderão acessar a rede de carregamento da Tesla. Só nos EUA são 12 mil estações. A Ford vai até mudar as portas de carregamento dos seus carros só pra se adaptar ao padrão da Tesla.

Voltando lá pra 2012, a Tesla também iniciou seu projeto pra reduzir custos: a construção das gigafactories. Elas são fábricas gigantes que permitem que a montadora produza cada vez mais componentes dos carros internamente, dependendo menos dos fornecedores.

Porém, enquanto a gigafactory não saía do papel, mais ideias saíam da cabeça de Elon Musk. No meio do caminho, em 2014, a Tesla começou a desenvolver um software de inteligência artificial, com uma meta ousada: criar carros 100% autônomos, ou seja, que pudessem dirigir sozinhos.

A beleza é que a cada quilômetro rodado por cada Tesla do planeta o software fica mais inteligente, sendo capaz inclusive de evitar acidentes.

Mas isso era só um spoiler do que estava por vir: o Master Plan Parte 2.

Em 20 de julho de 2016, 10 anos depois da primeira, Elon Musk liberou a segunda parte do seu grande plano para dominar o mercado de carros elétricos do mundo.

No início da carta, ele começa dizendo assim:

trecho da carta

Pra dominar o mercado era preciso mais do que carros baratos. Por isso, essa parte do plano também passava por 4 pilares:

1 - Integrar geração e armazenamento de energia;

2 - Expandir p/ caminhões e ônibus;

3 - Desenvolver o carro 100% autônomo;

4 - Proporcionar o compartilhamento de veículos;

Para cumprir a primeira etapa, Elon Musk anunciou a compra da SolarCity por US$ 2,6 bilhões, passando a produzir painéis e telhados solares.

No mesmo ano, o Model 3 foi revelado como o terceiro modelo da hierarquia criada por Elon, que iria realmente democratizar a mobilidade elétrica.

O preço foi fixado em 37 mil dólares, bem mais barato do que os outros modelos e na primeira semana foram vendidos 325 mil carros.

Ainda em 2016, a primeira gigafactory foi inaugurada no estado de Nevada, nos Estados Unidos, dando início à revolução das fábricas da Tesla.

gigafactory da tesla

Nos anos seguintes, a montadora abriu novas gigafactories em Buffalo, Shangai, Berlim e Austin.

Com toda essa estrutura nos 3 continentes, a Tesla começou a penetrar cada mercado, acelerando o seu plano de dominação mundial.

market share da tesla

No 1T23, a Tesla atingiu 4,9% do market share total de carros nos EUA e 2,4% na Europa.

Mas falando só de elétricos, ela domina 50% dos EUA e 20% na Europa. Na China ela tem 8%, com uma disputa de peso com a BYD (que tem apoio do Buffett) e iniciou uma guerra de preços por lá.

market share da tesla

Isso tudo foi só uma palinha sobre a Tesla.

Quer saber mais sobre a empresa, seu plano de dominação mundial e o Master Plan 3?

Fizemos um vídeo completíssimo sobre ela no nosso canal do YouTube. Pra acessar é só clicar aqui:

😎Fala Dudu!

Sua carta sátira semanal do gestor do primeiro hedge fund de Niterói

Por @dudufromniteroi

Bom dia, meus sobrinhos!

Chegando mais uma terça pra vocês. Todo mundo sabe que a segunda melhor coisa de Niterói é a vista pro Rio. A melhor coisa aqui é a performance dos nossos fundos. Sim, já estou fazendo um esquenta pro bull market. Aliás, estou contratando 2 estagiários pra serem monitores de Twitter, com foco em fazer denúncias na CVM. Quem postar rentabilidade vai tomar strike pois ninguém supera a do NAM.

Vamos pras notícias da semana passada?

QUEM TUDO QUEER - Antigamente, junho era apenas um mês onde se comemorava a festa junina e que tínhamos que falar 2 vezes pra entenderem que era juNHo e não juLHo.

Mas a modernidade nos trouxe algo a mais: junho também é o mês do orgulho LGBT+. Assim, é o mês onde mais se contratam designers (pra colocar arco-íris em tudo) e onde surgem as campanhas de marketing mais sem sentido do ano, o que me faz duvidar se este mercado é totalmente dominado por héteros.

Nem saímos da primeira semana e já temos uma ideia inovadora: o Banco do Brasil lançou um cartão para pessoas trans. A inovação consiste em escolher o nome que vai no cartão (coisa que nunca vimos em lugar algum) e ele vem customizado com um arco-íris (kkkkk eu disse). Parabéns ao Banco do Brasil.

Aqui na Nikiti Asset Management, nós também estamos no clima deste mês. Nenhum estagiário LGBT será demitido em junho, só mês que vem. A minha parte eu fiz.👍

ME FAZ UM PIX - Semana passada, o Banco Central anunciou a lógica: o Pix é o meio de pagamento mais utilizado pelo brasileiro. Quem diria que um meio de pagamento de baixo custo e que funciona 24 horas por dia seria o mais utilizado.

E ainda tenho que falar pra vocês que a incidência de golpes por boletos diminuiu drasticamente, enquanto o golpe do Pix tá fazendo a festa. O que só mostra que o povo brasileiro realmente abraça a modernidade (menos um vendedor na praia de Piratininga que disse que não aceitava pix).

QUEM ANDA DE AUDI, NUNCA TOMOU BANHO DE BALDE - A frase do título é utilizada no clássico moderno “Chama os Muleke”, do grupo Cone Crew Diretoria. Meu irmão em Cristo, o presidente Lula, chamou seu mlk e indicou o seu próprio advogado, Cristiano Zanin, para ser Ministro do STF.

Zanin foi o advogado de Lula durante todo o processo da Lava-Jato e não soltou a mão dele mesmo durante a prisão. Aliás, como Zanin é especialista em recuperação judicial e pegou um juiz disposto a condenar o barba, era normal que a cadeia viesse. Mas ele se manteve e hoje sua amizade foi recompensada com a indicação ao órgão máximo do judiciário.

É uma bela lição: melhor que ser deus é ser um dos apóstolos, já que você aproveita vários benefícios e nem precisa passar pela cruz.

E foi isso, meus amores! A semana foi bem tranquila e esperamos que aconteça mais desgraça para que tenhamos o que falar, hihi.

Até semana que vem!

A Cidade para Onde os Ventos Sopram

Por Gabriel Boente

salao

Quando falamos de Estados Unidos, a primeira cidade que vem à mente é Nova York. A cidade que nunca dorme é um dos principais centros financeiro, comercial e cultural do mundo. Lembramos facilmente da insanidade de Wall Street, da simbologia da Estátua da Liberdade e dos outdoors da Times Square (que definitivamente é uma rua).

Fora Nova York, outra cidade da qual facilmente nos lembramos é Los Angeles. Basicamente, é uma cidade que se consolidou como um dos principais centros do entretenimento global, abrigando Hollywood e a história de GTA V. Glamour, praias e extravagância, Los Angeles é uma mistura de Florianópolis com o bairro paulistano de Pinheiros.

Nova York e Los Angeles são as cidades "top of mind". São as primeiras a serem lembradas. Depois disso, a história começa a ficar um pouco mais diversa e cada um vai lembrando de uma cidade diferente: Boston (com a ciência e o frio), Miami/Orlando (por ser uma Ciudad del Este moderna), Omaha (por ser a cidade do Warren Buffet e deste diário), São Francisco (pelos nerds bilionários), Houston (por termos um problema) e Chicago (pela pizza e cacofonia).

Mas hoje vamos ir além e te mostrar como Chicago abriga um dos maiores centros financeiros do mundo.

Localizada às margens do Lago Michigan, Chicago é uma cidade icônica no panorama financeiro global, apesar de nem sempre lembrarmos disso. Fundada em 1833, Chicago se estabeleceu como um importante ponto de encontro para o comércio e o transporte, graças à sua localização estratégica no coração do país. Se todos os caminhos levam à Roma, com certeza um dos mais movimentados passa por Chicago.

Com comércio, aqui falamos principalmente do comércio agrícola. Por conta da vibe urbana da cidade, muitas vezes também esquecemos que ela está localizada no coração agrícola do Centro-Oeste americano. Assim, pouco tempo depois da sua fundação, a Cidade dos Ventos emergiu como o centro do mercado agrícola para os estados vizinhos. Chicago era o ponto de encontro de agricultores em busca de compradores para suas safras e de moinhos de grãos que procuravam adquirir o produto para suas operações.

No entanto, apesar da localização central, os problemas de tempo e logística (que eram piores no século XIX) dificultavam a condução dos negócios e comércio. Isso acabava por inflar os preços das commodities.

Um exemplo disso está na parte do armazenamento, já que quase ninguém conseguia estocar sua colheita por ali. Mesmo aqueles produtores que conseguiam armazenar os grãos, ainda tinham que enfrentar (rios e) estradas congeladas durante o inverno e lamacentas durante a primavera.

Assim, durante e imediatamente após a colheita, a oferta de grãos era tão enorme que era comumente não conseguiam ser vendidos e eram descartados no lago Michigan, já que não havia jeito de transportar e armazenar as porções não vendidas.

Com tanto problema assim para fazer negócios, com o passar do ano a oferta de grãos diminuiu e isso gerou escassez (c'est la vie et l'économie, mon ami). Esse vai e vem dos preços pode até ser costumeiro hoje em dia, mas há quase 200 anos, a volatilidade não era agradável assim e gerou dificuldades tanto para produtores quanto para consumidores. O ciclo de "festa ou fome" criou cenários onde os agricultores foram forçados a vender seus produtos com um grande desconto quando os suprimentos eram altos, mas os consumidores eram obrigados a pagar um grande prêmio em tempos de escassez de suprimentos.

Vendo toda essa treta, alguns comerciantes de grãos se juntaram para achar uma solução. E em 1848 ela veio na forma de uma bolsa organizada, que ficou conhecida como Chicago Board of Trade, a CBOT (ou Bolsa de Chicago). A bolsa buscava ser um lugar onde os produtores conseguissem vender suas safras, principalmente grãos e cereais (como milho, trigo e soja), tanto de forma spot (à vista) como por contratos futuros.

A CBOT deu certo e conseguiu ser uma solução efetiva. Como foi criada por comerciantes cascudos de mercado, ela logo se estabeleceu como um local central para compradores e vendedores conduzirem e fecharem negócios de commodities agrícolas. Por ser um lugar estabelecido e o "dinheiro atrair dinheiro",

Chicago começou a receber mais investimentos para receber este mercado. Silos e elevadores de grãos foram construídos (por ricos investidores) para regularizar o fornecimento de grãos, o que ajudava na redução da volatilidade das commodities. Novos hotéis e melhores estradas iam aparecendo. As veias do mercado financeiro pulsavam como nunca.

Aliás, a CBOT é o local central das negociações tanto figurada quanto literalmente, já que sua sede durante muitos anos foi a mesma (inaugurada em 1930): 141 West Jackson Boulevard, no centro de Chicago.

foto do predio da bolsa de chicago

Como dissemos antes, o dinheiro atrai dinheiro. Não demorou muito tempo para que outras bolsas fossem criadas para comercializar outros produtos além de grãos e cereais. Neste cenário de uma cidade respirando o comércio agrícola, em 1874 foi fundada a Chicago Produce Exchange, que ficou popularmente conhecida como Chicago Butter and Egg Board. Apesar do nome indicar que os principais produtos negociados foram manteiga e ovos, com o tempo essa bolsa começou a oferecer outros contratos futuros, muito vinculados à indústria pecuária. Isso fez com que eles ganhassem um novo nome, que acabou ficando: Chicago Mercantile Exchange*, a CME*. Uma curiosidade é que o contrato futuro mais comercializado ali (e que deu popularidade à CME) foi o de barriga de porco congelada. Aliás, por ironia do destino, o contrato de barriga de porco parou de ser oferecido em 2011 por falta de liquidez.

Durante muitos anos, Chicago abrigou as duas maiores bolsas de derivativos agrícolas do mundo, que concorriam entre si. Mas quem conhece a profecia do capitalismo sabe que sempre haverá um maior vencedor. Com o tempo, a CME foi se tornando maior e mais relevante, apesar da CBOT ainda ter muito volume e tradição.

pregao da bolsa presencial

Essa briga foi encerrada em 2007 quando, no dia 12 de julho, as duas empresas se fundiram e formaram a CME Group, criando a maior bolsa de derivativos de todos os tempos. Pelo nome imaginamos que fusão foi uma maneira mais formal de dizer que a CME ganhou e incorporou a CBOT.

Aliás, ambas ainda existem, só que agora como duas das 4 divisões do CME Group, que são: CBOT, CME, NYMEX e COMEX, sendo as duas primeiras de Chicago e as outras de Nova York. Seja como for, hoje o CME Group é composto por divisões que já eram as grandes bolsas de derivativos do mundo. Inclusive, as empresas agrícolas da bolsa brasileira, como SLC Agrícola (SLCE3) e BrasilAgro (AGRO3), fazem preços e hedges com contratos negociados na CBOT, como chamam até hoje.

Essas duas empresas, além de negociarem os contratos futuros de milho e soja na bolsa de Chicago, também têm em comum o fato de estarem no VBOX com análise completa. Se você quiser entender como essa dinâmica do comércio global pode afetar as duas ações, é só aproveitar a série em vídeos de cada uma delas ou o relatório completo!

⏳ Atemporalidades

Leia agora, leve pra vida.

  • A forma mais invisível de tempo perdido é fazer um bom trabalho numa tarefa sem importância — James Clear
  • As melhores coisas na vida são de graça; as segundas melhores são muito caras — Coco Chanel

Por hoje é só pessoal 🤙

Bebam café, se hidratem e cuidado com o “bom trabalho” em tarefas sem importância.

Boa semana e bons negócios!

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