Diário de Omaha

Carros populares? Para quem? - Diário de Omaha 67

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Pedro Ávila

Pedro Ávila

Analista de Fundos Imobiliários

Carros populares? Para quem?

Por Thiago Duarte

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) divulgou que, em menos de 15 dias, as vendas de carros já consumiram 64% dos recursos do programa de descontos para carros populares, lançado pela MP 1.175 no dia 05 de junho.

Foram R$ 320 milhões já solicitados pelas montadoras, dos R$ 500 milhões disponibilizados. O total autorizado até aqui, por montadora, é o seguinte: FCA Fiat Chrysler, R$ 130 milhões; Volks, R$ 50 milhões; Peugeot Citroen, R$ 40 milhões; Renault, R$ 30 milhões; GM e Hyundai, R$ 20 milhões cada; Honda, Nissan e Toyota, R$ 10 milhões cada.

Ao todo já se passaram 8 dias úteis desde a publicação da MP, o que nos dá uma média de R$ 40 milhões em descontos solicitados por dia. Isso quer dizer que, se o ritmo continuar assim, o desconto vai acabar em mais 4,5 dias ou até este fim de semana.

Mas isso sem a gente jogar na conta as locadoras. Sim, eu sei que venho batendo na tecla de que as locadoras de veículos não teriam direito ao desconto, destinado na MP para consumidores finais. Mas isso é uma discussão jurídica. Na prática, as montadoras vão conseguir vender para as locadoras. O problema, se acontecer, só vai vir depois, seja na solicitação do crédito fiscal, seja na forma de alguma ação civil pública, originada por alguma promotoria mais atuante, que defende o direito dos consumidores brasileiros. Afinal, se as locadoras entrarem na jogada, é bem possível que o programa não dure nem até o final desta semana.

foto de um carro

De acordo com o prazo do art. 11 da MP, os primeiros 15 dias reservados aos consumidores pessoa física vão terminar hoje, dia 20/06/2023. Isso quer dizer que na quarta-feira, 21, as locadoras já estarão com a caneta na mão para assinar os cheques. Ou seja, é improvável que o que restar do benefício dure até sábado.

Porém, apesar do consumo rápido dos R$ 500 milhões destinados ao programa, não parece que as vendas estão respondendo com efetiva melhora. Pelo menos não ainda e não para carros populares.

Enquanto as vendas de maio foram horríveis para o setor, com uma queda de 4,9% em relação ao mesmo período do ano passado — provavelmente porque as pessoas ficaram esperando a MP sair —, as vendas da primeira quinzena de junho também não foram muito animadoras.

grafico com media diaria de vendas de novos carros

Ao que parece, os descontos estão sendo usados por quem já iria comprar um carro de qualquer jeito. Tanto é que no top 10 dos modelos mais vendidos, nem aparecem tantos carros "populares". Pelo contrário:

1. Fiat Strada

2. VW T-Cross

3. VW Polo

4. Chevrolet Tracker

5. Honda HR-V

6. Hyundai Creta

7. Chevrolet Onix

8. Fiat Toro

9. Toyota Hilux

10. Toyota Corolla Cross

Tudo bem que essa relação deve mudar assim que as locadoras começarem a comprar carros mais baratos para suas frotas de aluguel. Mas isso corrobora nosso ponto de vista de que o programa, sem uma contrapartida para facilitar acesso a um crédito mais barato , não teria o alcance planejado. Ou pelo menos não atingiu o consumidor do carro popular.

Enfim, ruim vai ser a cara desse consumidor — e aqui estou me referindo ao consumidor de verdade — ao tentar comprar seu carro popular na semana que vem e descobrir que o Kwid saiu dos R$ 58 mil e voltou para os quase R$ 70 mil, porque as locadoras acabaram com o restante da cota de descontos em 2 dias.

Em outras palavras, temos uma MP dos carros populares que não atingiu carros populares, não facilitou a compra para o consumidor real e, no final, deve servir mesmo às montadoras, que vão conseguir queimar seus estoques.

Você conhece a TMP?

Por Pedro Ávila

Nos primórdios das finanças, pouco se sabia sobre risco. A primeira definição clara sobre risco e a forma de lidar com ele surgiu em 1952, quando Harry Markowitz mostrou ao mundo sua teoria chamada de "Teoria Moderna do Portfólio" (TMP), que lhe rendeu o Nobel de Economia em 1990. Para nós, apaixonados por finanças, o surgimento da TMP é um marco temporal tão importante quanto o surgimento da internet. Existe um mundo pré e pós a Teoria Moderna do Portfólio.

Foi a TMP que trouxe ao mundo as razões matemáticas para se diversificar uma carteira de investimentos e enterrou, de uma vez por todas, a ideia de colocar todos os ovos em uma única cesta.

aperto de maos

Mas calma, gênios e ideias não nascem de uma hora para outra, eles são forjados. Entender um pouco da vida de Markowitz e a forma como ele chegou à TMP nos ajuda a descobrir, em última instância, quantos FIIs devemos ter na carteira, além de deixar a leitura muito mais divertida.

Markowitz nasceu em Chicago, em 1927, e viveu uma infância e adolescência típicas de um garoto americano da década de 40. Uma vida muito mais comum do que a forma com que imaginamos que os gênios vivem. Na escola, ele jogava beisebol, futebol americano e xadrez, além de tocar violino. Intelectualmente, se interessava por física, astronomia e filosofia.

Após concluir o ensino médio, entrou para a University of Chicago, onde fez bacharelado e mestrado em filosofia. Depois de concluir suas disciplinas, Markowitz teve que escolher outro departamento para continuar seus estudos. Como gostava de matemática e tinha lido algumas matérias sobre ciências sociais, optou pelo departamento de economia.

Sim, ele caiu quase que de paraquedas na área de conhecimento que o consagrou.

Na economia, logo de cara, Markowitz foi atraído principalmente pela teoria dos jogos e pela teoria da utilidade, desenvolvidas por John von Neumann e Oskar Morgenstern.

Basicamente, a teoria da utilidade esperada é a estrutura que nos ajuda a entender como as pessoas tomam decisões ao longo da vida com base em suas preferências de consumo e poupança, ou seja, a estrutura por trás das decisões de quanto e quando uma pessoa deseja consumir ou economizar.

Aprender com outros autores é legal, mas em 1950 ele chegou no ponto em que tinha que escolher um tema para a sua tese de doutorado. E, como grande parte dos alunos, ele não tinha ideia do que fazer. Foi então que resolveu procurar seu orientador, o economista Jacob Marschak, para uma conversa. Mal sabia ele que aquela tarde de 1950 reservaria o melhor conselho de sua vida.

Quando Markowitz chegou para a reunião, Marschak estava ocupado e Markowitz teve que esperar na ante sala. Por obra do destino, ele não esperava sozinho. Havia ali um corretor da bolsa, também esperando para falar com Marschak.

Durante a espera, Markowitz e o corretor conversaram despretensiosamente. Quando Markowitz entrou na sala, proferiu as seguintes palavras para Marschak: "O cara aí fora disse que eu deveria fazer uma tese sobre o mercado de ações. O que acha?".

Foi naquele exato momento, fruto de um encontro casual, que Markowitz embarcou na jornada que o levaria ao Nobel de economia como o fundador da TMP.

Após a reunião com o seu orientador, Markowitz decidiu usar como tema da tese a aplicação de técnicas e estatísticas no mercado de ações.

Como Markowitz não tinha nenhuma experiência na área, Marschak o sugeriu a leitura de um clássico, chamado de The Theory of Investment Value , escrito por John Burr WIlliams em 1938.

foto de capa do livro

Neste livro, Williams definiu, de maneira brilhante, conceitos muito importantes e que sempre nos referimos em nossos relatórios, como por exemplo o conceito de preço justo

e a ideia do Modelo dos Dividendos Descontados.

Também nesse livro, Williams defendia a compra de ações vendidas abaixo do preço justo, indo na contramão da ideia de especulação. Mas o mais surpreendente da obra era o rigor matemático adotado por Williams, muito incomum para a época, e que por isso, deixou Markowitz completamente envolvido e intrigado.

Até a década de 1950, o processo de seleção de investimentos era completamente amador, baseado em puro achismo. A percepção que as pessoas tinham sobre o mercado de ações era a de "um playground de especuladores".

Havia pouquíssimo interesse acadêmico na área de gerenciamento de portfólio quando Markowitz começou a trabalhar em sua tese. Mas tudo estava prestes a mudar…

Em outra tarde de 1950, Markowitz estava na biblioteca da escola de negócios da University of Chicago, lendo a obra de Williams, quando teve o maior insight de sua vida.

Enquanto lia, ele notou que o autor estava implicitamente assumindo que os riscos das ações estavam completamente correlacionados. Ou seja, se uma ação caísse, todas caíriam e vice e versa. Em tese, como risco e retorno são diretamente proporcionais entre si, foi aí que Markowitz percebeu que se os retornos de todas as ações estivessem totalmente correlacionados, então os investidores que buscassem maximizar seus retornos cairiam sempre num portfólio de uma única ação, aquela de maior potencial de retorno. Naquele momento, Markowitz sabia que essa teoria estava errada.

Depois do momento de epifania, Markowitz saiu em busca de respostas e não demorou muito a encontrá-las. Em pesquisas acadêmicas da época, Markowitz havia percebido que muitos investidores, preocupados com a diversificação, investiam em fundos mútuos, que combinavam várias classes de investimentos em suas carteiras. Ou seja, de maneira empírica, o bom senso mostrava que não se devia colocar todos os ovos numa mesma cesta , já que investir todo o dinheiro em uma única ação era muito arriscado.

O que separava o senso comum da análise contida no livro de Williams era algum tipo de mensuração de risco para um portfólio. No livro Introduction to Mathematical Probability, Markowitz encontrou uma fórmula que poderia ser adaptada para medir o risco de um portfólio como um todo.

Para um investidor, o que importava de fato não era o risco de cada ação individualmente, mas a variação, tanto para cima quanto para baixo, de diversas ações em conjunto. Logo, ao contrário do que havia concluído Williams, os riscos das ações não eram totalmente correlacionados!

Dessa forma, ao investir de forma diversificada, o investidor poderia ter um risco no portfólio bastante inferior ao risco de cada ação individualmente. Na prática, isso significava — e ainda significa — que a relação entre risco x retorno de um portfólio tende a ser muito melhor que a relação entre risco x retorno de uma única ação.

Nós poderíamos mostrar a parte matemática da equação sugerida por Markowitz, mas seria um pouco chato para os que não estão familiarizados com álgebra linear. Em vez disso, a gente mostrou a magia da diversificação na prática, mas fizemos isso para os assinantes da nossa carteira de FIIs no VBOX.

Afinal, quantos FIIs devemos ter na carteira, para que ela seja considerada uma carteira corretamente diversificada? Se você quiser saber essa resposta, clique neste link, junte-se à nossa comunidade de investidores e tenha acesso a uma carteira de FIIs e aos melhores conteúdos sobre investimentos.

😎Fala Dudu!

Sua carta sátira semanal do gestor do primeiro hedge fund de Niterói

Por @dudufromniteroi

Bonjour, meus sobrinhos.

LULA LIVE - Algumas coisas não mudam, por mais que lutemos contra ou por mais que votemos contra. Ontem, foi ao ar a segunda edição do podcast "Conversa com o Presidente". O podcast onde o Lula semanalmente usa a TV Estatal para falar sobre o governo.

Obviamente, ninguém assistiu pois todo mundo já está de saco cheio de podcasts, exceto o Ministro Alexandre de Moraes, que vê todos os Monark Talks com a cartela do "bingo do crime". Toda vez que o Monark fala alguma atrocidade que está na cartela, você coloca um caroço de feijão em cima. Quando uma linha ou coluna é preenchida, automaticamente é imposta uma sanção e um inquérito contra o intelectual histérico brasileiro.

Outro problema com a live do Lula é que o anfitrião é o careca Marcos Uchôa. Como já provado pelo grande empresário Igor 3k, o segredo para ser um anfitrião de sucesso é implantar cabelo, destilar carioquês e chamar uma sub-celebridade tagarela para ser o co-anfitrião. Marcos Uchôa tem repertório para todos os requisitos, basta querer (e mandar DM pros médios da Turquia).

ANTES TARDE DO QUE NUNCA - Vou logo deixar a manchete: "Após 20 anos, Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprova com restrições compra da Garoto pela Nestlé". A Nestlé tentou comprar a Garoto em 2002 e hoje já recebeu um homem formado em comunicação social que tem um gato, mora com os pais e já perdeu muito dinheiro em cripto. Assim como George Lucas esperou mais de uma década para fazer mais Star Wars pois "não tinha tecnologia suficiente", agora o Cade esperou 20 anos pois não tinha concorrentes suficientes.

A Nestlé tentou comprar a Garoto em 2002 e hoje já recebeu um homem formado em comunicação social que tem um gato, mora com os pais e já perdeu muito dinheiro em cripto. Assim como George Lucas esperou mais de uma década para fazer mais Star Wars pois "não tinha tecnologia suficiente", agora o Cade esperou 20 anos pois não tinha concorrentes suficientes.

Mais um ponto para o Brasil.

A MANHATTAN DO LESTE - O projeto da bomba atômica na Segunda Guerra foi chamado de "Projeto Manhattan". Acabou que deu certo, pois os EUA desenvolveram algumas e não acabaram com o mundo (somente com milhares de japoneses indefesos). Nesta semana, chegou a notícia de que a Rússia estaria movendo suas armas nucleares táticas para a Bielorrúsia, o maior país auxiliar do mundo.

Seria este um novo Projeto Manhattan, mas agora no leste europeu? Provavelmente não, pois aquelas bombas devem estar mais largadas que o Centro do RJ. Claramente, existe a possibilidade de você passar por uma delas e um usuário de drogas te assaltar em plena europa pobre.

Vamos acompanhando os próximos capítulos.

CHERNOBYL - Por falar em armas nucleares e Rússia, já nos remetemos a Chernobyl. Nesta semana, saiu um relatório da Aliança Gay e Lésbica Contra a Difamação (GLAAD) sobre a segurança da galera LGBT nas rede sociais. De forma nada surpreendente, concluíram que o Twitter é a rede mais nociva.

Na verdade, o Twitter é seguro pra ninguém. No Facebook, tem só idoso. No TikTok, apenas soft porn, receitas difíceis (com soft porn) e dancinhas (com soft porn). No Instagram, tem só fotos de mentira pra causar inveja de quem você nem se importa. O único lugar que sobra pra fazer a festa na destilação de ódio é a rede do passarinho azul.

Ponto para o Elon Musk!

E foi isso, meus amores. Mais uma semana se encerrando e eu já quero tirar férias. Não que eu não tenha emendado um feriado católico sem nem ser praticante da religião. Mas vocês me entenderam. E se forem tirar férias, favor não ir pra Espanha.

Beijos do tio Dudu de Niterói!

⏳ Atemporalidades

Leia agora, leve pra vida.

"Não podemos mais tolerar o que dura. Não sabemos mais fazer com que o tédio dê frutos. Assim, toda a questão se reduz a isto: pode a mente humana dominar o que a mente humana criou?" — Paul Valéry

Por hoje é só pessoal 🤙

Bebam café, se hidratem e se quiserem comprar um carro com desconto: corram!

Boa semana e bons negócios!

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