Mercado Financeiro

Credit Default Swap (CDS): o que é e como Utilizá-lo para Calcular a Taxa Livre de Risco

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Saulo Pereira

Saulo Pereira

Redator

Introdução ao Credit Default Swap (CDS)

O Credit Default Swap (CDS) é um instrumento financeiro que funciona como uma forma de seguro contra o não pagamento de uma dívida.

Essencialmente, ele é um contrato derivativo que permite a uma parte (comprador) transferir o risco de crédito de determinados ativos para outra parte (vendedor).

O comprador do CDS realiza pagamentos periódicos ao vendedor e, em troca, recebe a garantia de uma compensação financeira caso o emissor do título de dívida subjacente falhe no pagamento, caracterizando um evento de default.

A origem dos CDS remonta à década de 1990, quando foram desenvolvidos para ajudar as instituições financeiras a gerenciar melhor o risco de crédito associado a seus investimentos.

Desde então, o uso de CDS cresceu exponencialmente, tornando-se uma ferramenta fundamental no mercado financeiro moderno.

Inicialmente, estes instrumentos eram utilizados primariamente por bancos e outras instituições financeiras, mas com o passar do tempo, sua aplicação se expandiu para outros tipos de investidores, incluindo fundos de hedge e gestores de ativos.

A natureza do CDS, enquanto produto de seguro, significa que ele pode ser usado tanto para fins de proteção quanto para especulação. Para investidores que detêm grandes quantidades de dívidas corporativas ou títulos do governo, o CDS oferece uma forma de mitigar o risco de perda em caso de default.

Por outro lado, os investidores que não possuem os títulos subjacentes podem usar os CDS para apostar contra a solvência de uma empresa ou de um país, configurando assim uma prática especulativa.

Apesar de sua utilidade, o mercado de CDS não está isento de críticas e controvérsias, especialmente após a crise financeira global de 2008, quando os CDS desempenharam um papel significativo.

As preocupações giram principalmente em torno da transparência, do risco sistêmico e da falta de regulação adequada. No entanto, o CDS continua a ser uma ferramenta importante e influente no mercado financeiro global, refletindo a complexidade e a interconexão do sistema financeiro moderno.

Como Funciona o Credit Default Swap

O funcionamento de um CDS é estruturado com duas partes principais: o comprador e o vendedor. O comprador do CDS paga uma série de prêmios ou uma taxa periódica ao vendedor.

Em contrapartida, o vendedor compromete-se a compensar o comprador no caso de um evento de crédito específico, geralmente a inadimplência ou o default do emissor do título referenciado.

Para exemplificar, suponhamos que uma empresa A detém obrigações de uma empresa B, mas está preocupada com a possibilidade de inadimplência desta.

A empresa A pode então adquirir um CDS de um vendedor, como um banco ou uma instituição financeira, pagando uma taxa periódica. Se a empresa B de fato falhar no pagamento de sua dívida, o vendedor do CDS compensará a empresa A, cobrindo suas perdas.

É importante notar que o valor do prêmio pago pelo CDS depende de vários fatores, incluindo a saúde financeira do emissor da dívida, a duração do contrato e o ambiente econômico geral. Além disso, o mercado de CDS é bastante flexível, permitindo que os contratos sejam negociados entre os investidores.

A utilidade dos CDS não se limita à proteção contra inadimplência. Eles também podem ser utilizados para fins especulativos. Investidores que acreditam que a saúde financeira de uma empresa irá piorar, por exemplo, podem comprar CDS como uma forma de apostar contra a empresa sem necessariamente possuir qualquer dívida da mesma.

Riscos e Benefícios do Credit Default Swap

O Credit Default Swap (CDS) é uma ferramenta financeira complexa que oferece benefícios significativos em termos de gestão de risco, mas que também acarreta riscos específicos tanto para o comprador quanto para o vendedor. Compreender esses riscos e benefícios é fundamental para qualquer parte envolvida na negociação de CDS.

Benefícios do Credit Default Swap:

  1. Proteção contra Inadimplência: O principal benefício para os compradores de CDS é a proteção contra a inadimplência de um emissor de dívida. Isso permite que os investidores gerenciem melhor o risco de crédito associado a suas carteiras.
  2. Flexibilidade e Liquidez: Os CDS podem ser personalizados para atender às necessidades específicas de cobertura dos investidores e podem ser negociados no mercado secundário, oferecendo liquidez e flexibilidade.
  3. Especulação: Investidores podem usar CDS para especular sobre a mudança na percepção de crédito de uma entidade, permitindo lucros potenciais sem a necessidade de possuir o título subjacente.
  4. Descoberta de Preço: O mercado de CDS pode fornecer informações sobre a percepção de risco de crédito de diferentes emissores, ajudando na avaliação e no preço de outros instrumentos financeiros.

Riscos do Credit Default Swap:

  1. Risco de Contraparte: Existe o risco de que o vendedor do CDS não consiga cumprir suas obrigações financeiras se ocorrer um evento de crédito. Esse risco foi destacado durante a crise financeira de 2008.
  2. Complexidade e Transparência: Os CDS podem ser complexos e sua estrutura e termos nem sempre são completamente transparentes, o que pode levar a mal-entendidos e avaliações de risco inadequadas.
  3. Risco de Mercado: Os preços dos CDS podem ser muito voláteis e podem ser influenciados por uma ampla gama de fatores econômicos e políticos, o que pode resultar em perdas inesperadas para os detentores.
  4. Risco de Liquidez: Embora os CDS possam ser negociados, o mercado pode se tornar ilíquido em tempos de estresse financeiro, dificultando a saída de posições sem perdas significativas.
  5. Alavancagem e Risco Sistêmico: O uso de CDS pode envolver alavancagem, o que pode amplificar perdas. Além disso, a interconexão entre os participantes do mercado de CDS pode levar a riscos sistêmicos para o sistema financeiro como um todo.

Mercado de Credit Default Swap no Brasil e no Mundo

O mercado de Credit Default Swaps (CDS) tem uma presença significativa tanto no cenário global quanto no brasileiro, desempenhando papéis distintos em cada contexto devido a fatores econômicos, regulatórios e de mercado específicos.

No Mundo

Globalmente, o mercado de CDS experimentou um crescimento substancial nas últimas décadas, particularmente antes da crise financeira de 2008.

Este instrumento financeiro tornou-se uma ferramenta essencial para gestores de risco, instituições financeiras e investidores, permitindo-lhes proteger contra o risco de crédito e especular sobre a saúde financeira de entidades e países.

Após a crise financeira, o mercado de CDS sofreu mudanças significativas, principalmente devido ao aumento da regulamentação e do escrutínio dos órgãos reguladores.

Regras mais rígidas foram implementadas para aumentar a transparência, reduzir o risco de contraparte e limitar a especulação excessiva. Como resultado, o mercado tornou-se mais padronizado e centrado em contrapartes centrais, que atuam como intermediários entre compradores e vendedores, reduzindo assim o risco sistêmico.

No Brasil

No Brasil, o mercado de CDS ainda está se desenvolvendo e é relativamente pequeno quando comparado ao mercado global. Entretanto, ele desempenha um papel crucial na avaliação do risco-país e na percepção de crédito do Brasil no cenário internacional.

Os CDS brasileiros são frequentemente analisados por investidores estrangeiros como uma medida da confiança na capacidade do país de honrar suas obrigações de dívida.

O mercado brasileiro de CDS é influenciado por diversos fatores internos, como a situação econômica do país, políticas fiscais, políticas monetárias e estabilidade política. Além disso, fatores externos, como mudanças nas taxas de juros globais e na liquidez do mercado financeiro internacional, também afetam o preço dos CDS brasileiros.

Os CDS no Brasil são utilizados principalmente por investidores institucionais e bancos como uma forma de proteção contra o risco de crédito. No entanto, devido à natureza regulatória e ao ambiente econômico, o mercado local de CDS não é tão líquido quanto o mercado global, e o acesso pode ser limitado para certos tipos de investidores.

Como utilizar o CDS para calcular a Taxa Livre de Risco

A utilização do Credit Default Swap (CDS) para calcular a taxa livre de risco é uma abordagem indireta e se baseia na ideia de que o custo de se proteger contra o risco de default pode ser usado para inferir a taxa livre de risco.

Vamos imaginar que você esteja fazendo um valuation para uma empresa brasileira e queira encontrar a Taxa Livre de Risco a ser utilizada. Nós podemos calcular essa taxa de 3 formas.

Para o primeiro caso utilizaremos a taxa livre de risco em dólares e a converteremos para reais. A primeira equação é a seguinte:

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Agora, para a conversão utilizaremos a seguinte equação:

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Os dados para as TBonds americanas podemos encontrar neste link. Para o CDS você pode utilizar o seguinte link. Lembrando que este artigo foi produzido no dia 26/03/2024, então o ideal é você utilizar os dados no dia que está calculando.

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Agora, para os dados das inflações esperadas você pode encontrar nos seguintes links: inflação brasileira e inflação americana.

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Agora calculando a Taxa Livre Real chegamos a um valor de 6,43%.

A segunda forma de calcular é mais simples e consiste apenas em pegar o título brasileiro de prazo mais longo e subtrair pelo CDS para o Brasil.

Esse cálculo é mais simples e nos dá um valor de 8,62% para a nossa Taxa Livre de Risco.

Por fim, a terceira forma de calcular é mais complicada, pois os dados não estão facilmente disponível na internet. A equação é a seguinte:

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Onde TL é Taxa Livre e TBR é Título Brasileiro. A questão nesse caso é que encontrar esse Retorno do Título Brasileiro gratuitamente não é uma tarefa simples. Mas podemos se contentar com os 2 primeiros métodos que vão atender a nossa necessidade.

Agora, qual dos dois métodos utilizar vai depender do quão propenso ao risco você está.

Finalmente, agora devemos converter essa Taxa Livre de Risco para termos reais. Afinal, o valor que encontramos foi em termos nominal. Para isso basta utilizamos a seguinte equação:

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Assim encontramos nossa Taxa Livre de Risco utilizando o CDS.

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