Diário de Omaha

A Tempestade Chinesa - Diário de Omaha 55

15min de leitura

Gabriel Lacombe

Gabriel Lacombe

Analista de Varejo

Quem Não Tem Colírio Usa Óculos Escuros

Por Saulo Pereira

Imagine você indo pegar uma praia com seus amigos em um dia ensolarado. Você leva seus óculos escuros da Ray Ban e um dos seus amigos leva um óculos da Oakley. Em determinado momento vocês estão conversando sobre qual dessas marcas é a melhor. Do nada, chega um outro amigo que interrompe a conversa e diz que ambas são controladas pela mesma empresa.

Vocês olham pra ele com cara de “como assim?!”

Pois é! Tanto a Ray Ban quanto a Oakley fazem parte do mesmo grupo. Grupo, que também controla as Óticas Carol e as lentes Transitions. A Luxottica é a empresa responsável por grande parte do mercado de óculos no mundo. A empresa é muito influente nesse ramo, sendo responsável pelo design dos óculos, passando pela fabricação e distribuição até as lojas do varejo. Ela está presente em todas as cadeias do ramo.

A Luxottica surgiu em 1961, em uma pequena cidade na Itália chamada Agordo, fundada pelo jovem Leonardo Del Vecchio. Inicialmente, a empresa era apenas uma pequena oficina que fabricava componentes de óculos pra outras empresas. Após 10 anos, a Luxottica contava apenas com 9 funcionários.

Quando eles decidiram expandir seus negócios, passaram a produzir óculos, além de continuar produzindo seus componentes. Em 1971, eles produziram seus primeiros óculos. Nesse mesmo ano aconteceu a principal feira ótica, em Milão. Leonardo decidiu levar a Luxottica e seus produtos pra este evento e foi um completo sucesso.

Após isso, suas vendas começaram a decolar e muitos clientes de todo o mundo queriam comprar seus óculos. A maioria eram empresas atacadistas e distribuidoras independentes. Tudo estava indo muito bem, mas alguns clientes passaram a comprar menos óculos que no período anterior. Isso deixou Leonardo em alerta e ele tomou uma decisão que foi responsável por tornar a Luxottica a principal empresa do ramo.

O Luxottica decidiu comprar alguns distribuidores, pra que pudesse ter uma visão geral do negócio. A empresa sempre teve como objetivo oferecer o melhor produto para os seus clientes finais.  Para fazer isso seria  necessário que a empresa  tivesse um contato próximo com eles. Neste processo,  conhecido como Integração Vertical, uma mesma empresa é responsável desde a matéria prima, passando pela fabricação do produto até chegar na distribuição e comercialização.

Em 1981, a empresa começou o seu processo de internacionalização, abrindo uma subsidiária na Alemanha, e estreou nos EUA com a aquisição da Avant-Garde Optics. No final dessa mesma década, os óculos estavam deixando de ser apenas um acessório de correção de visão para se tornar um item de moda. A Luxottica obviamente percebeu isso e fez um acordo com o grande Giorgio Armani, pra começarem a produção de novos modelos de óculos.

A partir da década de 1990, a Luxottica adotou uma outra estratégia pra acelerar o seu crescimento: licenciamento de produtos de outras grandes marcas e aquisição de novas marcas. Pra você ter ideia, são mais de 20 marcas que a Luxottica licenciou.

Duas marcas bem famosas merecem destaque: a Ray Ban e a Oakley. Quando a Ray Ban foi comprada seus óculos eram bastante populares e custavam menos de $40. A Luxottica decidiu retirar todos esses óculos do mercado pra repaginar a marca. Quatro  anos depois eles foram relançados por  centenas de dólares. A Oakley foi comprada em 2007, por incríveis $2,1 bilhões de dólares. Na época ela era considerada a principal rival da Luxottica, então eles decidiram comprar sua concorrente.

A empresa chegou ao Brasil recentemente, em 2011, quando comprou o grupo brasileiro tecnol. Em 2017, ela comprou as Óticas Carol. Ao todo, a empresa investiu mais de 200 milhões de euros no Brasil pra expandir seus negócios pela região. Em todos os mais de 150 países que a Luxottica está presente seu modelo de negócio tem o mesmo sistema vertical.

Em 2018 a empresa se fundiu com a gigante francesa Essilor, então seu nome é Essilor-Luxottica. Vamos aos modelos de negócio agora.

É fundamental citar que em 2022 a empresa teve uma receita bruta de 24,5 bilhões de euros, com mais de 18 mil lojas e indústrias para a produção de seus produtos. A empresa separa seus segmentos de operações em dois: Soluções Profissionais (SP) e Produtos Diretos ao Consumidor (PDC).

As operações de SP representam todo o negócio do grupo, desde a fabricação das lentes e componentes até a venda para os serviços ópticos, sejam eles independentes ou de propriedade da Essilor-Luxottica. Basicamente é o conhecimento reunido dessas duas indústrias, com tecnologia avançada de lentes e de fabricação de óculos. Em 2022, esse segmento nas operações representou 48% do faturamento da empresa.

As operações PDC representam todas as lojas que atendem diretamente os consumidores finais do produto, como por exemplo as lojas das Óticas Carol. Esse segmento segue crescendo, sendo impulsionado principalmente pelas marcas Sunglass Hut e LensCrafters.

Além disso, a melhoria nos serviços de vendas online ajudou bastante este segmento a crescer. Eles implementaram processos mais rápidos , como realizar a compra online e retirar na loja no mesmo dia. Em 2022, a Receita de PDC representou 52% do total da empresa.

Em 2022, a divisão da receita por região foi a seguinte: a América do Norte representou 46,9%, EMEA (Europa, Oriente Médio e África) com 35,7%, Ásia-Pacífico com 11,6% e a América Latina com 5,8%. Desde quando a empresa entrou no mercado na América do Norte com os EUA, esta virou a principal região de vendas da empresa.

Para o futuro, a empresa planeja continuar buscando adquirir novos negócios e continuar aperfeiçoando seus produtos. Em 2016 a Oakley fez uma parceria com a Intel para o desenvolvimento de óculos inteligentes pra ciclistas. Além disso, a Ray-Ban e a Meta lançaram novos óculos inteligentes. A ideia é que esses óculos possam ser o primeiro passo para o projeto metaverso da Meta funcionar.

Além de tudo isso, existe um gatilho bem interessante pra Essilor-Luxottica. Um estudo de 2016 concluiu que cerca de metade da população mundial terá que usar óculos. Pra efeito de comparação, em 2010 esse número era de cerca de 28%. O estudo ainda indica que a situação é mais acentuada nas regiões do leste asiático e da Ásia Pacífico, onde cerca de 2/3 da população vai precisar usar óculos. Existe um mercado bem grande para atacar.

Apesar do futuro sempre ser desafiador pra qualquer empresa, podemos ter certeza de uma coisa: em praticamente qualquer praia do mundo vamos achar alguém de Ray-Ban.

A Tempestade Chinesa

Por Gabriel Lacombe

A presença de marketplaces estrangeiros no Brasil não é novidade pra ninguém. O Mercado Livre, por exemplo, nasceu em 1999 na Argentina e no mesmo ano já abriu as portas no Brasil.

Acontece que a presença desses marketplaces nunca foi uma grande ameaça para empresas como Renner, Guararapes, C&A e Marisa, afinal, as roupas que você encontra nesses sites estrangeiros não tem nada de muito especial. Elas ficam numa faixa de preço parecida e muitas vezes tem qualidade duvidosa, podendo ser até falsificadas.

Dessa forma, o mais seguro era seguir atualizando o guarda-roupa nas varejistas de moda tradicionais.

Agora novos marketplaces vindos do outro lado do mundo, mais especificamente da Ásia, começaram aparecer por aqui. Eles oferecem diversos produtos a preços bem competitivos, inclusive roupas.

A princípio, eles não eram muito bem vistos. Os sites não são lá muito agradáveis. São bagunçados e chovem pop-ups na cara de quem os visita. Além disso, os pedidos podem demorar mais de um mês para chegar. Acontece que, mesmo assim, eles começaram a atrair cada vez mais clientes por conta dos seus baixíssimos preços, qualidade relativamente boa e que caíram no gosto das blogueirinhas brasileiras.

Mas agora, se compararmos com as varejistas de moda, esses marketplaces, quando se trata de acessos, já superaram e muito as varejistas daqui. Tudo bem, elas vendem diversos produtos além de roupas, mas, se olharmos para a Shein, que é especializada em vestuário, vemos que ela já ultrapassou a Lojas Renner em 3x na quantidade de acessos sendo que ela é a líder do setor.

Esses sites internacionais, que são conhecidos como cross-border (ou seja, vendem em um país e entregam no outro), faturaram R$ 36,2 bilhões em 2021, o que representou 17% do comércio online brasileiro.

Os varejistas asiáticos estão se aproveitando de uma brecha que autoriza a pessoa física a enviar bens estrangeiros a outra pessoa física no Brasil sem pagar impostos, desde que a mercadoria custe menos do que o equivalente a US$ 50.

Acontece que os vendedores falsificam o valor dessas vendas na hora de mandar pra cá. Basicamente, se você comprar algo de US$ 60 dólares na Aliexpress, o vendedor vai falsificar o valor quando enviar para cá e o produto não vai ser taxado quando chegar aqui.

A festa não para por aí. Esses vendedores também não pagam ICMS, PIS e Cofins. Ainda tem o fator das condições de trabalho que são impostas aos funcionários que produzem essas mercadorias, que não são lá muito amigáveis. Assim, o custo de mão de obra diminui bastante. Eis o resultado:

Claro que muita coisa é falsa. Não há chances desse Air Jordan ser original. De qualquer forma, dá uma olhada nos comentários:

Está em trânsito uma MP que sugere a alteração da forma com a qual essas plataformas pagam impostos. Nela, a taxação aconteceria no momento em que as compras são feitas e não no momento em que chegam no país, como acontece hoje. Isso acabaria com a questão dos espertinhos que falsificam o preço dos produtos pra não arcar com a taxação sobre valores superiores a US$ 50.

Mas, mesmo que a MP seja aprovada, já tem gente que está dando um jeito de continuar competindo com força por aqui. A Shein, por exemplo, vem  se preparando para por os pés definitivamente no Brasil.

Primeiro, ela contratou Felipe Feistler, ex-diretor da Shoppe, para ser gerente geral da operação aqui no país. Depois disso, ela continuou com as contratações e começou a ir atrás de fornecedores nacionais. A ideia é começar a produzir no Brasil. Enquanto isso, ela já vem testando algumas lojas temporárias em pontos estratégicos.

Caso a Shein consiga se estabelecer, ela pode trazer belas dores de cabeça para varejistas como a Lojas Renner. Se ela mantiver esses preços baixos produzindo aqui no país, pode ser que ela conquiste uma bela fatia do market-share. Em 2022, a Shein já faturou R$ 2,1 bilhões.

Será que as varejistas de moda vão conseguir se proteger dessa tempestade chinesa que se aproxima? Bem, temos a resposta para os casos da Lojas Renner (LREN3), C&A (CEAB3), Riachuelo (GUAR3) entre outras lá no VBOX! Acho bom se preparar!

😎Fala Dudu!

Sua carta sátira semanal do gestor do primeiro hedge fund de Niterói

Por @dudufromniteroi

Primeiramente, e com todo respeito, é um absurdo que o estagiário tenha vazado minha foto durante as férias de primavera do ano passado. Medidas serão tomadas pois não saí no meu melhor ângulo (segundo um match no Tinder).

Agora sim. Alô, meus sobrinhos!! Titio Dudu de Niterói na área pra alegrar o seu dia. Lembrando que hoje é o dia internacional da Astrologia, então queria mandar um beijo para toda a minha equipe de research da Nikiti Asset Management (e para os grafistas).

Bora pras notícias de ontem?

O Ferrolho Suíço - Os bancos são como fadas: eles só existem se você acreditar que eles existem. Se você parar de acreditar, ele perde o poder e vai se apagando até morrer (assim como a Sininho/Tinker Bell).

Existe um grupo chamado G-SIB. Sigla para Global Systematically Important Banks (Bancos Globais Sistemicamente Importantes) ou God Salvation Insurance for Banks (Seguro de Salvação de Deus para Bancos). O sentido é o mesmo e é basicamente um grupo de bancos grandes, nos  quais você não pode deixar de acreditar. É tipo a sociedade das fadas.

Bem, semana passada, o Credit Suisse, um dos principais bancos suíços, soltou seu relatório anual e disse que achou “fragilidades materiais”. Só nessa frase, metade do mundo já deixou de acreditar em Credit Suisse. Enfim, com um resultado fraco, com o principal acionista não querendo aumentar capital, o banco corria risco de se apagar e morrer. Como ele é grande demais para morrer (já que isso ameaçaria toda a sociedade das fadas e a magia do mundo), a semana foi de trabalhos por uma solução.

Até que enfim acharam. O Credit Suisse foi comprado pelo seu rival suíço UBS por US$ 3,2 bilhões, mais umas assunções de dívidas e ajuda do governo suíço. Basicamente, o UBS pagou pra corrigir a cagada do Credit Suisse, que agora encerrou uma história de mais de 160 anos.

O Nosso Amor na Última Astronave - Na semana passada, o coronel Barreto, ex-comandante da PM, que estava na ativa no dia da invasão ao Planalto em janeiro, depôs na CPI que investiga esse BO da invasão.

Na CPI, ele meteu as seguintes aspas:

“Teve um que me abordou e falou para mim que ele era um extraterrestre, que ele estava ali infiltrado e que assim que o Exército tomasse, os extraterrestres iriam ajudar o Exército a tomar o poder”

Pra vocês verem o quanto o Brasil é ATRASADO. Enquanto que nos EUA, um país de primeiro mundo, os ETs já fazem parte do governo, aqui no Brasil eles não conseguem nem um cargo comissionado em Santa Catarina. É preciso discutir seriamente a precarização do ET no Brasil.

Eles não contavam com minha astúcia - Semana passada, a troco de nada, o Conselho Nacional da Previdência Social (CNPS) determinou que o teto da taxa de juros do crédito consignado, o ópio da renda estável, fosse reduzida de 2,14% para 1,7% para os beneficiários do INSS.

A ideia do Ministério da Previdência era lógica: baixei o teto, os bancos baixarão as taxas e o dia foi salvo mais uma vez graças ao governo. O problema é que, como 1,7% é economicamente inviável, os bancos simplesmente pararam de oferecer consignado. Até porque fazer nada é melhor que tomar preju.

Isso gerou um ruído no mundinho Brasília. Vamos acompanhando pra ver o desenrolar da história.

E foi isso, galerinha! Se cuidem e, se você estiver na França, não se esqueça que é temporada anual de tacarem fogo nos carros. Um espetáculo antropológico.

Beijos do tio.

⏳ Atemporalidades

Leia agora, leve pra vida.

  • “Nada é mais forte que o hábito” - Ovídio, poeta romano que nasceu nesta mesma semana (20 de março), só que há mais de 2 mil anos atrás;
  • “Vencer é o que importa. O resto é a consequência”
    • Ayrton Senna, que hoje completaria 63 anos;
  • “É você que ama o passado e não vê que o novo sempre vem”
    • Trecho da música “Como Nossos Pais” que, apesar de ter sido escrita por Belchior, foi eternizada na voz de Elis Regina, que faria 78 anos nesta semana que passou.

Por hoje é só pessoal 🤙

Bebam café, se hidratem e não façam contatos imediatos de 3º grau!

Boa semana e bons negócios!

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