Diário de Omaha

Barbenheimer é real - Diário de Omaha 73

18min de leitura

Gabriel Boente

Gabriel Boente

Analista de Agronegócio

Barbenheimer é real

Por Gabriel Boente

O Diário de hoje vai ter tons de rosa e uma explosão sem efeitos especiais.

Na semana passada tivemos a estreia dos grandes filmes do ano: Barbie (dirigido por Greta Gerwig) e Oppenheimer (dirigido por Christopher Nolan). O primeiro é uma aventura surreal da gloriosa boneca loira de corpo humanamente impossível. Enquanto o segundo é um drama biográfico sobre o "pai da bomba atômica" que "deu poder aos homens de destruírem a si mesmos".

Esses dois filmes não são opostos (pois isso implica uma correlação -1). Eles realmente não tem nada a ver um com outro, além do fato de terem estreado no mesmo final de semana. Contudo, surgiu na internet (principalmente no Twitter), o meme "Barbenheimer". Basicamente, é a expressão para o rolé onde o cidadão foi assistir os dois filmes no mesmo dia. A piada é justamente por serem completamente diferentes.

imagem meme Barbenheimer

Porém, o que começou como meme acabou se tornando realidade. De acordo com uma matéria da Bloomberg, existem evidências fortíssimas ao redor do mundo de que as pessoas realmente foram ver os dois filmes no mesmo dia (incluindo o autor deste texto).

A maior rede de cinema mundial, AMC Entertainment, informou que mais de 20 mil membros do programa de fidelidade reservaram os dois filmes no mesmo dia. Na rede de cinemas britânica Vue, praticamente 1 a cada 5 pessoas que comprou ingresso para ver Oppenheimer também comprou ingresso para Barbie. Aliás, a mesma Vue informou que os dois filmes levaram cerca de meio milhão de pessoas aos cinemas, tendo o fim de semana mais movimentado em 4 anos (ou seja, desde a pandemia).

Apesar dos dois filmes levarem muitas pessoas às salas de cinema novamente, a expectativa era de que Barbie atraísse mais público. O motivo era tanto pelo apelo da boneca da Mattel (NASDAQ: MAT) quanto pela classificação indicativa que no Brasil é 12 anos, enquanto Oppenheimer é 18.

A expectativa acabou se confirmando, já que o filme, que acabou com a cor rosa no mundo real, arrecadou mais de US$ 775 milhões desde a sua estreia no dia 21/07. Como dizem em Hollywood, para um filme "dar lucro" ele precisa arrecadar 3 vezes seu orçamento, então tudo indica que os US$ 145 milhões usados para fazer a Barbie já se pagaram. Aliás, ele também já se tornou a maior bilheteria de estreia de um filme dirigido por uma mulher.

Claro, o filme é muito bom e bem feito. Mas nada neste mundo é por acaso, ainda mais quando se trata de um ícone da mídia, como a boneca mais famosa do mundo. Na verdade, "mídia" é a palavra-chave e a origem do "Barbenheimer".

Desde o início do anúncio do filme, o engajamento na internet acabou sendo bem orgânico. Muito pouco da história do filme foi revelado. Assim, as pessoas tinham que se contentar com imagens de bastidores de Margot Robbie (que faz a Barbie estereotípica) e Ryan Gosling (que faz apenas o Ken). Aliás, os atores quando apareciam para divulgar o filme, sempre usavam o tom de rosa e a tipografia característica da marca da boneca. Os outdoors pelo mundo também foram na mesma linha.

imagem de outdoor rosa

(Quem, num mundo capitalista, não reconheceria essa identidade visual, não é mesmo?)

Por fim, a Warner lançou o "Barbie Selfie Generator", um site que permite gerar posts automáticos com a mesma arte do poster do filme. Testamos, e o analista Pedro Ávila aprovou o resultado.

imagem do analista pedro ávila na selfie da barbie

Esses esforços acabaram por lançar a "Barbiemania" (ou "Barbiecore"). De forma bem natural rolou uma enxurrada de memes (incluindo Barbenheimer), várias pessoas usando o filtro do pôster, todo mundo combinando de usar rosa na estreia do filme (incluindo o autor do texto).

Obviamente que as marcas não poderiam perder a festa do marketing orgânico. O Airbnb lançou a casa dos sonhos da Barbie para alugar em Malibu, na Califórnia. A marca de patins Impala lançou os patins da Barbie que aparecem no filme. Uma loja do Burger King em São Paulo ganhou uma decoração totalmente de acordo com o filme, além da franquia ter lançado um combo especial, com direito a hambúrguer com molho cor de rosa (ok, já foi um pouco longe demais). E claro, estamos falando de produtos oficiais! Pelo mundo, vários produtos não licenciados também explodiram, como uma pizza rosa com o rosto da protagonista na caixa.

Na esteira do sucesso, Oppenheimer também não fez feio. O filme de Nolan já arrecadou mais de US$ 400 milhões e já é um dos maiores filmes do diretor (ênfase no maior ao invés de melhor). Obviamente que o nome do diretor é forte por si só para atrair um bom público, mas o empurrão rosa-choque fez uma boa diferença.

No fim das contas, estamos falando de dois excelentes filmes, com excelentes elencos. Certamente o case de Barbie vai entrar para a literatura das escolas de negócios pois é um dos primeiros grandes movimentos de marketing pós pandemia. E estamos falando de uma marca de brinquedos!

Aliás, a busca pelos brinquedos da Barbie também explodiu com a estreia do filme, o que fez as ações da Mattel subirem cerca de 20% desde o debut nas telonas. O sucesso de marketing é tão grande que já tem o papo de que a Mattel pretende lançar filmes de todos os seus outros brinquedos licenciados, como He-Man e Polly Pocket (que é a Barbie inimiga do Inmetro). Será que isso pode se tornar um gatilho para a Mattel, já que ela (teoricamente) cede a marca e se beneficia?

A análise dos gatilhos de uma empresa é muito importante e extremamente dinâmica. Saber o que pode influenciar positivamente o resultado de uma empresa, mesmo que não esteja dentro do valuation, envolve bastante percepção e um entendimento do negócio. Ainda não olhamos a Mattel, mas todas as empresas que analisamos no VBOX têm alguns dos seus gatilhos (e abacaxis) à mostra para você entender bem o que pode acontecer.

Anexo: o autor do texto, de férias, entre a sessão de Barbie e Oppenheimer. Nem a Coca-Cola nem o Cinemark me pagaram para aparecer na imagem.

imagem do analista gabriel boente antes da sessão de Barbenheimer

Surgimento da Moeda

Por Felipe Fecha

Hoje, a transação por meio de moedas é algo muito comum, feita por quase todo mundo. A sua utilização se tornou essencial como água e comida, mas nem sempre foi assim. Pra entender o funcionamento do dinheiro, vamos voltar no tempo e ver como ele surgiu e se desenvolveu.

O dinheiro é um mecanismo que permite a um pedreiro comprar carne sem ter que consertar a casa do açougueiro. Para tal, o dinheiro deve ser algo que todos queiram e não pode ser abundante. Caso contrário, não teria valor.

Com base nisso, a comida foi a primeira coisa a servir como "dinheiro". Ela não é fácil de ser produzida e todo mundo precisa comer. Isso já acontecia antes mesmo do surgimento do ser humano, quando os chimpanzés dividiam o resultado das caçadas com as fêmeas, para tentar conquistar uma parceira (tem coisas que nunca mudam, não é mesmo?).

Porém, com o desenvolvimento da economia e agricultura, surgiu um problema nesta forma de comércio. Como podemos imaginar, andar carregando sacos de comida para trocar por outros produtos não é algo muito prático. Era preciso que o dinheiro, além de ser raro e desejado, fosse menor e durável.

O sal preenchia todos esses requisitos. Sua demanda era garantida, porque em um mundo sem geladeira, quem mandava na conservação de alimentos era o sal. Ele também não era abundante, já que tinha processos de extração complexos. Além disso, era superior aos alimentos por não estragar e ser fácil de carregar. Essa escolha fez tanto sucesso que até hoje nós usamos uma palavra que veio da época: o salário (veio de "salarium"). Nos tempos antigos, o salário era a remuneração que os legionários romanos recebiam na forma de sal.

imagem de moeda com sal

Além do sal, muitas regiões começaram a usar metais preciosos como moeda. Algumas moedas levam até hoje nomes que remetem à elas. Por exemplo, a palavra "libra" significa 450 gramas. Já "esterlina", é um adjetivo para o grau de pureza da prata. Uma Libra Esterlina valia literalmente 450g de prata.

Pra usar metais preciosos como dinheiro, era necessário ter uma balança pra quantificar o produto, o que dificultava bastante o comércio. Com alimentos isso não dava tanto problema, já que 50 gramas de carne a mais ou a menos não fazia tanta diferença na época. Agora, 50 gramas a menos de ouro puro já era outra história. Um problema também comum eram as trapaças, ou seja, quando se tentava misturar outros materiais junto aos metais preciosos para aumentar o seu peso. Existem até mesmo algumas passagens na Bíblia que condenam essas trapaças na hora da transação.

imagem de um trecho da biblia

Quem conseguiu resolver esse problema da medição foi a Lídia, uma cidade-Estado(não uma pessoa), que fica na atual Turquia . Por volta de 600 a.C, o governo resolveu fundir metais preciosos na forma de pepita, com peso e grau de pureza determinados. Também imprimiu uma gravura em cada uma das peças, como um selo de autenticidade. Essas foram as moedas mais antigas que os arqueólogos encontraram até hoje. Depois disso, várias cidades-Estado copiaram a solução da Lídia e fizeram seu próprio dinheiro.

Essa solução facilitou, e muito, os negócios. Com uma moeda corrente controlada pelo governo, as pessoas passaram a ter mais confiança nas negociações, sem necessidade de balanças e com menos risco de adulteração.

Quanto mais negócios feitos, mais ricas as nações se tornaram. A ideia foi tão boa que compramos e vendemos produtos de forma semelhante até hoje, quase três milênios depois. Porém, com grandes soluções também chegaram novos problemas.

Só que isso é assunto para um outro Diário de Omaha!

OBS: Esse trecho é um compilado de histórias do livro "*Crash: Uma breve história da economia" de Alexandre Versignassi.*

À espera de um milagre

Por Saulo Pereira

Se você acompanha os noticiários provavelmente já deve ter notado que a Argentina está vivendo uma das piores crises da sua história. A inflação dos nossos hermanos já está em 115% e não há sinais de que ela possa cair tão cedo.

Além disso, cerca de 40% dos argentinos vivem abaixo da linha da pobreza. A situação na Argentina poderia ser muito pior caso eles não tivessem vencido a Copa do Mundo de 2022 (aviso: ironia).

Mas há pessoas que acreditam que ainda não é o fim da Argentina. A esperança vem do fato de que no dia 13 de agosto acontecerão as eleições primárias para presidente. Nesse momento os partidos escolhem os seus candidatos para concorrerem às eleições oficiais, com base na opinião pública.

A eleição é um respiro em meio a um vendaval que assola o país que já teve uma das populações mais ricas do mundo. Para saber como eles chegaram até o fundo do poço, precisamos entender o que aconteceu com a sua economia no último século (spoiler: é uma verdadeira aula de destruição).

Entre os anos de 1870 e 1930, a situação era completamente diferente, pois o país crescia bastante e de forma saudável. A situação era muito confortável e o PIB per capita foi por muitas décadas maior do que o de países como a Alemanha. O principal setor de exportação do país era o agrícola, como carne bovina, trigo e lã.

Existia até uma frase popular na Europa: "rico como um argentino". E, acreditem ou não, vejam esta definição de "Argentina" em um dicionário dos anos 1910.

imagem do trecho de um dicionario das anos 1910 onde acreditava-se que a argentina um dia iria competir economicamente com os eua

Pois é! Na época existiam pessoas que acreditavam que a Argentina poderiae dar certo. Apesar disso, havia um grande problema: a pouca industrialização do país.

Sua economia era majoritariamente dependente da agricultura. Diferentemente dos EUA, que adotaram o Homestead Act para não concentrar as terras nas mãos de poucas pessoas e a economia dependente de um único setor, a Argentina distribuiu para poucos e dificultou o direito às terras.

Isso acabou estimulando uma baixa produtividade no longo prazo e contribuiu para a grande concentração de riqueza que existia na época. Os argentinoss não tinham liberdade para produzir o que quisessem e onde quisessem sem a autorização do Estado.

Isso desencadeou uma série de eventos que duram até hoje. O preço do trigo e da lã (dois dos seus principais produtos) caiu e nunca mais se recuperou. Ao todo, esses produtos perderam quase 80% do seu valor em 100 anos.

Em 1930, a Argentina passou pelo primeiro golpe militar. O ditador da vez era José Uriburu. Apesar de ter durado apenas 2 anos, seu governo foi um dos responsáveis pelo declínio da economia argentina.

compilado de imagem das ditaduras na argentina

Esse período foi conhecido como Década Infame. Aconteciam eleições fraudulentas, repressão policial, prisões e tudo que há de ruim em um regime autoritário. Foi no meio disso tudo que Juan Domingo Perón surgiu para "salvar" o povo Argentino.

Pra efeito de comparação, Perón está para a Argentina assim como Vargas está para o Brasil. O governo de Perón foi marcado por diversas políticas de subsídios e de bem-estar social.

Mas o governo ainda não tinha responsabilidade com sua economia e se via na necessidade de imprimir mais e mais dinheiro para poder arcar com os seus compromissos. Até aí "tudo bem".

Em 1975, a Argentina fez um grande ajuste econômico apelidado de "el rodrigazo". Esse plano foi a "mãe de todas as crises". Um desastre total!

O pacote gerou aumentos de 175% nos combustíveis, entre outros efeitos. O plano foi um fracasso, já que em seis meses a inflação aumentou 183%. A partir dali, a economia começou a afundar e o país perdeu o título de "o paraíso da classe média" na América do Sul.

Diante disso, a população comprou dólares para ter estabilidade e proteção financeira (cenas comuns até hoje).

Em 1976 houve um outro golpe militar e dessa vez o governo enterrou a economia argentina de vez (foi tipo um fatality do jogo de luta Mortal Kombat). A dívida pública saiu dos US$ 8 bilhões para incríveis US$ 45 bilhões em apenas 8 anos. A pobreza aumentou de 5% para 20% e a moeda argentina segue mudando com bastante frequência.

Nessa época, a Argentina começou a dolarizar sua economia fixando 1 peso argentino para 1 dólar. Inicialmente o plano deu certo. Mas no longo prazo deixou a economia do país dependente do ambiente externo e sem muita flexibilidade no controle da moeda. O resultado foi uma Argentina com alta fragilidade econômica, cenário que dura até hoje.

Toda essa fragilidade fez os argentinos buscarem outras formas de proteger seus patrimônios, fosse recorrendo ao dólar ou a outra moeda mais forte. Pela lei da oferta e demanda, quando a demanda por algo aumenta, o seu preço também tende a aumentar, para chegar a um novo ponto de equilíbrio. Foi isso o que aconteceu com o dólar.

O governo foi obrigado a estabelecer restrições às moedas estrangeiras, o que levou os argentinos a recorrerem ao mercado ilegal (ou paralelo) de dólares. Isso fragilizou ainda mais todo o sistema financeiro do país e provou ser um verdadeiro caos nos últimos 10 anos. Hoje é comum vermos nos noticiários vendedores nas ruas de Buenos Aires aceitando dólar e recusando o peso argentino por parte dos estrangeiros. A situação é tão crítica por lá que até a Casa da Moeda do Brasil está prestando serviços para o governo argentino imprimindo moedas.

Essa crítica situação econômica aumenta o risco-país dos nossos hermanos. Por falar neste risco, se tem algo que a Argentina é campeã em fazer é entrar em default. Nos últimos 40 anos eles suspenderam 5 vezes o pagamento da sua dívida externa (essa é uma forma bonita de falar que o país deu um calote). O que já é ruim para a imagem externa do país, acaba piorando com a própria vice-presidente (que também é ex-presidente) defendendo o não pagamento das obrigações financeiras.

O país se encontra nesta situação de calote não por causa de um político específico ou um partido, mas sim por uma série de projetos fracassados e decisões irresponsáveis dos governos do último século. E a história insiste em se repetir.

No próximo dia 13/08, os argentinos irão às urnas para decidir quem serão os candidatos das eleições de outubro. A esperança se renova em momentos assim, bem como os populistas "salvadores" da pátria. Será que dessa vez nossos hermanos vão conseguir eleger um projeto sério e sustentável para o comando da Casa Rosada? Torcemos para que sim! Vamos acompanhar.

😎Fala Dudu!

Sua carta sátira semanal do gestor do primeiro hedge fund de Niterói

Prezados, bom dia.

Informo que o senhor Edusvaldo Roberto está em sua última semana de recesso, sem contato nenhum com o mundo exterior.

A coluna semanal retornará no mês que vem, em agosto.

Atenciosamente,

Ronaldo Dias CPA-20, estagiário.

Sommelier

Consumimos de tudo. Trazemos o que importa

Vídeos

E como se já não tivéssemos falado o suficiente sobre a Barbie, será quanto que vale a franquia da boneca?

E como se já não tivéssemos falado o suficiente sobre a Barbie, será quanto que vale a franquia da boneca?

A boneca é produzida pela Mattel, empresa listada na NASDAQ. A partir dos balanços publicados pela companhia, nosso analista, Thiago, projetou o valor da franquia como um todo independente da empresa.

Quanto será que vale a Barbie?

imagem de capa do video do canal do analista thiago duarte

⏳Atemporalidades

Leia agora, leve pra vida.

"Viver de esperança torna as pessoas passivas. Para transformar a esperança em realidade é preciso usar forças, mobilizar-se" — Ignácio de Loyola Brandão

"Pensar é o trabalho mais difícil que existe. Talvez por isso tão poucos se dediquem a ele" — Henry Ford

"Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro" — Mário Quintana

Por hoje é só pessoal.

Bebam café, se hidratem e não esperem milagres!

Boa semana e bons negócios!

Tem alguma dúvida, crítica ou sugestão pro Diário? É só responder esse e-mail ou mandar uma mensagem no Twitter pros nossos editores @guilhermevcz, @thiagomd_1 e @gabeboente.

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