Diário de Omaha

O que é tão ruim quanto uma inflação alta? - Diário de Omaha 70

10min de leitura

Guilherme Cruz

Guilherme Cruz

Analista de Indústria

O que é tão ruim quanto uma inflação alta?

Por Thiago Duarte

Se você respondeu deflação persistente, acertou!

Em um primeiro momento pode até parecer que a queda generalizada de preços de produtos e serviços é benéfica. Mas a gente precisa deixar esse primeiro momento de lado e pensar adiante. Da mesma forma que Lion-O no desenho da década de 80, Thundercats, é preciso uma visão além do alcance para entender o que a deflação pode causar à economia de um país.

Deixando o trocadilho horrível para trás, o primeiro sinal clínico é uma demanda reprimida. Quando as pessoas esperam que os preços caiam ainda mais, elas adiam suas compras, o que pode levar a uma redução na produção e nas ofertas de emprego. Isso cria um ciclo deflacionário, no qual a redução da demanda leva a mais quedas nos preços, diminuindo ainda mais a demanda. Este ciclo pode acabar criando um cenário deflacionário persistente.

Por sua vez, este cenário pode causar um impacto negativo sobre os investimentos. Quando os preços estão em queda, as empresas podem esperar que seus lucros diminuam, levando a uma possível redução no investimento em novos projetos, inovação e expansão, o que prejudicaria  o crescimento econômico a longo prazo, prejudicando os salários.

pessoa no super mercado

Uma eventual redução nos salários pode levar a uma queda no poder de compra dos consumidores e a uma menor demanda agregada, o que dá ainda mais força ao ciclo e sobrevida ao cenário.

Por fim, nem o governo escapa. Um cenário deflacionário persistente tem impacto na dívida pública. Se você tem uma dívida fixa em termos nominais, mas os preços estão caindo, o valor real da dívida aumenta. E isso não serve para a dívida pública apenas, mas também para indivíduos e empresas, pois o pagamento da dívida se torna mais difícil e pode levar a inadimplências e insolvências.

É só pensar que ao contrário de um cenário inflacionário, no qual o dinheiro é abundante e por isso passa a valer menos, em um cenário deflacionário o dinheiro é escasso, por isso, passa a valer mais.

O Japão vem sofrendo com um cenário parecido com o que descrevemos acima há um tempo. Mas a bola da vez é a China.

Os dados de inflação de junho indicaram que o índice de preços do consumidor de lá (tipo o nosso IPCA) ficou em linha com o do ano passado, para o mesmo período. Mas quando junho é comparado com maio de 2023, há deflação de 0,2%.

É a segunda vez que o índice toca o 0%, desde a pandemia.

grafico mostrando inflacao na china

O índice de inflação ao produtor chinês também vem caindo. Ele registrou uma deflação de 5,4% na comparação anual, mas se comparado com maio (que também registrou deflação de 4,6%), dá para identificar ligeira aceleração no processo deflacionário.

No geral, o que se espera para a economia é um cenário de inflação baixa e controlada. Logo, é possível que para combater a deflação o governo chinês anuncie alguma medida de estímulo econômico.

Normalmente o Partido Comunista Chinês faz isso investindo em obras de infraestrutura e em produtos de ticket alto, como imóveis. Mas especula-se dessa vez que caso haja algum novo estímulo ele seja direcionado para o consumo de varejo.

No mínimo é possível que haja novo corte na taxa de juros chinesa, uma vez que o último corte feito no mês passado, de 0,1%, foi considerado tímido pelo mercado.

O cenário macroeconômico chinês naturalmente já é difícil de ler. Mas parece que atualmente essa leitura ficou ainda mais difícil, dados os efeitos da pandemia sobre o consumo, que vem se recuperando de maneira difícil desde o afrouxamento dos lockdowns.

Como passar da primeira fase no jogo de investimentos?

Por Thiago Duarte

Dessa vez o glossário vai ser diferente. Mas necessário. Afinal, o que tem de gente perdendo dinheiro por aí não é brincadeira.

Ele vai servir para traduzir alguns truques, de forma que você não se deixe levar e consiga passar na primeira fase no jogo, que é investir o próprio dinheiro sem morrer. É basicamente um guia do que você não deve fazer.

Originalmente eu postei 11 no Twitter, mas aqui vou te deixar com as 5 mais importantes:

1 - Seguir futurólogo.

Quanto mais certeza o guru tiver de um evento futuro — seja o próximo crash ou o preço de uma ação — maior a distância que você deve ter dele.

A tentação de seguir alguém que fala com certeza sobre o futuro é grande. Eu sei. A humanidade sabe. Reis tiveram adivinhos pessoais. Mas a verdade é que ninguém consegue fazer isso. Tanto é que se alguém conseguisse e tivesse certeza mesmo, esse alguém não precisaria de você para nada, nem como seguidor.

2 - Embarcar em rentabilidade alta e garantida.

Uma empresa sólida vai pagar um prêmio de 1,5% a 3% sobre o CDI para pegar seu dinheiro emprestado. Com a SELIC alta de hoje, isso dá de 14% a 17% AO ANO, aproximadamente!

Por isso, se você ouvir 2%, 3%, 10% ao mês garantidos, corra igual o diabo foge da cruz.

3 - Dar atenção a P/L passado. Ou  qualquer outro múltiplo passado.

O que importa é a saúde da empresa daqui para frente. Então esqueça o passado, a não ser que você esteja pesquisando o histórico da companhia.

Análises com base em múltiplos passados e médias históricas não falam sobre o valor da empresa, falam sobre preço. E quando a gente analisa uma empresa, a gente quer encontrar o valor dela.

E por favor, esqueça o papo de que se na média uma empresa teve P/L de 10 ele vai voltar a 10 algum dia. Isso é mito.

4 - Acreditar nos baits do Youtube: "Quanto rende a ação X?"

Ninguém sabe quanto rende uma ação ou qualquer outro ativo de renda variável. Adivinha o por quê?

Porque como o próprio nome já diz é RENDA VARIÁVEL.

No máximo o que pode ser feito é uma estimativa de rentabilidade e um desvio padrão. Mas eu nunca vi isso rolar em nenhum vídeo do Youtube.

5 - Cair na pilha do apocalipse.

O cérebro humano tem uma quedinha por paranoias. Por  isso as  redes sociais estão cheias  de profetas do apocalipse.

O próximo crash vai vir! A bolha está para estourar!

São verdadeiros agouros. Mas isso só rola para chamar sua atenção. Não seja trouxa. Ignore!

Como diria Warren Buffett: “Regra número 1: nunca perca dinheiro. Regra número 2: não esqueça a regra número 1.” Seguindo essas outras cinco regrinhas que te passei, é bem possível que você consiga colocar em prática essas duas regras do Buffett.

Quer ver as outras 6? Então clique aqui.

⏳ Atemporalidades

Leia agora, leve pra vida.

“Quanto mais fácil você fica ofendido, menos inteligente você é.” — Naval

“Os homens preferem geralmente o engano, que os tranquiliza, à incerteza, que os incomoda.” — Marquês de Maricá

Por hoje é só pessoal 🤙

Bebam café, se hidratem e tentem não ficar ofendidos com qualquer coisa.

Boa semana e bons negócios!

Tem alguma dúvida, crítica ou sugestão pro Diário? É só responder a esse e-mail, comentar aqui embaixo se você estiver vendo pelo Substack ou mandar uma mensagem no Twitter/Instagram de qualquer um dos nossos analistas!

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